Depois que entramos na vida adulta e as responsabilidades se tornam intrínsecas a nossa sobrevivência, todos nós passamos a ter uma rotina – querendo ou não. Acordar cedo, sair de casa, enfrentar transporte público lotado, chegar atrasado no trabalho, lidar com pessoas que não sentem qualquer empatia por você, outra vez encarar o transporte abarrotado, chegar em casa tarde e finalmente deitar e dormir, para novamente repetir esse ciclo no dia seguinte, depois e após, interminavelmente – sem falar dos boletos que não param de chegar.
Chega um ponto em que podemos até perder o propósito de nossas vidas, deixar nossos sonhos se esvaírem e simplesmente nos tornar só mais uma engrenagem que faz a grande máquina da sociedade funcionar. Somente mais um em meio a tantos, seguindo uma marcha quase fúnebre por uma cidade cinzenta e sem vida. Cada um de nós está com os olhos vidrados em um tela negra e fria, ninguém ousa olhar para os lados, apenas seguir em marcha rumo ao seu cubículo dentro de um arranha-céu, assim como outras centenas.
Aquilo que deixamos de enxergar
Às vezes passamos tanto tempo presos em nosso próprio mundinho que paramos de enxergar as pequenas maravilhas que estão ao nosso redor. Ou seriam esses delírios de uma mente conturbada? Talvez Mosaic possa esclarecer essa questão – ou criar novos questionamentos.
Anunciado durante a E3 de 2019 pelos mesmos criadores de Among the Sleep, a Krillbite Studio, este é um jogo de “aventura atmosférico“, ou seja, que irá despertar sentimentos e sensações únicas e reais, a partir das experiências apresentadas. É bem provável que muitos acabem se identificando com as situações presentes no jogo e assim criando empatia pelo protagonista e sua realidade.
Mosaic é quase a representação de uma realidade que muitos vivem, em meio a uma grande metrópole populosa e fria – e nem estou falando do clima. Ao iniciar o jogo, nos deparamos com um jovem rapaz solitário, que aparentemente perdeu o sentido da vida – tanto que dorme com a roupa do trabalho -, não responde mais aos amigos, nem à própria mãe. Vive em um pequeno apartamento que possui apenas uma janela – que está sempre fechada -, não possui comida na geladeira e só faz ir e vir do trabalho.
O gameplay é relativamente simples e familiar para quem curte jogos do gênero: todas as ações são realizadas através de comandos do mouse, tanto movimentação, quanto interação com os objetos. Para fazer o personagem andar, basta clicar e segurar na direção que deseja que ele vá, uma seta na tela irá indicar a direção. Por padrão, os objetos que possuem interação não ficam destacados pelo cenário, bastando o personagem se aproximar deles para que eles se revelem.
Também podemos acessar o celular dele para, entre outras coisas, ler as mensagens recebidas, últimas notícias, acessar o aplicativo do banco (e ver só a dívida aumentando), além, é claro, de jogar o último sucesso do momento (e sugador de vidas) BlipBlop. Este minijogo de fato existe, está disponível na Play Store (Android) e na App Store (iOS) e consegue ser extremamente viciante, apesar da simplicidade. Ou seja, você pode jogar o jogo dentro do jogo e depois jogar esse mesmo jogo nas horas vagas. Nunca pare de jogar!
Uma realidade sombria
O desenrolar da trama é bastante confuso, porém intrigante. Devido a empatia com o personagem, a imersão é garantida. Além, é claro, dos mistérios que circundam a vida do jovem rapaz, sejam as pretensões da mega corporação em que ele trabalha ou toda aquela metrópole decadente, a qual mais e mais se torna negra e cinzenta.
A questão é que o personagem terá breves momento de lucidez – ou seriam alucinações de uma mente cansada? -, nos quais uma voz estranha e enigmática irá nos dizer coisas ainda mais estranhas e enigmáticas. Além de ver flashes de uma realidade que está se acabando, pequenas maravilhas ocultas em meio ao frio e cinzento concreto, como salvar um gatinho preso em uma árvore, ou uma borboleta na última flor que restou.
No trabalho ,teremos de ser eficientes e produzir mais e mais, o quê, para qual propósito, o significado do que fazemos, isso não é certo, mas nosso objetivo é sempre gerar resultados o mais rápido e abundantemente possível. E, ainda assim, nunca será o suficiente. Nessas ocasiões, seremos desafiados em mini-games lógicos, não há um cronômetro, nem pontuação, apenas precisamos concluí-los. Muitas vezes, esses desafios se mostram bem confusos e precisamos aprender na tentativa e no erro, o que é preciso e como fazer isso.
Todas essas situações decorrem de maneira confusa e misturada, o que causa uma sensação de estranheza e um nó no cérebro para compreender o que está acontecendo. Como você deve ter notado, utilizei o termo “confuso” em diversos momentos, mas é exatamente essa a sensação que esta versão prévia de Mosaic causa: esta expressão resume bem o que o jogo é até agora. Porém, curiosamente, esse é exatamente o sentimento mais motivador dentro de toda essa loucura, pois é ele quem nos motiva a querer compreender o que se passa naquela realidade, que inicialmente era pacata e rotineira e se transforma em algo incompreensível e perturbador, com direito a um peixe falante.
Espero que melhorem a intuitividade de certos elementos no gameplay, como os mini-games por exemplo, que até o momento são confusos e sem um objetivo claro. A forma como controlamos a movimentação do personagem também não é das melhores, mas imagino que isso seja refinado na versão final. A trilha sonora me agradou bastante, tornando essa experiência ainda mais atmosférica e imersiva. A arte de forma geral é bastante singular e, por vezes, sinistra, o que contribui para o fator de estranhamento e agrega ao tema que se propõe.
Esta versão prévia de Mosaic abre mais questões do que respostas e com certeza esse é o ponto chave. E, conhecendo o histórico da Krillbite Studio, podemos esperar por uma experiência diferenciada e que mistura realidade e loucura. Mosaic ainda não possui data prevista para lançamento, mas a promessa é que seja lançado até o final de 2019.