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Todos nós já ouvimos alguma vez na vida a expressão “criticar é fácil”. De certa forma a frase faz sentido do ponto de vista prático. Quero dizer, é claro que criticar um filme é muito mais fácil do que produzi-lo, pensando aqui em força e horas de trabalho empreendidas. Mas o que as pessoas esquecem é que o trabalho do crítico é peça fundamental no funcionamento da máquina de consumo.

Hoje em dia se uma turma de amigos quiser conhecer um novo bar, basta que eles pesquisem na web sobre aquele estabelecimento para saber o que os críticos e fregueses pensam sobre ele. Se você deseja comprar um novo celular, digite no Youtube o nome do aparelho e a palavra “review” ao lado e pronto, dentro de alguns segundos estará assistindo a uma vídeo análise completa com os prós e contras daquele dispositivo.

A web 2.0 sem dúvida alguma ampliou o conceito de “feedback” com seus blogs, comentários e fóruns especializados em praticamente tudo que existe no mundo. Aliás, essas novas ferramentas acabaram tirando um pouco o espaço do crítico especializado em alguns segmentos, já que podemos saber dos próprios usuários e clientes se aquele hotel é realmente bom ou se aquele microondas dá conta do recado. Nós consumidores estamos ficando cada vez mais críticos e ajudando assim outros consumidores a fazerem suas escolhas de compra.

Entretanto, existe um segmento do mercado onde o glamour e influência da crítica especializada ainda se faz presente e necessário: a indústria do entretenimento. Nós ainda temos o costume de ler a crítica de um filme antes de pensar em sair de casa para assisti-lo ou procuramos saber o que os críticos andam falando sobre o mais recente álbum daquela banda que você curtia quando adolescente. Algumas pessoas até têm seus críticos favoritos e sempre acompanham seus textos.

Sendo assim, alguns críticos podem ter papel fundamental no sucesso de um determinado filme ou artista. Com isso acabam surgindo alguns mimos e não é de se estranhar o fato de que alguns críticos e veículos de comunicação recebem regalias absurdas para ter acesso a determinadas informações antes do resto do mundo. Ou seja, existe um grande lobby no meio disso tudo. Sabendo disso, fica realmente difícil para alguns críticos desempenharem suas funções de forma imparcial quando existe uma grande campanha de lançamento sobre o filme criticado em seu jornal, site ou revista. Ou pior, fica difícil para os leitores acreditarem em certos textos com toda essa rede de interesses ao redor daquele produto.

E como todos nós sabemos, com o avanço do mercado de games e o alto investimento em produção e divulgação/marketing dos jogos esse cenário já está presente na mídia especializada faz um bom tempo. Alguns jogos até mesmo citam a crítica positiva na própria embalagem ou trailer do jogo. Ou seja, é a crítica sendo usada como argumento de venda. Isso é poder!

Contudo, não se desespere jovem padawan. Pois os críticos de jogos possuem uma tarefa, de certa forma, mais fácil que a dos críticos de cinema, música ou literatura. Digo isso porque o jogo não é um produto artístico, mas sim um produto de design. Não existe aqui a subjetividade do mundo das artes. O crítico de games possui elementos concretos para analisar como interface, usabilidade, gráficos, etc. Claro que temos ainda os elementos “convencionais” de roteiro, direção de arte e música (em alguns jogos) para serem analisados. Grosso modo, podemos dizer que não existe muito espaço para que um grande lobby ofusque os claros problemas de um jogo. Se o controle não responde de forma precisa ao comando do jogador, a jogabilidade é ruim. Preto no branco.

Claro que nós críticos de videogames temos mais volume de trabalho, já que um jogo demora em média de cinco até quarenta horas para ser finalizado e os pontos a serem analisados em nossos textos são maiores do que os de um filme, por exemplo. A facilidade acima citada não está no trabalho em si, mas no processo da crítica. Não jogue pedras em mim, crítica especializada!

Infelizmente, hoje em dia qualquer pessoa pode criar um blog ou postar seus argumentos em páginas de redes sociais mundo a fora. Não que isso seja ruim. No começo deste texto digo que é ótimo poder ler o que outros consumidores ou leitores pensam daquele determinado produto criticado. A comunidade que se formou na internet para criticar e argumentar sobre a produção alheia é muito saudável e importante. Mas devemos tomar cuidado ao tentar criticar algo de forma autoral. Vejo por aí muito texto desrespeitoso, chamando de lixo o que na verdade é o trabalho de outras pessoas. Recheando o texto de opiniões pessoais e ignorando argumentos construtivos e relevantes.

Enfim, o que quero dizer com isso tudo? Comecei falando de lobby, depois responsabilidade e agora sobre liberdade de expressão? Que salada é essa? Pois bem. A mensagem aqui é a seguinte: tenham senso crítico! Saibam diferenciar um bom texto de outro não tão bom. Leiam mais de uma crítica para saber se o que foi dito confere com a realidade ou não. Tentem ouvir a crítica não especializada, em fóruns ou blogs.

Sei que dinheiro não cai do céu e aqui no Brasil videogame não é nada barato. Quando vou escrever um texto crítico tenho noção da responsabilidade em comunicar os pontos positivos e negativos do produto analisado, mas também não esqueço que estou criticando algo que outras pessoas investiram um grande tempo e força de trabalho para criar. Por isso sempre gosto de ler críticas respeitosas e detalhadas que não tentem me vender ou não um produto, mas que me esclareçam a tal ponto em que eu mesmo chegue a conclusão de investir ou não meu suado dinheirinho naquele jogo.

Espero que os leitores do Gamerview também façam o mesmo. Inclusive com os meus textos.

Vejo vocês na próxima crítica!