Durante a BGS 2022, tive a oportunidade de conhecer o estande da Leonardo Interactive no espaço reservado aos jogos indies, e conferir rapidamente seu mais novo trabalho. Shattered Heaven chega em acesso antecipado no fim de 2022 e nós tivemos a oportunidade de conferir esta prévia que, após campanha bem sucedida no Kickstarter, segue com lançamento previsto para 2023.
Na build fornecida para imprensa, nós jogamos o primeiro capítulo deste jogo, que oferece uma nova proposta de card game ao mesmo tempo em que se compromete em mesclá-lo com RPG, disponibilizando árvore de habilidades, sistema de criação e combate tático como diferenciais de outros jogos do gênero.
Dark Fantasy da melhor qualidade
Em um mundo sem nome e em ruínas, tomado pelas cinzas após e com um deus caído, quatro facções reúnem-se a cada dez anos para guerrearem na Guerra da Ascensão, em busca de libertar seu povo da fome, violência, infertilidade, falta de sono e a morte certa ao chegar aos 40 anos.
Sentia, Delham, Flammen e Ashram oferecerão quatro vestais, referência direta às sacerdotisas da Roma Antiga que veneravam a deusa Vestal, para sobreviver ao sangrento ritual de sobrevivência para somente uma reivindicar esta tão sonhada libertação.
Após esta introdução somos apresentados ao trio de protagonistas: Andora, uma guerreira sagrada nascida do relâmpago, Magni, guardião que possui em seu sangue sua força e maldição, e por fim, Ishana, uma pária ingênua e que flerta com as forças das trevas. Um trio clássico dos RPGs, mas com elementos que acabam flertando diretamente com as cartas e mecânicas de combate.
Andora oferecerá mais ataques e combos, enquanto o gigante Magni conseguirá trabalhar mais como tanque e contra-ataques, deixando para Ishana o estilo de gameplay mais interessante e estratégico, summonando um espírito, conhecido como Limodes, para apoiar no ataque.
O card game possui uma base muito comum, porém não genérica. Você ataque, defende e cura de acordo com o seu número de pontos de ação (AP) disponível para cada personagem, que vai aumentando até quatro de cordo com o seu nível de “rage” acumulado com o passar dos turnos. No entanto a grande diferença está no fato de possuir apenas três tipos de cards e muitas alterações de status.
Você terá um deck de até 20 cartas formado por cores azuis, vermelhas e verde, além das cartas exclusivas de personagem, as neutras (coloridas estilo uma pérola) e as hex, que são cartas com efeitos negativos adicionadas ao seu deck conforme situações específicas durante a exploração ou combate.
Com cinco cartas na mão, você utilizará seus pontos de ação conforme o custo de cada carta, sempre buscando adicionar efeitos negativos (pitt, blind, curse, bleed, além de outros vários) aos status dos inimigos, além de aumentar sua defesa para evitar danos aos seus personagens.
Além desse “combate básico”, Ishana oferece algo mais avançado e exigirá de você o controle dos pontos de sede e fome, ao sacrificar outras cartas, para manter vivo o Limodes e fazendo com que seus ataques tenham incremento de dano e efeito.
Um universo rico e repleto de conteúdo
Além do combate, que bebe muito de Darkest Dungeon como sua principal referência e está ligado diretamente ao deck que você constrói, a estratégia ao usar seus personagens e como trabalhar com as cartas e seus efeitos fazem de Shattered Heaven um jogo muito interessante.
Minha única crítica sobre estes pontos acaba ficando sobre a quantidade, talvez excessiva, de condições para alterar positiva ou negativamente os status durante um combate.
Talvez por ser apenas o primeiro capítulo, mas fica uma sensação de exigir demais do jogador para vivenciar esse montante de informação ou ir na decoreba mesmo, para tornar sua estratégia a mais normal e fácil de lidar.
No entanto essa minha crítica fica mais “intensa” ao saber que as características roguelike trazida pelos desenvolvedores não fica apenas nas dungeons, com sua formação procedural, seja pelo formato, encontros ou casualidades.
A sobrevivência e aleatoriedade é uma mecânica presente em seu deck, pois ao retornar para a Catedral do Equinócio, o hub principal do jogo, você perderá as cartas extras que são conquistadas durante os combates e exploração.
Este fator exigirá ainda mais adaptabilidade e estratégia por parte do jogador para criar uma base e se moldar ao longo do gameplay, para explorar cartas boas e ruins, inclusive utilizando algumas salas, acontecimentos e itens para reorganizar seu baralho.
Além de tudo isso, ainda no hub principal, você também terá árvores de habilidade para otimizar cada um dos seus personagens, além de um mercador para comprar seus itens de apoio, o Apotecário, que fabricará tudo aquilo que você puder criar com seu loot, além da Dark Forge, um espaço para você criar itens mais potentes ao utilizar os ossos das trevas.
Estes ossos você ganhará ao aceitar certas condições que aumentarão a dificuldade das partidas em até três níveis, exigindo ainda mais estratégia por parte dos jogadores.
Trabalho de gente grande
Muitos insistem em se enganar ao menosprezar o trabalho das produtoras e desenvolvedoras brasileiras. A Leonardo Interactive, famosa por Dry Drowning, comprovou seu talento ao proporcionar uma boa imersão em Shattered Heaven, seja pela direção de arte primorosa ou pela trilha sonora.
Com aquela familiaridade visual temático medieval, quase como saído das páginas de uma aventura D&D, as cartas são muito bem ilustradas, oferecem conteúdo e informação complementares para os mais interessados em mergulhar neste mundo, além de apresentar personagens muito bem representados.
Prepare-se para presenciar uma arte limpa, colorida e que consegue representar o sentimento que necessita passar, com certeza compete em pé de igualdade com grandes títulos famosos, de Magic à Gwent.
E já que estamos falando de D&D, vale ressaltar um ponto importante e que também depende do gamer brasileiro. O jogo está todo em inglês, até por conta da campanha inicial via Kickstarter, com um estilo de vocábulo mais rebuscado. No entanto os desenvolvedores precisam do apoio nacional para trabalharem em uma versão localizada em PT-BR, afinal tem MUITO conteúdo para ser traduzido.
Saindo da arte e idioma, a trilha sonora me pareceu um pouco repetitiva e até cansativa em certos combates mais longos, mas conseguiu criar aquela sensação de tensão, principalmente na luta contra o chefão que encerra o primeiro capítulo e esta prévia.
Espero que na versão completa do jogo eu possa ouvir mais dessa trilha, assim como interagir com mais inimigos e cartas, para imergir ainda mais neste mundo de fantasia e repleto de trevas, que ao mesmo tempo consegue ser interessante o suficiente para querer ser explorado.