Para entender Slime Rancher 2, a gente precisa entender suas origens. Em 2016, a desconhecida Monomi Park colocava um jogo simpático em Acesso Antecipado no Steam. Era o primeiro Slime Rancher, um título que foi ganhando tração através de influenciadores no YouTube, que descobriam ali uma sólida experiência de fofura condensada em pixels. Ainda era um jogo curto, com muitas áreas para desenvolver, mas que já apresentava elementos cativantes.
Foram quase dois anos para o jogo original atingir a maturidade e a desenvolvedora continuou liberando conteúdo adicional depois do lançamento oficial.
Slime Rancher 2 chega novamente em Acesso Antecipado, com uma proposta que é ao mesmo tempo parecida e ao mesmo tempo diferente. Por um lado, a continuação oferece o mesmo charme do jogo original, as mesmas mecânicas, muitas criaturas idênticas. É como calçar um sapato velho e amado, que se ajusta no seu pé com extremo conforto.
Por outro lado, a própria Monomi Park está muito mais madura agora e esse lançamento é muito maior do que o primeiro Slime Rancher era em sua estreia. Esperava uma experiência curta, uma prévia, e recebi um jogo que está praticamente completo e livre de falhas.
Para quem não conhece a franquia, recomendo enfaticamente que comece pelo primeiro. Entretanto, segue um resumo de suas mecânicas: você é uma fazendeira de “slimes”, criaturinhas carismáticas cujos dejetos valem grana no mercado galáctico. É a desculpa para você explorar seus biomas, decifrar puzzles para desbloquear novas áreas, manter criadouros das gelatinas e administrar seus lucros.
Na verdade, o Slime Rancher original é um dos jogos da minha lista de favoritos de todos os tempos: uma declaração de amor que vai além dos tradicionais “jogos de fazendinha”. Não que haja qualquer defeito no gênero, adorável por natureza, mas a Monomi Park foi mais longe entregando a combinação perfeita de gerenciamento, exploração, captura de criaturas e uma trama subjacente profunda e emocional.
O que me levou a acreditar que eles não repetiriam esse equilíbrio em Slime Rancher 2. Não estava de todo errado: faltam aqui as mensagens enviadas para a protagonista, que compunham uma história tão bela quanto triste. Porém, todo o resto está lá, o que torna Slime Rancher 2 quase que uma nova iteração do primeiro: os mesmos desafios, alguns elementos adicionais, um novo mapa e nada mais.
Slime Rancher 2 está muito lindão
Entretanto, é importante ressaltar que aquilo que já era bonito conseguiu ficar ainda mais belo. O novo mapa é um deleite e as próprias gelatinas parecem mais vívidas, mais tridimensionais, mais simpáticas do que me lembro. Não é um grande salto visual, mas é nítido que o motor gráfico passou por melhorias. Na parte sonora, o mesmo talento anterior na trilha se manifesta outra vez, com mais faixas que embalam uma jornada que é puro prazer.
Para quem está começando agora, o início de Slime Rancher 2 pode parecer mais estressante, um efeito indesejado em um título que considero o oposto disso. São tecnologias e informações demais lançadas de uma única vez, quando no jogo original a progressão era mais tranquila.
Para quem já conhecia suas mecânicas, passa a sensação de que muito que você conquistava antes agora é entregue de imediato, o que pode desagradar alguns mas colocar um sorriso no rosto de outros. Ou será que eu simplesmente já sou um veterano e conheço exatamente o potencial de cada “slime” e cada equipamento?
As novas criaturas se encaixam perfeitamente na proposta fofa de Slime Rancher 2. Em particular, destaco o “slime” de rabo anelado, uma adorável criatura noturna que se transforma em estátua se exposta à claridade. Em sua forma de estátua, inútil para a fazendeira, o monstrinho mostra a língua em um deboche perpétuo, como se soubesse que não irá nos servir para nada.
Slime Rancher 2 não ousa, nem tenta tirar da zona de conforto o jogador do primeiro título. Essa decisão é uma faca de dois gumes, certamente, um dilema que assola diversas sequências, indecisas entre seguir em frente e revolucionar ou manter a magia original sem alterar uma vírgula.
Esperava mais dessa continuação, mas estou bastante satisfeito que não entregou menos. É uma aventura para se abrir no final do dia, depois de um expediente desgastante, uma porta de entrada para um mundo colorido, amável, tranquilo e acolhedor. Seu sucesso é mais do que merecido.