Chernobylite vai te levar para o local onde ocorreu o maior acidente nuclear da história. O lamentável fato foi recontado em muitas mídias como documentários, filmes, livros e muitos outros que fornecem detalhes sobre os transtornos daquela madrugada de 26 de abril de 1986. Agora, os desenvolvedores da The Farm 51 nos dão a oportunidade de fazer um tour virtual por toda a área afetada pela radiação, após a explosão do reator nuclear número 4 da usina de Chernobyl, para solucionar novos e aterrorizantes segredos.
Neste FPS de terror com elementos de sobrevivência, a história não será linear e está cheia de mistérios. Suas escolhas vão moldar a narrativa e podem afetar as pessoas com quais você vai se relacionar. O jogo está em desenvolvimento, mas já possui bastante conteúdo e é possível experimentar através do acesso antecipado. Isso ainda ajuda os desenvolvedores, fornecendo seus feedbacks. Porém, lembre-se: assim como os bravos guerreiros que lutaram para amenizar a radiação durante o desastre, você também precisará se proteger e ter cautela durante a exposição dentro da Zona de Exclusão.
Respondendo a um chamado incomum
Aqui vamos controlar o físico Igor, um ex-funcionário da usina nuclear que retorna ao local após ouvir diversos chamados de Tatyana, sua amada que desapareceu em Chernobyl, 30 anos atrás. Será que isso não são efeitos psicológicos causados pela radiação ou pelo trauma após a explosão? A resposta pode estar neste lugar! É possível que seu nome seja uma homenagem ao fotógrafo Igor Kustin que, segundo os documentários, foi quem capturou a primeira foto após a explosão da fábrica. Talvez seja apenas coincidência (espero que não), já que durante o jogo não são citados os nomes das pessoas relacionadas ao acidente.
O ex-funcionário deseja entrar novamente na usina desativada para encontrar o que parece ser um novo tipo de material desenvolvido no núcleo após todos esses anos. O item leva o nome do jogo, Chernobylite. Ele possui uma energia que é capaz de abrir uma fenda cortando o espaço e tempo no qual estamos. O equipamento permite que você possa se teletransportar para outro local, mas exige que você caminhe no ambiente vazio (que mais parece uma fortaleza cheia de kryptonita) até alcançar a saída. Isso abre as portas para o aspecto fictício e sobrenatural do título, afinal além de ouvir os sussurros de Tatyana, Igor também verá vultos e muitas criaturas e todos eles podem estar surgindo deste local misterioso.
Devido ao trauma daquela madrugada, você terá diversas visões que se misturam as suas ações durante o jogo. São as lembranças do personagem te cumprimentando. Essa é a maneira que os desenvolvedores encontraram de recontar o acidente, enquanto a história do jogo se desenvolve. As transições acontecem de forma muito interessante, é como se o personagem fosse tomado por um choque e, diante de si, ele revê seus colegas na luta para tentar conter o desastre. As cenas são baseadas nos acontecimentos reais e causam arrepios graças ao belo visual, que é muito semelhante as fotos e documentários, como no mais recente produzido pela HBO.
Não dá para procurar Tatyana ou o que quer que seja por períodos muito longos na Zona de Exclusão, devido aos altos níveis de radiação. Desta forma, após concluir as missões ou caso seu nível de sanidade estiver baixo durante a tarefa (significando que você já ficou muito tempo exposto), o ideal é deixar o local e seguir para uma base onde o personagem estará seguro para descansar. É neste momento que começa a característica curiosa de Chernobylite, a sobrevivência.
Enquanto explora a Zona de Exclusão, você pode coletar diversos materiais que incluem ervas, placas eletrônicas, inflamáveis e outros que servirão para criar itens medicinais e objetos para uso dentro da sua base. O estranho é que tudo que há nesta área foi contaminado pela radiação. Dizem que você até pode visitar o local, mas com as devidas precauções, como não tocar em nenhum dos objetos, já que eles possuem altos níveis de contaminação que vão perdurar por muitos anos. Desta forma, fica confuso entender como os personagens podem fazer uso destes itens para sobreviverem em Chernobylite.
Ignorando este detalhe, você precisará construir equipamentos, itens para recuperar sua saúde e sanidade. Além disso, é necessário criar mobílias para acomodação como camas, mesas, bombas de água e entre outros. Confesso que fiquei surpreso, pois não esperava que jogo tivesse tamanho gerenciamento de recursos e nem que a base serviria para alojamento de mais personagens. Como citado acima, isso pode confundir o entendimento da contaminação, mas também mostra que a história está cheia de possibilidades, inclusive as pessoas podem te abandonar dependendo de como você as trata.
De volta para abril de 1986
As missões estão distribuídas em diversos locais e o jogo te dará a oportunidade de visitar, por exemplo, parte de Pripyat, a cidade criada para alojar os funcionários da usina de Chernobyl, que atualmente está abandonada e é conhecida como a cidade-fantasma (para quem não conhece, isso é real e com certeza, vale a pesquisa). A cidade está absurdamente bem produzida e, ao mesmo tempo que é assustadora, é também uma viagem a 1986, pois tudo está como foi deixado. Você verá carros da época, mobílias datadas, brinquedos, roupas e muitos itens consumidos pelo pó e pelo tempo. Os desenvolvedores prometeram que em breve mais locais serão disponibilizados para ampliar a experiência.
A ambientação proporciona aquele clima sinistro, desolado e preocupante, graças ao medidor de radiação que nos mantém alertas mostrando o quanto os objetos ainda estão contaminados. O turismo por esta área é limitado não apenas pela poluição, mas também pelos militares que fazem a ronda por todos os cantos e, muitas vezes, pelas aparições sobrenaturais. Sua jornada a procura de novas pistas geralmente se dará na surdina, ou seja, sempre escondido. É possível enfrentar os inimigos com golpes corpo a corpo ou com armas mas, se a coisa complicar, você pode se teletransportar de volta para a base usando o Chernobylite.
Neste lugar, você poderá encontrar outras pessoas e, dependendo de suas escolhas, elas podem te ajudar, desbloqueando novas missões que, em alguns casos, possuem tempo para serem concluídas. Ter companheiros também é importante para que você possa enviá-los em tarefas que podem ser apenas de exploração, nas quais adquirem os recursos para criar outros itens, mas também para missões de história. Um medidor dirá a porcentagem de sucesso de cada um e você fica livre para escolher quem assumirá a responsabilidade.
Também é importante que a base proporcione uma certa estabilidade para que todos permaneçam no local, quase como em Fallout Shelter. É uma mecânica interessante, mas novamente é curioso entender as motivações que vão manter os personagens neste local durante a história.
Chernobylite ainda têm um bom caminho até o lançamento oficial e os desenvolvedores têm um vasto planejamento de conteúdos até lá, em que serão adicionados novas missões de história, equipamentos, personagens e até um modo livre, que imagino ser a possibilidade de fazer um tour sem se preocupar com os inimigos. Os recursos que estão sendo apresentados agora são grandes o bastante para te prender por horas no jogo, mesmo que ocorram quedas de frames e alguns bugs de colisões invisíveis, mas são casos pequenos que não atrapalham a experiência.
Sem dúvidas, Chernobylite é uma produção primorosa podendo inspirar muitos a conhecerem mais sobre o lugar, esse é um dos pontos altos da jogatina e o que me faz recomendar o acompanhamento do desenvolvimento. Visitar a Zona de Exclusão é arrepiante e é também uma aula importante sobre um dos momentos mais infelizes para a história da humanidade.