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Há pouco mais de 11 meses, a Nintendo colocou à venda o Nintendo Classic Mini: Nintendo Entertainment System. Uma versão reduzida do mítico NES, que inclui uma réplica 1:1 do controle original do console. Ao contrário do NES original, ele não aceita cartuchos. O console vem com 30 jogos pré-instalados, em uma seleção que incluiu vários dos clássicos indiscutíveis do console, mas também uma boa quantidade de jogos medianos.

Foi o primeiro produto retrô da Nintendo (sem contar algumas reedições limitadas de alguns Game & Watch), e por isso foi um sucesso de vendas. Infelizmente, a Nintendo (sem querer ou de propósito) fabricou um número completamente insuficiente para atender a demanda, fazendo com que o mini console fosse uma raridade, sendo revendido por até 4 vezes o seu preço original.

NES Mini, aquele que poucos conseguiram achar pra comprar (Fonte: Jacob Siegal/BGR)

Depois desse sucesso, todo mundo esperava que a Nintendo seguisse aproveitando o seu fundo de catálogo, e obviamente a fabricante japonesa não decepcionou. Há pouco tempo, foi lançado no mundo todo o Nintendo Classic Mini: Super Nintendo Entertainment System, uma réplica do SNES, sucessor do NES lançado na década de 1990.

O mini-console segue exatamente a mesma fórmula do seu predecessor: jogos pré-instalados, sem a possibilidade de instalar mais, e réplicas 1:1 dos controles. No entanto, a Nintendo melhorou um pouco o pacote para os seus consumidores.

O SNES Mini é mais caro que o NES Mini (80 dólares / euros, contra 60 do seu predecessor), mas tem a vantagem de ter dois controles em vez de apenas um. Além disso, apesar de incluir apenas 21 jogos (desculpem, “20+1”), a seleção é muito mais equilibrada. Alguns jogos são mais fracos do que outros, claro, mas não existe nenhum jogo que não está indiscutivelmente em uma lista de top 50 do console. Pelo menos cinco desses jogos estão em qualquer lista de melhores de todos os tempos.

Versão norte-americana do SNES Mini (Fonte: Engadget)

Outra vez, como o NES Mini, o SNES Mini se apóia em emulação – claro, porque é exatamente o mesmo hardware do NES Mini; um micro-computador baseado em um SOAC, rodando um SO baseado em kernel Linux. Isso também ajudou os hackers da scene a desbloquearem o console em poucos dias. Já está disponível um utilitário que ajuda a inserir novos jogos, melhorar o aspecto da interface e inclusive acrescentar emuladores de outros sistemas. Não vejo o porquê, mas existe a opção para quem quiser.

A emulação é boa, mas não é ótima. O problema com a emulação de SNES é que muitos jogos incluíam chips extras para melhorar a performance dos jogos. O mais famoso deles foi o Super FX, que equipava Star Fox e Yoshi’s Island (os dois incluídos no pacote). Esses chips acrescentam complexidade à emulação, fazendo com que alguns jogos tenham problemas para serem emulados. Star Fox está bem emulado, mas Yoshi’s Island tem alguns glitches gráficos (difíceis de notar para quem não conhece o jogo original, mas estão ali).

Outro problema com a emulação é o fato de que o SNES Mini usa uma saída HDMI, o que faz com que aqueles pixels grandes como montanhas apareçam muito. No NES Mini isso não era um problema tão grave, mas a maior capacidade gráfica do SNES fez os game designers usarem muito mais as cores e o famoso Mode-7 (capacidade do SNES de fazer zoom e deformar gráficos à vontade). Em uma televisão de tubo normal e com a saída RF do SNES original, isso não era um problema porque a imagem ficava mais desfocada. Mas no HD límpido do SNES Mini, os defeitos saltam aos olhos. A armadura de Samus em Super Metroid parece pintada por um hippie esquizofrênico. Em Earthbound, o logotipo da Ape (uma das desenvolvedoras do jogo) parece um rabisco sem sentido. E a intro da floresta de Secret of Mana é simplesmente uma bagunça. O console inclui um filtro com scanlines para simular uma televisão CRT, e é ESSENCIAL para uma boa experiência.

Sobre os jogos, a menção de “20+1” jogos que fiz lá em cima é porque, de saída, o console apenas disponibiliza para o jogador 20 jogos. No entanto, após terminar a primeira fase de Star Fox, é liberado o acesso à Star Fox 2. Esse jogo nunca havia sido lançado oficialmente pela Nintendo. Quando ele estava quase pronto para ser lançado, o Sony Playstation já estava no mercado e a Nintendo decidiu que não seria uma boa ideia lançá-lo e abrir a porta à comparações injustas. Por isso o jogo foi cancelado e guardado na gaveta até hoje.

Star Fox 2 é bastante competente, uma melhora do primeiro Star Fox em todos os sentidos. É possível escolher entre seis pilotos distintos (os já conhecidos Fox, Falco, Peppy e Slippy, e as novatas Miyu e Fay), o que se traduz em três tipos de naves distintas (com balances distintos de velocidade e defesa). Em algumas fases, onde precisamos destruir o reator de algumas naves desde dentro, somos apresentados ao Walker, forma alternativa do Arwing (e que depois/antes apareceria/apareceu em Star Fox Zero, o decepcionante jogo da franquia para Wii U). E o jogo também adiciona interessantes componentes de estratégia (em vez de caminhos lineares, o jogador precisa se dividir entre atacar a armada de Andross e defender Corneria, porque se os danos do planeta chegam a 100%, é game over).

No entanto, Star Fox 2 tem um problema: nunca o havíamos jogado antes. Já jogamos todos os outros, então coisas antigas, como os gráficos datados e os controles ortopédicos do primeiro Star Fox, passam pelo filtro CRT da nostalgia e elas acabam ficando até bonitas. Mas não temos nostalgia com Star Fox 2, então todos os defeitos do jogo aparecem em um claro e límpido HD.

Star Fox 2, rodando com defeitos especiais em HD

Minha cabeça consegue reconhecer que Star Fox é um grande jogo, que melhora os pontos fracos do primeiro Star Fox, e ainda melhora (mas não muito) os gráficos, graças à segunda revisão do Super FX. Mas só consigo pensar que existem outros 10, 15 jogos que estão disponíveis no mesmo console, a dois cliques de botão e 10 segundos de distância… O que posso dizer? Não tenho vontade de jogá-lo mais, ainda mais depois de algumas horas hackeando o bicho e acrescentando outros jogos fora do alcance da Nintendo, como Chrono Trigger e Turtles In Time. Star Fox 2 é um jogo de grande valor histórico, mas que não tem o sex-appeal dos seus companheiros de pacote.

De todas formas, é um grande jogo e merece ser jogado. Além disso, o fato do SNES ter dois controles incluídos em vez de um, e uma seleção menor de jogos mas infinitamente melhor e mais equilibrada, faz com que o conjunto do SNES Mini como um todo seja uma melhora indiscutível sobre o NES Mini. Se você encontrá-lo por um preço razoável (algo difícil, mas não completamente impossível, já que a Nintendo disponibilizou um pouco mais de consoles desta vez), compre dois. Um para jogar e acrescentar alguns mais dos seus jogos favoritos e outro para mostrar na estante. Mas só se for a edição européia, que é a coisa mais cuti-cuti do mundo. A edição USA, quadrada, branca e roxa, é uma aberração da natureza.