Consumismo é algo inerente à sociedade atual. Logo que acordamos já estamos consumindo água, eletricidade, gás; ou seja, comodidades do dia a dia que nos são essências para sobreviver. Mas logo estamos pensando em um novo aparelho celular, um novo videogame, uma TV maior, um carro mais potente, alimentando assim as engrenagens do sistema capitalista, e é esta a mensagem que Vapormaze traz para nós em seus poluídos labirintos virtuais.
Com uma estética totalmente Vaporwave, o jogo traz um mundo de labirintos inundados pela poluição do fútil e excessivo consumismo desenfreado. Plantas plásticas, comida fast food, sofás, televisões abarrotam este local. Sem uso, elas apenas sentam ali, sem propósito ou motivo, servindo para atrapalhar o jogador em sua busca pela enigmática representação do busto de Davi aqui apresentada, que nos guia por estes corredores tecnológicos, infestados de armadilhas, robôs do sistema e lojas.
Compre, compre, compre
Vapormaze nos insere em um intricado universo de corredores e labirintos. Aqui devemos nos aventurar em busca da saída de cada nível, enquanto evitamos os bizarros robôs que nos caçam afim de evitar que fujamos deste ciclo de compras e dependência material. No jogo, estamos armados com duas armas: uma dispara balas “normais”, enquanto a outra, uma pistola de mola, serve para nocautear e afastar oponentes.
A pistola que carregamos em nossa mão direita é a que dispara balas normais, mas existe uma diferença crucial nesta arma. As balas são todas disparadas em arcos, ou seja, elas seguem o mesmo movimento de uma pistola d’água. O que é bem cômico, além de que as mesmas são bem grandes e pesadas, sendo do mesmo tamanho de um celular de flip. A munição é escassa e deve ser constantemente comprada em pacotes, sendo que inicialmente a arma pode carregar cinco balas apenas.
Assim, Vapormaze traz um interessante diálogo com o jogador e com o tema do universo do jogo. Você deseja escapar do labirinto para fugir do consumismo, mas precisa consumir cada vez mais para poder escapar. O labirinto todo está recheado do que eu carinhosamente chamo de “A E S T H E T I C Bucks”, dinheiro com o qual o jogador pode comprar munição, kit’s médicos, placas de saída e Vapetrons.
Munição e kits médicos são auto explicativos, as placas de saída servem para guiar o jogador até a saída e os Vapetrons nos guiam até lojas, aumentando assim o diálogo entre a necessidade abusiva de consumir afim de poder escapar do mesmo ciclo vicioso. Além disto, o jogador também pode comprar habilidades, e elas são extremamente necessárias caso queira aumentar suas chances de sobreviver.
One Thousand Mornings
O que eu mais gostei em Vapormaze é a sua habilidade de explorar bem os elementos do movimento Vaporwave e inseri-los de forma natural neste universo. Fazendo com que o jogador esteja sempre buscando dinheiro afim de comprar cada vez mais, traz à tona as falsas promessas do capitalismo desenfreado. Acreditem, este jogo vai exigir bastante dos jogadores, ou seja, dinheiro e compra de itens não irão garantir 100% de êxito.
A trilha sonora também é incrivelmente relevante. Trazendo uma ótima mistura de Future Funk japonês e trilhas que remetem a Floral Shope de Vektroid/MaCintosh Plus e One Thousand Mornings de Windows 96, grupo nacional. Tudo isto deixa a experiência mais rica e desfrutável para os jogadores, que podem ficar parados por um tempo, apenas relaxando com a trilha sonora e observando os tons pastéis preenchendo o cenário.
Ainda existem alguns pequenos ajustes necessários a meu ver, como a colisão com as máquinas do sistema. Algumas nos lançam metros de distância e o sistema de colisão das balas às vezes parece não computar a colisão com inimigos. Mesmo assim, Vapormaze é uma experiência visual e sonora relaxante, permitindo que o jogador deixe um pouco de lado as explosões frenéticas e gritos para trás. Isto é, nos primeiros níveis, já que com a progressão o sistema se torna ainda mais opressor e vai fazer de tudo para esmagá-lo. De qualquer forma, porquê não aproveitar o percurso até seu lançamento?