Engana-se quem pensa que a máfia é só coerção e violência. Para manter os negócios da família em ordem, o bom mafioso deve se atentar ao mercado, ter boas conexões e manter a discrição dos seus negócios. Pensando nessas características de um senhor da máfia, City of Gangsters busca explorar o lado dos negócios, deixando a força bruta em segundo plano.
Não é fácil permanecer no topo da cadeia alimentar, e City of Gangsters é uma tentativa de demonstrar que, além das forças policiais e a concorrência de outros mafiosos, as relações pessoais são tão poderosas quanto uma submetralhadora Thompson na hora de fazer negócios.
Só corra riscos se puder lidar com as consequências
A junção de máfia com gerenciamento me remete imediatamente ao jogo Empire of Sin, jogo esse que foi lançado recentemente com uma avalanche de críticas não muito positivas. A ideia está ali, mas a execução ruim fez com que houvesse espaço para outros títulos tentarem explorar esse gênero.
Não me surpreendi com o que presenciei inicialmente. Claramente com limitações financeiras, não esperava nenhuma maravilha gráfica na minha frente – até porque, como muitos brasileiros, também sou atingido por essas limitações, e esse foi o motivo pelo qual o jogo me atraiu. É esperado que um jogo compense a parte gráfica simples com mecânicas bem pensadas e inovadoras, logo entrei com as expectativas nas alturas.
Confesso que me decepcionei no começo. Demorei um certo tempo para entender as mecânicas básicas, já que esse pode ser considerado um título de estratégia em turnos, algo bem diferente do que imaginei. Contudo, após entender melhor as mecânicas, pude compreender com clareza qual a sua proposta e os caminhos que podem ser seguidos em seu desenvolvimento.
Um homem que não se dedica à família nunca será um homem de verdade
Como dito anteriormente, em vez de focar nas batalhas e guerras da máfia, City of Gangsters prefere abordar os assuntos relacionados à parte administrativa dos negócios. É claro que, por se tratar da máfia, conflitos irão existir, mas o foco não está neles.
A máfia consiste na venda de produtos proibidos pelo estado, onde os vendedores são, teoricamente, caçados pela força policial. Se tratando de produtos ilegais, é óbvio que os interessados não confiarão em qualquer um para obter o produto desejado. Na era da proibição, bebidas alcoólicas possuem uma demanda alta, mas é necessário obter a confiança do mercado.
É bem interessante ver a maneira com que esse aspecto das relações humanas é apresentado. Para ter a demanda, é necessário que a pessoa primeiramente confie no vendedor, caso contrário não há negócio. Para representar esse fator, cada personagem possui uma barra de relacionamento e uma barra de favores. Se você quiser que um personagem fale bem de você para algum outro, basta apenas utilizar um favor e a sua reputação estará melhorada.
Demorei um certo tempo para compreender como as coisas funcionavam, mas a experiência foi bastante satisfatória. Um personagem poderá gostar de você apenas pelo fato de vocês dois compartilharem a mesma nacionalidade, o que é algo que acontece até hoje.
Homens realmente grandes não nascem grandes, tornam-se grandes
Tal qual uma empresa, a máfia deve se expandir para obter lucros. Essa parte é o grande carro chefe do jogo, pois a intenção de simular um mercado ilegal está bem madura na cabeça dos desenvolvedores. Como dito anteriormente, o aspecto humano é bem intenso. Além de ter a confiança da pessoa que deseja obter um produto ilegal, cada comprador terá uma certa demanda, e não será possível vender mais do que isso a cada turno. Confesso que achei frustrante ter que esperar vários turnos até conseguir vender todo meu estoque de bebida alcóolica, mas é justamente isso que te incentiva a buscar novos compradores.
Uma máfia não opera sozinha, logo achar parceiros para a sua gangue é essencial. O apoio poderá vir de forma direta, como algum personagem que poderá vender automaticamente ou gerenciar algum negócio, ou indireta, através de personagens encarregados de extorquir os comerciantes locais a fim de te entregar uma quantia garantida todo mês. As possibilidades dentro desse contexto são enormes, cabendo ao jogador escolher o melhor uso para cada capanga.
Por fim, esse projeto realmente merece a atenção dos jogadores – principalmente aqueles que se frustraram com Empire of Sins. Não espere nenhuma inovação que adicione combates intensos no futuro, pois, como dito, esse não é o foco. Em vez disso, espere por mais mecânicas relativas ao mercado – imagino que um sistema de preços por localidade cairia como uma luva por aqui. City of Gangsters será um jogo de nicho, cujo objetivo é mostrar que a parte administrativa do comércio ilegal pode ser mais interessante que os conflitos.