Skip to main content

O dia 26 de setembro de 1960 entraria para a história dos Estados Unidos. Nesse dia, aconteceu o primeiro debate presidencial televisionado, mostrando o embate de ideias envolvendo o candidato democrata John Kennedy contra o candidato republicano Richard Nixon. O impacto dessa nova plataforma foi sentido imediatamente: para os telespectadores, Kennedy havia ganho o debate com folga. Contudo, para a surpresa de muitos, os que apenas ouviram o debate pelo rádio consideraram o resultado desse encontro como um empate, com algumas pessoas dando até mesmo a vitória para Nixon.

Como é possível que dois debates iguais, mas transmitidos em plataformas diferentes, tenham resultados tão divergentes? A resposta para isso é bem simples e intrigante: Kennedy estava muito mais apresentável no estúdio, contando com uma equipe responsável por cuidar de sua imagem, enquanto Nixon acabara de sair do hospital, demonstrando uma saúde debilitada e dando pouca importância à sua aparência.

Esse episódio é fundamental para entender o conceito de Not For Broadcast, o mais novo jogo da NotGames disponível apenas para o PC, pois ele mostra o quanto a aparência e as mídias podem influenciar em decisões de extremamente importantes. No comando das câmeras de um telejornal, caberá a você decidir o tipo de informação a ser exposta em rede nacional. Em um país passando por reformas polêmicas, a mídia é uma das melhores armas de mobilização populacional.

Don’t believe what you see

A proposta de Not For Broadcast é extremamente simples na teoria: controle quais câmeras irão ao ar em uma transmissão de jornal. O que parece um trabalho fácil na verdade é algo bem complicado, pois há toda uma técnica na hora de decidir qual a melhor câmera a ser mostrada. Ficar muito tempo na mesma câmera irá cansar a audiência, fazendo com que o número de telespectadores desça bruscamente. Contudo, focar no rosto de uma pessoa que não está falando, por exemplo, também irá diminuir o interesse dos mesmos.

Imagem do jogo Not For Broadcast

O emprego parece ser bem fácil, só que não.

Além das câmeras, é necessário prestar atenção a qualquer tipo de palavrão falado na transmissão. Existe um pequeno atraso entre a imagem ao vivo e a transmissão, onde será necessário utilizar essa janela de tempo para apertar o botão “censor” e colocar aquele famoso barulho quando uma palavra de baixo calão for falada. Felizmente, esse trabalho é facilitado por aqui, já que existe uma espécie de monitor logo acima do botão.

O monitor mais a direita é relativo às interferências. Ele é um “mini-game” que aparece às para complicar a sua vida. É necessário controlar um ponto branco no monitor, evitando que ele encoste nas paredes verdes que aparecerão ocasionalmente. O objetivo disso é drenar a sua atenção a fim de prejudicar a sua habilidade de selecionar a câmera correta. Caso seja mal-sucedido, o jogador sofrerá com uma interferência na transmissão, diminuindo a audiência do telejornal.

Imagem do jogo Not For Broadcast

Ao final da transmissão, seu progresso será mostrado através desse menu.

Ao final de cada bloco do jornal, será necessário passar as propagandas. Logo abaixo da sua mesa, existem fitas contendo vídeos promocionais que deverão ser colocados no intervalo comercial. O jogador terá total controle sobre quais fitas irão ao ar, podendo escolher apenas três delas. Futuramente, recursos referentes às consequências de se exibir um determinado comercial serão adicionados no jogo.

Refuse/Resist

Mesmo com apenas três fases disponíveis, Not For Broadcast dá uma boa noção do que será a sua história. O pano de fundo do jogo é um país que recém saiu de uma eleição, cujo resultado foi uma vitória esmagadora para um dos candidatos. Com um discurso extremamente estatizador e de repúdio aos ricos, ele venceu com a proposta de redistribuir a renda da classe alta para as populações mais pobres.

Com o passar do tempo, será possível observar os impactos dessa política dentro do universo do jogo. Por se tratar de um jogo em acesso antecipado, esses impactos estão bem limitados, dando apenas uma prévia do que será adicionado futuramente. Fora do trabalho, o seu personagem terá uma vida, cabendo a você tomar decisões relativas aos seus amigos e entes queridos.

Imagem do jogo Not For Broadcast

A lot is gonna change in your lifetime…

Os personagens serão bem caricatos, mas estarão envolvidos em uma trama que abrange problemas e indagações sérias. Afinal de contas, é correto confiscar a fortuna dos mais ricos e redistribuí-la para as classes mais pobres? Caso a resposta seja afirmativa, qual o limite para alguém ser considerado rico e ter o seu patrimônio violado? E qual seria o melhor método de reinvestir todo esse dinheiro adquirido? Em apenas três cenários, Not For Broadcast cria muitas perguntas que, se o jogo for desenvolvido da melhor maneira, serão respondidas assim que o jogo for lançado oficialmente.

A versão de acesso antecipado é bem curta, todavia dá uma boa noção do que os jogadores podem esperar. A sua proposta é bem semelhante à jogos como Papers, Please, onde você deve realizar uma tarefa que envolve atenção extrema aos detalhes enquanto a história discorre sobre temas éticos e políticos. Os desenvolvedores têm várias ideias para melhorar o jogo, contando com a ajuda da sua comunidade para inserir algumas de suas sugestões da melhor maneira possível.

Por fim, Not For Broadcast é um jogo com uma mecânica simples e uma história intrigante. A NotGames possui um verdadeiro diamante a ser lapidado, pois o potencial aqui é enorme. Se os elementos de escolha e os desafios referentes à mecânica de gameplay forem ampliados, certamente esse será um dos melhores jogos indie do ano de seu lançamento.