Jogos de aventura point and click raramente aparecem entre os mais cobiçados e esperados nos dias de hoje. Porém, nos anos 90 o gênero reinava com clássicos como Secret of Monkey Island, Day of the Tentacle, Full Throttle e Grim Fandango. De lá pra cá Machinarium, The Cat Lady, a série The Walking Dead e The Wolf Among US (ambos da finada Telltale Games) ajudaram a manter o gênero vivo, mas são poucos os jogos. Produzido pela Clifftop Games e distribuído pela Raw Fury, Whispers of a Machine traz um noir nórdico de ficção cientifica em um mundo desolado pela inteligência artificial.
Semelhante ao jogo anterior da empresa, Kathy Rain: A Detective is Born, Whispers of a Machine é um jogo de investigação onde controlamos a oficial Vera. Ela é enviada para a cidade de Nordsund, para investigar os assassinatos de Karl Hudson e a bibliotecária Maja. Ambos assassinados de maneira semelhante e em um curto período de tempo entre eles, resta à Vera descobrir as motivações e quem os assassinou. A resposta pode ser algo mais perverso do que ela mesma possa imaginar.
Mancha de sangue é mais forte que a de óleo
No cinema, na literatura e nos game encontramos narrativas que nos coloca na posição de ponderar se a inteligência artificial pode ser considerada “viva” ou se possui algum traço de humanidade. Mesmo com respostas distintas, a questão permanece e Whisper of a Machine traz mais uma vez este tabu à tona com sua aventura investigativa. O game flerta com as inúmeras possibilidades e pontos de vista com o qual podemos responder essa pergunta, fazendo o jogador se interessar cada vez mais pela trama.
O que começa como um caso de assassinatos irá tomar novas rédeas ao trazer uma seita disposta a recriar uma inteligência artificial soberana, fazê-la funcionar e tentar controlá-la. Vera deverá investigar e solucionar os mistérios de Nordsund enquanto tenta evitar inimigos ainda desconhecidos. Ao interagir com o cenário e com os personagens Vera irá descobrir pistas, mistérios e provas para poder salvar a população e quem sabe até mesmo o mundo.
De começo a cidade em si parece abalada com os assassinatos, mas com o passar do tempo nota-se que algumas pessoas tratam o acontecido como se fosse algo mundano e que não devesse ser levado tão a sério. Algumas pessoas parecem não apreciar a presença de Vera na cidade e apenas desejam que a mesma termine seu trabalho o mais rápido possível e desapareça.
A maneira que algumas pessoas reagem ao serem questionadas ou pegas de surpresa em um mentira deixam o ambiente e o clima do jogo cada vez mais tenso e sombrio. Sob essa pressão, o jogador pode escolher tomar decisões rápidas (e muitas vezes mórbidas) ou tomar um caminho mais longo e sensato. A qualidade gráfica lembra a dos antigos point and click da Sierra Games, muito bem trabalhados e com uma paleta de cores fria e sem vida, acrescentando aquele eterno tom de fim de tarde ao jogo.
Utilizando uma substância carregada de nano-robôs em seu corpo, chamada “Azul”, Vera pode ampliar seus sentidos. Ela possui um scanner óptico com o qual podemos varrer os cenários atrás de pistas e segredos, um monitor cardíaco que pode detectar anomalias durante o depoimentos das personagens e, por último, um aumento descomunal e temporário de força. Há ainda três outras habilidades que só serão vistas no game completo e que serão liberadas de acordo com o estado emocional da protagonista.
Podemos acompanhar seu estado emocional através de um gráfico triangular, que se altera quando respondemos as perguntas dos personagens. Isso poderá afetar o jogo e seu final, inclusive. Cada extremidade do triangulo possui uma runa, sendo que cada uma representa um deus nórdico e uma qualidade do mesmo. No canto superior temos a runa de Baldur, que torna Vera uma pessoa mais empática. A runa de Tyr, no canto esquerdo, dá um temperamento mais assertivo. E a runa de Friga, no canto direito, nos apresenta uma personalidade mais analítica da inspetora.
Whispers of a Machine é uma aventura longa e cheia de mistérios, que provavelmente irá colar os fãs do gênero as telas. A proposital falta de trilha sonora em determinados momentos traz ainda mais realismo e tensão, com efeitos de sonoplastia de ponta, personagens misteriosos e uma cidade estranha, onde o Ragnarok cibernético pode estar começando a tomar uma forma bizarramente inofensível.