Confesso que, apesar do gosto amargo que deixou em minha boca, New World me fez querer voltar para os MMORPGs, ainda que não especificamente para o título da Amazon e suas idiossincrasias. Quando apareceu a oportunidade de avaliar Lost Ark em seu teste técnico beta, não hesitei em aceitar. Fui surpreendido em quase todos os aspectos da experiência.
É importante ressaltar que o mais próximo de um MMORPG com estética oriental que eu já cheguei foi Guild Wars 2, que é um título ocidental, mas com fortes influências daquilo que se faz do outro lado do planeta. Ou seja, com personagens que parecem modelos de capa de revista de moda. Então, sim, Lost Ark foi meu primeiro contato com o pacote completo desse universo de waifus guerreiras de roupas impossíveis.
Existem rumores de que a versão ocidental de Lost Ark seja menos ostensiva na sexualização, o que tem dividido a comunidade com hormônios efervescentes. Considerando o tamanho minúsculo dos personagens na tela, tanto faz como tanto fez, mas essa questão tão pungente da cultura dos animes pode incomodar pessoas dos dois lados da balança.
Chumbo grosso em Lost Ark!
O que realmente me surpreendeu em Lost Ark não foram as pistoleiras (no sentido literal da palavra) de short apertado, mas o fato de que ele lembra muito mais Diablo do que um MMORPG propriamente dito. Em oito horas de jogatina, me senti atravessando um RPG de ação single-player, com alguns NPCs com nome em cima passando correndo de um lado para o outro. Se não fosse pelo respawn nervoso dos inimigos em áreas abertas, a sensação seria ainda mais plena.
Em contrapartida, nas masmorras, foi possível entrar em todas elas sem a necessidade de formar grupo e ali os inimigos não renasciam. Embora eu tenha até tentado criar uma party para entender como a mecânica funciona, ninguém estava disposto a compartilhar a experiência, talvez, justamente por ser desnecessário.
É uma decisão arriscada do teste técnico alavancar todos os jogadores para o Nível 10 (quando você desbloqueia sua principais habilidades). Por um lado, não foi possível avaliar o quanto de grinding seria necessário para chegar na parte divertida de Lost Ark. Do outro lado, a impressão que tinha é que meu personagem sozinho era capaz de encarar todos os desafios que a aventura colocava em meu caminho, sem precisar voltar para áreas anteriores para subir um nível ou dois. Isso tornou a experiência incrivelmente fluida, com uma imensa sensação de poder, mas pode camuflar como será o real começo de jogo e seu fluxo para todos, quando o MMORPG for realmente lançado no Ocidente, em março do ano que vem.
Por Lost Ark já ter estrada no mercado oriental, o título está extraordinariamente polido na fase atual. Os tutoriais são bem explicativos, por mais complexas que sejam suas mecânicas (e elas são abundantes). A dublagem é satisfatória, assim como a tradução. Encontrei apenas um conteúdo ainda em coreano, uma série de vídeos ainda mais explicativos sobre o jogo, escondida em submenus. Todo o sistema de combate, criação de personagem, quests e interfaces funcionaram sem equívocos ou travamentos. Esse grau de qualidade me fez perguntar porque ainda faltam cinco meses para o lançamento final.
O combate pode parecer complicado a princípio, com oito teclas exóticas para se apertar e ativar diferentes habilidades (QWER | ASDF). Porém, a prática se estabelece bem rápido. Em pouco tempo, estava combinando poderes enquanto já tinha assimilado o ritmo exato de recarga de cada um deles. É um sistema que acaba sendo gostoso de se praticar, com efeitos brutais em seus inimigos.
Essa tranquilidade pode ser um engodo para uma curva de dificuldade mais acentuada ali na frente, mas é importante dizer que não morri em nenhum momento ou mesmo cheguei perto. Não me espanta tanto que ninguém queira ajudar o próximo ou ninguém queira formar grupo: o mundo de Lost Ark é bastante adequado para o jogador solo, pelo menos nesses primeiros momentos.
O destino do mundo está em suas mãos!
Fui surpreendido também pela forma como o jogo passa seu enredo: frequentemente, com urgência, mas sem pressão. É bastante diferente do laço frouxo de New World (que até agora me deixa confuso sobre o grande objetivo das coisas) ou de títulos single-player recentes em que a trama mal te dá tempo para respirar entre uma missão e outra.
Ao contrário de New World e suas distâncias quilométricas, aqui tudo é próximo, mas sem exageros, e o jogo ainda te dá uma montaria. É possível enfileirar diferentes missões em uma linha reta e terminá-las em poucos minutos, o que deixa Lost Ark agradável até para os jogadores mais casuais. Todo o processo de receber uma missão e terminá-la não dura mais do que dez minutos.
Em contrapartida, o enredo aqui é um aglomerado de clichês. Você é textualmente o Chosen One (“o Escolhido”), aquele que será capaz de localizar o Poderoso McGuffin™ que irá permitir a vitória do mundo contra as forças das Trevas, que voltaram de um passado distante. Enquanto isso, um servo do mal está no seu encalço, se aproveitando de seus avanços, para também chegar mais perto do Poderoso McGuffin™.
Felizmente, a atmosfera é bem conduzida, com trilha sonora e gráficos excelentes que envelopam batalhas e cenários que ajudam a te mergulhar no jogo. Em uma visão macro, Lost Ark decepciona com uma trama insossa, mas o enredo funciona bem em seus detalhes, nas pequenas situações que resolvemos enquanto estamos atrás do artefato perdido. Já é muito mais do que se pode ser dito de diversos MMORPGs.
Lost Ark se prova um jogo capaz de cativar diferentes tipos de público logo em seu início. Mais pra frente, o título ainda promete a construção de um lugar para chamar de seu, batalhas colossais contra monstros gigantescos, guerras de facções e um outro sem número de atividades de fim de jogo. Para muitos, esse começo não passa de um tutorial estendido para ser atravessado correndo até se chegar no recheio de um MMORPG. Para mim, é fundamental que a diversão esteja presente desde o momento em que meu personagem foi criado e Lost Ark conseguiu entregar.