Anunciado pela primeira vez em 2015, Planetoid Pioneers prometia elevar o potencial de títulos como Minecraft e Terraria à enésima potência com a exploração de planetoides exóticos e a possibilidade infinita de contribuição da comunidade de jogadores. Avançamos dois anos no futuro e a desenvolvedora Data Realms ainda está longe de entregar aquele jogo vislumbrado lá atrás, mas ainda assim ele já está vendendo para aqueles bravos pioneiros que não ligam para bugs, bugs por toda parte.
“Mas tem muito bug mesmo, Aquino?”, talvez você esteja se perguntando. Basta dizer que todas as sessões de jogo, sem exceção, foram encerradas abruptamente porque o jogo travou e me cuspiu de volta para a Área de Trabalho sem cerimônias. Ao tentar conectar um controle para jogar em modo cooperativo com meu filho, meu personagem morreu, o dele entrou e não havia nenhuma combinação de comandos ou teclas plausível que permitisse os dois jogarem ao mesmo tempo. Até que o jogo fechou. A única forma de voltar ao menu inicial é saindo completamente do jogo e entrando novamente. Resetar seu jogo para recomeçar do zero também implica uma travada. O botão de construir coisas funciona quando quer. Inimigos travam em pixels do terreno e não saem mais do lugar. E a lista continua…
É claro que mais polimento está a caminho, afinal, estamos falando aqui de Acesso Antecipado. Desbravar esses planetoides exige mesmo coragem dos jogadores. Coragem e paciência, porque outra falha gritante é o tempo que Planetoid Pioneers leva para carregar qualquer coisa, mesmo em uma configuração acima do mínimo solicitado. São longos minutos de espera para ver a tela inicial e um número ainda maior para gerar o primeiro planetoide. Dá tempo de fazer um café. A princípio, pensei que seria o tempo necessário para gerar o mundo aleatório em todas as suas dimensões (e o primeiro “planetinha” na verdade é bem grande). Mas, não é o caso: são os mesmos planetoides sempre, mas apenas parece que está gerando do zero, bloco a bloco.
Desbravador Cósmico
Quando o jogo finalmente engrena, há aquela sensação gostosa de descoberta, onde você gradativamente testa os limites do que é possível e do que não é em uma sandbox que permite muitas coisas: cada elemento do cenário pode ser decomposto em seus componentes mais básicos e é possível recriar objetos, depois que você aprende como.
Exceto pelo próprio chão e pelas paredes, tudo é destrutível e está nessa mecânica simples, mas instigante, o charme de Planetoid Pioneers. Com essas habilidades, você deve navegar por cavernas e superfícies labirínticas repletas de perigos em busca de… não sei bem o quê.
Pois é. Outro defeito de Planetoid Pioneers é não te dizer muito o que fazer. O que pode levar a situações onde você destrói justamente o que você precisa e aniquila permanentemente com qualquer chance de triunfo. A liberdade tem seu preço aqui e é preciso estar atento para não se colocar em uma situação irreversível.
A física realista de movimentação serve como um fator a mais de complicação (ou diversão se você curte títulos como Octodad ou o infame QWOP, embora não chegue a ser tão bizarra) e é fácil tropeçar onde não deve ou executar o pulo errado. E tente não perder um braço: não dá para usar armas ou mesmo construir coisas com um braço a menos no jogo.
O jogo da Data Realms se vende como um metroidvania devido a seu mapa aberto para exploração. Mas também há um pouco de souls-like, esse neologismo em voga, no sentido em que se você não souber o que está fazendo, vai morrer, vai morrer muito e de formas horríveis. Há um planetoide menor e mais fácil para explorar, mas mesmo esse é um exercício de frustração e, se não tomar cuidado, vai terminar confuso, xingando Planetoid Pioneers e sem metade do corpo…
“Nada tema! Com a Data Realms não há problema!”
Felizmente, a desenvolvedora tempera o horror com um clima de galhofa.
Os gráficos parecem cartuns de jornal e são claramente desenhados à mão com um estilo ímpar. O motor que demora um século para carregar, uma vez carregado permite que você dê um zoom bem próximo dos detalhes ou se afaste em escala cósmica, para apreciar o bem executado trabalho da direção de arte.
Quem também caprichou foi o pessoal responsável pelas músicas de Planetoid Pioneers, que lembram os seriados de ficção-científica marotos dos anos 60, dando aquela atmosfera de Perdidos no Espaço para seu pobre náufrago espacial.
Para completar seu ambicioso escopo, Planetoid Pioneers disponibiliza, em uma edição especial, ferramentas de criação que permitem não somente modificar tudo que existe no jogo como também criar seus próprios planetoides, personagens, armas, estruturas e inimigos e compartilhá-los através do Steam Workshop. É um trunfo na manga da desenvolvedora que pode catapultar o título para o sucesso. Mas somente se os pioneiros atenderem ao chamado.