Confesso que nunca fui fã do seriado “Terra de Gigantes” em minha infância. Seus efeitos especiais frágeis para a época e o fato de todos os inimigos serem criaturas comuns, como insetos, ratos e outros pequenos mamíferos me desanimavam. Preferia outras obras do produtor Irwin Allen, como “Viagem ao Fundo do Mar” ou “Túnel do Tempo”. Smalland: Survive the Wilds guarda semelhanças com as aventuras miniaturizadas da série dos anos 60, para o bem e para o mal.
O conceito de se viver uma jornada de sobrevivência em meio a um espaço gigantesco nem chega a ser novidade no mundo dos jogos. De certa forma, o aclamado It Takes Two parte da mesma premissa. Mais recentemente, tivemos Tinykin, ainda que esse fosse mais cartunesco e de outro gênero. Em contrapartida, Grounded tem exatamente a mesma proposta. Em outras palavras, há algo nesses microespaços que atrai nossa imaginação, um resquício das brincadeiras de criança quando manipulávamos bonecos entre sofás imensos e um fio de água escorrendo de uma mangueira no jardim se transformava em um rio a ser transposto.
Conto de fadas
A grande sacada da MergeGames é misturar o conceito da microfauna com as lendas europeias de seres mágicos que habitam as florestas, como fadas e duendes. Não é exatamente original e longas de animação como “FernGully”, “Reino Escondido” e até mesmo “Smurfs” são a prova viva de que esse filão é antigo. Na verdade, o diferencial de Smalland: Survive the Wilds é pegar esse universo costumeiramente encantador e aplicar nas mecânicas costumeiramente brutais de um jogo de sobrevivência.
Em um jogo de sobrevivência, o jogador precisa lutar a cada metro para se manter vivo, seja porque seus medidores de fome, sede, temperatura corporal estejam em constante risco, seja porque a fauna local é hostil. Para resolver esses dilemas, é necessário extrair recursos do ambiente, construir seu próprio equipamento e erguer uma estrutura que servirá como abrigo e base. É uma questão de domar a natureza selvagem, impor uma ordem civilizatória e seguir em frente, uma proposta que passa longe de soluções mágicas ou adocicadas, mas que pode render uma boa mistura, como vimos em Citadel: Forged With Fire.
Smalland: Survive the Wilds começa com uma apresentação clássica de RPGs: somos uma espécie de guardião de um reino subterrâneo de criaturas mágicas. Nossa rainha adoeceu, a cura para sua enfermidade misteriosa está desaparecida e será necessário explorar o perigoso mundo da superfície em busca de respostas. Essa premissa não resiste a mais do que vinte minutos, uma vez que somos jogados no mundo aberto para procurar colonos que talvez saibam de algo.
Nosso equipamento é mínimo, nossa chance de sucesso é baixa, os perigos são muitos. Ainda que nosso personagem possa porventura adquirir asas para voar e a capacidade de domar criaturas da floresta, o fato é que saímos de nosso refúgio com uma mão na frente e outra atrás. Um fabricante de armaduras é capaz de nos fornecer o mínimo do mínimo, se trouxermos o material necessário. Depois de uma conversa com o xamã local, é um abraço e boa sorte lá fora.
Smalland pensa grande, entrega pequeno
O que deveria ser uma jornada fantástica se torna bem monótono em pouco tempo. Falta impacto em todas as ações de Smalland. Derrubar um cogumelo com um machado não tem o mesmo peso de se derrubar uma árvore em qualquer outro jogo de sobrevivência (e a falta de uma animação prejudica mais do que a própria proporção da coisa toda). Os combates são igualmente frágeis, indo pouco além de bater e bater com uma espada. Até mesmo Minecraft tem um sistema de luta um tiquinho mais complexo do que isso.
Lamentavelmente, esse combate insosso vai acompanhar o jogador com frequência, já que essa mata está infestada de insetos. Talvez seja uma rejeição pessoal herdada de “Terra de Gigantes”, mas não consigo acreditar que enfrentar uma formiga do tamanho de um Fusca seja mais divertido ou impressionante do que se enfrentar um Orc ou um crocodilo do tamanho de um Fusca.
O mapa também é menor do que deveria ser para um jogo que tem no colossal seu ponto de apoio. É talvez um dos menores mapas que já vi em um título do gênero. Espero que a MergeGames amplie sensivelmente esse escopo, uma vez que Smalland ainda está em Acesso Antecipado.
Em termos de performance, o título também deixa a desejar. Falta otimização. No PC do meu filho, que deveria ter me acompanhado nesse teste, o jogo ficou mais feio que bater na mãe e lagando, o que é bem inesperado para uma máquina que renderizou Conan Exiles sem problema algum, um título graficamente superior. Mesmo no meu PC, Smalland apresentou ligeiros travamentos em alguns cenários.
Para quem já zerou Grounded ou deseja uma experiência mais próxima do fantástico em cenários micro, Smalland: Survive the Wilds pode ser um título a ser aguardado. A MergeGames tem boas ideias, porém um pouco mais de polimento e conteúdo seriam bem vindos.