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Quem me lê por aqui há algum tempo sabe que eu sou um defensor da scene. Em outras palavras, do hackeamento de consoles; para executar programas homebrew como emuladores e media centers, para possibilitar a execução de jogos de uma área geográfica diferente… e também do carregamento de backups. Que sim, normalmente é um eufemismo para pirataria, mas para mim é exatamente isso, poder jogar usando o backup de um jogo enquanto o disco está guardadinho no meu armário.

Quando o WiiU foi lançado, as possibilidades da scene pareciam ser infinitas. O team fail0verflow, os mesmos que hackearam o PS3 e que antes haviam escancarado a segurança do Wii, divulgou alguns vídeos pouco depois do lançamento do console em que eles aparentemente haviam hackeado de alguma maneira o console. Parecia que era questão de tempo até que tivéssemos um hack completo.

No entanto, as coisas não avançaram mais. Foram divulgados projetos em que o Gamepad era usado no PC, e um conjunto computador + joystick era usado como Gamepad; para os pirateiros, há algumas semanas foi anunciado um chip instalado no leitor que possibilitaria o carregamento de backups. Mas nenhum programa, nenhum carregador de programas, nem mesmo a documentação necessária para a scene havia sido liberada.

Até que, nesta segunda-feira, marcan, um dos membros mais ativos do fail0verflow, divulgou uma coluna no site do team. E a leitura é interessante… e intrigante.

Basicamente, marcan disserta sobre a diferença entre a situação no mercado de eletrônica de consumo quando o Wii foi lançado e a situação atual. Parece que foi ontem, mas o Wii foi lançado em 2006, há sete anos. Citando marcan: “não havia muitas pessoas que tivessem um PC na sala de estar. Os PC’s ainda eram relativamente grandes, e as ofertas que vinham da China eram limitadas a media players terríveis. Naquela época, a perspectiva de ter um console de videogames que fosse também um PC, e ser capaz de navegar na internet, executar jogos para plataformas antigas via emulação e executar jogos homebrew em um aparelho que já estivesse na sua sala de estar era bastante atraente.”

O que temos hoje em dia? É fácil ter um PC instalado na sala de estar, muitas vezes inclusive executando vídeos diretamente na televisão. Media players são relativamente baratos, tablets também. Aparelhos de arquitetura aberta com Android (como o Ouya) estão disponíveis por um preço ridículo para o poder de processamento que oferecem.

E o que os consoles oferecem? O WiiU, por mais que tenha boas idéias, não oferece tanto poder de processamento para o que custa. Os portáteis tampouco. Os novos Playstation e Xbox serão PC’s metidos a besta. Sem contar que, com a nova filosofia de aparelhos permanentemente online, as companhias podem detectar intromissões indesejadas e contra-atacar de várias maneiras (upgrades, baneamentos etc.).

Com tudo isso, marcan pergunta em sua coluna: para que seguir hackeando os consoles? Basicamente, os hackers precisam gastar tempo, dinheiro e massa cinzenta para conseguir hackear a segurança de um console e executar um programa… sendo que eles poderiam obter o mesmo resultado utilizando um aparelho Android, ou mesmo um PC, com um gasto financeiro equivalente ou menor, com muitíssimo mais eficiência, e sem nenhuma necessidade de quebrar medidas de segurança – o que, além de consumir tempo, pode trazer consequências legais. Quem vai se meter nessa?

Marcan, talvez de maneira não-intencionada, decretou o fim de uma era. Não deverá haver mais homebrew nos consoles, pela falta de interesse ou tempo das pessoas com conhecimento e capacidade para fazê-lo; mas principalmente, devido ao fato de que há alternativas melhores, mais baratas e mais simples hoje em dia.

E isso pode fazer também com que a pirataria sofra um baque. Os pirateiros sempre se aproveitaram de alguma forma do trabalho da scene; se não há scene, ou se ela não está voltada para a quebra de segurança, as pessoas encarregadas desse trabalho serão em menor número e menos qualificadas… o que significa que os métodos de pirataria serão menos confiáveis. Combinado com os meios que as empresas têm para contra-atacar, isso pode supor um golpe mortal.

Antes que alguém diga, não acho que tudo isso seja algo bom para os consoles. Não a pirataria (apesar de que, sim, eu me beneficio dela indiretamente quando uso meus backups em vez dos meus jogos), mas a falta de scene. Se eu tinha acesso a coisas como o XBMC, agora terei acesso apenas ao que as Três Grandes se dignem a permitir que eu execute. Menos valor pelo mesmo dinheiro.

Mas bem, de qualquer forma estamos no final da era dos consoles, daqui a pouco tudo que vamos poder jogar será Angry Birds, Temple Run e variantes. Pra que me preocupar?