A primeira coisa que me veio à cabeça quando comecei a jogar Encased era de que se tratava de uma cópia barata dos Fallouts antigos. Você tinha basicamente um personagem viajando por uma terra devastada e resolvendo quase tudo na bala. Bem, é um pouco disso e um pouco não. Não se pode negar que Encased bebe furiosamente nas fontes de jogos antigos como o próprio Fallout e mesmo Baldur’s Gate, mas ele tenta ter um pouco de originalidade.
Em primeiro lugar, não estamos num mundo destruído pela guerra atômica. O mundo está de pé. Bem, pelo menos a maior parte. Contudo, existe um lugar chamado O Domo, uma estrutura gigante encontrada num deserto que desafia os cientistas. Dentro dele, as coisas não funcionam exatamente como deveriam. Para falar a verdade, fica tudo bem doido mesmo. Mas isso não foi motivo para se deter a exploração do lugar e a descoberta de possíveis avanços tecnológicos.
Como todo mundo devastado, tudo começa com uma empresa
Para gerenciar o processo de exploração e pesquisa do Domo, os governos do mundo decidiram criar uma corporação, a Cronus. Seu personagem é um dos que se juntam à corporação por diversos motivos, e já de início você pode criar o seus motivos escolhendo em que tipo de categoria de trabalho estará inserido na corporação. Desde o trabalhador comum, passando por cientistas e militares, até condenados que tiveram uma dúbia segunda chance trabalhando no Domo. Devo dizer que gostei muito da criação do personagem. Uma pena que a customização da aparência não é tão boa. Espero que isso melhore com as futuras atualizações do jogo.
Antes de tudo, é preciso lembrar que Encased ainda está em acesso antecipado no Steam. Logo, as coisas estão ainda muito cruas. De jogo mesmo, só temos um tutorial chatíssimo e um primeiro capítulo. Sério, se o tutorial não fizer você largar o jogo, você vai até o fim com alegria, mas as dependências cinzentas e assépticas da primeira torre da Cronus fazem o favor de te deixar entediado nos primeiros minutos. Só depois de uma hora perdida você é finalmente solto dentro do Domo, onde deve investigar… Bem, não vamos dar spoiler da história. Só digo que a coisa toda fica muito mais interessante depois disso.
Outra coisa que se deve falar são os personagens. Logo de cara, quando você chega na torre, seu personagem é atacado sem nenhuma explicação. Talvez se eu tivesse escolhido outros talentos que não escolhi, isso não teria acontecido, mas divago. O fato é que, se você sobreviver ao encontro, pode ir falar com o atendente sobre o ocorrido. Este vai logo pedir para que não espalhe a notícia e tenta botar panos quentes no assunto. Claramente, a Cronus é uma empresa com muitas coisas a esconder.
Um combate de fases
Acho que agora é uma boa hora para se falar do gameplay de Encased, mais especificamente do combate. É o que separa bons RPGs de jogos chatos e sem graça que tem por aí. E posso dizer que é bem interessante. Quando um encontro começa, você tem a chance de andar por uma grade, e cada passo gasta um ponto de ação. Desnecessário dizer que ataques também gastam muitos pontos de ação.
Uma crítica que eu gostaria de fazer é referente ao primeiro encontro do jogo. Parece que ele sofre da síndrome de Fallout 2. Para quem não sabe, nesse jogo você é praticamente obrigado a fazer no começo uma build de personagem totalmente diferente do que gostaria. Tudo por um único encontro no começo do jogo, onde você por uma única vez não usará armas. Encased sofre desse problema também. O jogador é obrigado a relegar pontos de habilidade em, por exemplo, armas de pequeno porte, para priorizar em combate desarmado. Tudo porque você não tem arma nenhuma no começo do jogo.
Mas como Encased ainda é um jogo de acesso antecipado, acredito que esse problema vai ser resolvido. Eu gostaria muito de ter saído desse encontro sem lutar, mas o jogo não permitiu. Ou eu fui burro demais pra perceber como fazer, vai que, né…
Nunca subestime uma barata gigante
Então, depois de passarmos pelo tutorial chato, somos finalmente inseridos no ambiente dentro do Domo. E ele não difere muito do que encontramos em Fallout, apenas que não temos muitas das piadas dele. Sério, gostaria de mais piadas. Acho imprescindível um pouco de senso de humor um RPG. Ainda encontramos um deserto radioativo como se deve ter, mas também temos que lidar com condições climáticas que mais parecem magia, como uma tempestade de areia que evapora o combustível e derrete todos os elementos de borracha do carro em que você anda.
Também temos as icônicas baratas gigantes, e elas são fortes pra cacete. Muito cuidado com elas, principalmente quando atacam de surpresa assim que você entra em algum lugar. Fora isso, o leque de inimigos do jogo conta com os sempre presentes bandoleiros que desejam seu dinheiro ou seu sangue. O que vier primeiro. Então, se você quiser se aventurar no mundo com alguma tranquilidade, sempre se equipe e encha o inventário com toda a munição possível. Eu não fiz isso e passei um sufoco enorme, mas eu estava doido para ver o mundo fora da torre da Cronus, então a culpa é minha mesmo.
Uma aventura para os old-school
Com tudo isso, é até clichê dizer que Encased é majoritariamente direcionado para o pessoal que sente falta de jogos como os Fallouts antigos e aqueles que gostam de um bom RPG isométrico em turnos. Está tudo lá, colocado de maneira cirúrgica para agradar esse público. O único problema é que parece que as coisas estão colocadas de modo muito artificial. Talvez faltasse alguma loucura, um toque pessoal, coisa assim. Como, por exemplo, o ghoul com uma árvore na cabeça de Fallout. Nunca é demais ter uma bobagem aqui e outra ali.
Mas isso é um problema pequeno dentro de tudo que o jogo propõe. Ainda estamos no início de seu desenvolvimento, e a Dark Cristal Games promete muitas coisas para o futuro. Que o futuro seja tão emblemático quanto os jogos nos quais Encased se inspira.