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Terror é um dos meus temas favoritos e nada me deixa mais contente do que falar sobre. Unlucky Seven, a mais nova empreitada da Puzzling Dream, responsável por The Way. O jogo traz uma vibe inspirada em uma amálgama d’O Massacre da Serra Elétrica original e algum filme sci-fi série B. Trazendo o roteiro clássico de filmes de terror onde acompanhamos um grupo clichê ficando ilhado em algum local ermo. Neste caso, o hotel Lucky Seven. Porém, mal sabem os mesmos que eles são esperados para o jantar. Literalmente. Drinks, intermezzo e sobremesa.

Seguindo um gameplay com estilo de investigação, Unlucky Seven tenta trazer um universo íntimo e aterrorizante. A cada momento nossos caçadores podem nos transformar em uma estranha e bizarra bebida alcoólica fermentada com carne. Podendo escolher entre seres antropomórficos ou humanos, em um jogo onde cada escolha pode decidir o destino de um dos sete personagens, o jogador deverá estar sempre atento ao seu redor.

Carne e álcool, uma mistura milenar

No universo de Unlucky Seven, muito do que temos como normal é subvertido. Para começarmos a raça humana já não é mais a predominante, dividindo o universo com inúmeros seres antropomórficos e máquinas. Sejam eles lobos, gatos, humanos ou andróides que preferem manter as aparências a fim de se enturmar. No jogo controlamos diversos dos personagens, sejam as vítimas ou assassinos, tendo uma visão do quadro geral.

Imagem do texto de Unlucky Seven
Cérebro de humano, uma delícia!

A história do jogo traz Elen e seus outros seis amigos que deveriam estar indo rumo a uma reunião dos Alcoólicos Anônimos. No entanto, a mesma tem outros planos, já que é seu aniversário. Utilizando a nave de Mozo – um de seus amigos e taxista intergaláticos – os mesmos se dirigem a um planeta onde poderão se hospedar no hotel de seu pai. Porém a nave vai de mal a pior e necessita de reparos urgentes, fazendo com que os mesmo se encontrem ilhados no planeta.

Não muito longe do hotel encontramos a cabana de Robert. Um crocodilo gourmet, que possui uma andróide escrava em seu porão chamada Bella. Robert e Bella apresentam um famoso programa culinário na “Dark Web”, aonde preparam deliciosos pratos utilizando partes humanas. Dando enfoque maior para drinks criados utilizando-se da matéria cinzenta daqueles que eles chamam carinhosamente de “doadores”. Cornelius, um terceiro membro deste grupo é o responsável por receber os sete visitantes no hotel e planeja transformar a estadia do grupo em algo vitalício.

Partindo desta premissa, ao entrarmos no hotel, somos recebidos e é logo possível notar as estranhezas. Seguindo o estilo clássico de filmes do gênero slasher, temos um grupo com todos esteriótipos como o atleta, o nerd, o corajoso, a festeira, etc. Com isso Robert e seu grupo logo começam a dividir e isolar os personagens e, a partir daí, cada decisão do jogador pode acabar acarretando na morte ou na sobrevivência dos membros do grupo.

Imagem do texto de Unlucky Seven
Lembranças da época de VHS.

O jogo funciona por capítulos, semelhante a uma gravação caseira ou um snuff film. Em cada capítulo somos apresentados a novos cenários e desafios, que podem levar nossos personagens ao seu destino final. Como dito anteriormente, o jogo busca inspiração em filmes de horror com uma gravação um tanto quanto não profissional. O que no caso dos filmes serve para criar uma atmosfera mais realística. Já no caso do jogo, acaba trazendo um ar de jogos da era Playstation 1/Dreamcast.

O gameplay de Unlucky Seven é focado apenas na utilização do teclado, dispensando a utilização do mouse inteiramente. Durante o jogo devemos explorar o cenário interagindo com itens e objetos a fim de cumprir os objetivos pedidos. Caso o jogador fique perdido no que fazer, é possível interagir com personagens nas áreas para de conseguir pistas ou checar a grande barra central que deixa explícito qual objeto deve ser cumprido.

O jogador pode movimentar o personagem utilizando as teclas W, A, S e D ou as setas de comando. Utilizando a tecla E, interagimos com os objetos e itens do cenário. Um dos problemas de Unlucky Seven é o constante abrir e fechar do inventário para poder utilizar itens. Além disto existem objetivos que exigem dois do mesmo item, no entanto podemos carregar apenas um item de cada no inventário o que exige um pequeno backtracking todas as vezes.

Imagem do texto de Unlucky Seven
Todo mundo pra pista de dança antes de morrer!

Não há para onde fugir em Unlucky Seven

Os gráficos de Unlucky Seven são razoavelmente atrativos. Focando em um ambiente e personagens 3D, mas ainda assim pixelizados em sua colorização, o chamado pixel perfect. O movimento dos personagens não é livre, ou seja, o jogador move as personagens por eixos, o que pode acabar tornando a movimentação, a interação e a exploração bem travadas. O fato de que a fotografia do jogo tenta imitar a de uma gravação antiga é em partes atrativa, mas em outras pode acabar se tornando algo cansativo e enfadonho.

A trilha sonora de Unlucky Seven é um ponto baixo do jogo, que já é bem problemático por si só. Os efeitos músicas em algumas cenas são praticamente inaudíveis, o som das personagens se comunicando é extremamente irritante. E, em determinados momentos, quando esperamos por algum som, recebemos silêncio. O fato de se tratar de um thriller não exige a falta de música ou efeitos sonoros. Na realidade, a inserção de uma trilha bem produzida e sons bem calculados pode ser o tempero final para uma ótima experiência horrorífica.

Se essa conversa for igual ao início do filme The Thing, eu paro por aqui.

Unlucky Seven é um jogo que recentemente deu um salto para o 3D. Originalmente o projeto parecia estar sendo feito como um jogo 2D, com uma história razoavelmente semelhante. Infelizmente não tive a chance de ver o projeto original na íntegra, mas Unlucky Seven é um jogo que promete uma determinada experiência, mas não a entrega. O jogo que promete trazer uma atmosfera aterrorizante entrega pouco disso, com personagens fracas e escrita infantilmente rasa. Personagens como Xavier são obviamente escritos como imbecis, chegando ao ponto de ser comicamente incapaz de viver em sociedade. A história é até bem interessante, porém totalmente mal utilizada.

O gameplay é extremamente maçante e repetitivo. Muitas vezes o jogador se encontrará indo e voltando para realizar ações básicas, obstáculos que podem ser resolvidos facilmente levam pelo menos um minuto para ser contornados. A movimentação dos personagens além de travada é vagarosa, isso quando não estamos em grupo, onde um dos personagens avança metros e para até que os outros o alcancem. Isso se repete por inúmeras vezes. O constante abre e fecha do inventário também torna as tarefas a serem realizadas maçantes e vagarosas. Infelizmente, seguindo este caminho, o título dificilmente se tornará um marco no gênero.