Era uma vez uma desenvolvedora de jogos chamada de GSC Game World. Na verdade, eles ainda existem e lançaram STALKER 2: Heart of Chornobyl recentemente. Não importa. E o que isso tem a ver com La Quimera? Calma, vamos chegar lá. Tempos atrás, funcionários insatisfeitos abandonaram a GSC Game World. Uma facção desses funcionários fundou a 4A Games, que se tornou famosa pela excelente franquia Metro. Outra facção desses funcionários fundou a Deep Shadows, responsável pelo catastrófico Boiling Point e sua continuação White Gold. Se você não lembra de nenhum desses dois jogos, você é feliz e isso também não importa. O importante é saber que os melhores desenvolvedores da GSC Game World foram para um estúdio e outros nem tanto foram para outro estúdio.
Aqueles que não conhecem a história estão condenados a repeti-la e aqui temos a Reburn, formada por ex-funcionários da 4A Games. Infelizmente, seu trabalho de estreia está aquém de tudo que já foi produzido antes. La Quimera é um título extremamente genérico, curto e possivelmente inacabado.

Nada de novo no front
Nenhuma obra é obrigada a ser um sopro de inventividade em sua respectiva indústria e fórmulas existem justamente porque foram consagradas. Entretanto, não há um único elemento em La Quimera que não tenha sido explorado melhor em outros jogos. Sua história transpira desinteresse, começando com uma longa e expositiva narrativa de um futuro cyberpunk onde as nações tombaram, existem cidades-Estado em constante guerra e grupos de mercenários que alimentam essas disputas. Seu personagem é um recruta de um desses grupos mercenários. A narrativa não melhora: nos envolvemos em uma conspiração, somos capturados e reconfigurados com exoesqueletos que oferecem capacidades especiais. Crysis manda lembranças.
A Reburn até tenta construir uma atmosfera para que o jogador se importe com esse universo e seus habitantes, mas a imersão é atrapalhada por um roteiro previsível, diálogos nada inspirados, uma dublagem oscilante e personagens detestáveis. Algumas reviravoltas buscam um sentido maior para tudo, mas chegam tarde demais para salvar o jogador do tédio, supondo que o jogador estivesse ainda prestando atenção na trama.

Tudo se acaba em menos de quatro horas. Supostamente, La Quimera chegaria ao mercado como um título completo. Na última hora, diante de críticas negativas antecipadas na imprensa, o time independente decidiu reverter os planos para um lançamento em Acesso Antecipado. Há uma promessa de mais capítulos e uma experiência melhorada. Não há muito que indique um futuro promissor para essa jornada, mas nada é impossível nessa indústria.
Tiro, porrada e bomba
Então, a ideia aqui seria vender La Quimera por suas mecânicas? Se a intenção era essa, o jogo também não entrega. Seu tiroteio é frágil, suas habilidades são desinteressantes. O título parece não saber em que direção ir, ao ponto de termos duas sequências de tutorial. Talvez La Quimera seja mais divertido jogando com amigos, mas qual jogo não é mais divertido jogando com amigos?
Os inimigos são uma reciclagem dos mesmos oponentes que você com certeza já enfrentou antes, como o guerrilheiro genérico, o soldado corporativo genérico, o robô voador genérico e o robô-cachorro genérico. Apesar dos mapas serem repletos de pontos de cobertura, a Reburn nem mesmo se preocupou em adicionar um sistema de cobertura. A munição abunda no cenário, talvez pensando em quatro jogadores buscando recarga.

A Reburn saiu da 4A Games levando o motor gráfico da franquia Metro e esse é o seu maior acerto. Visualmente, o jogo consegue ser espetacular em vários momentos, ainda que ao custo de performance. Não adianta muito ter o melhor motor gráfico do planeta se o time de desenvolvimento não sabe como otimizá-lo ou se a geração de mapas decide entulhar cada cenário com o máximo possível de escombros, detritos, partículas e detalhes que a memória suporta. O resultado é uma poluição visual nos combates e na exploração, com quedas de frames e aumento de temperatura de GPU no processo.
Em seu estado atual, La Quimera não empolga. Pode ser uma opção para quem está muito saudoso de um novo Crysis ou guarda Call of Duty: Advanced Warfare no coração, desde que esse jogador imaginário baixe suas expectativas.


