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Como vocês já devem saber, o novo PSPGo da Sony terá seus jogos vendidos apenas através da PSP Store, sem possibilidade de entrada de jogos físicos (seja UMD ou de alguma outra forma). Algumas redes de lojas européias, descontentes com o fato de estarem sendo jogadas fora do negócio da venda de jogos novos e usados, estão tomando ações para boicotar o portátil da Sony. Já em junho, vários lojistas ingleses falaram à Edge que não viam justificativa para pular no barco do PSPGo, anunciando que não iriam ter o console em estoque ou iriam ter muito poucas unidades. A principal reclamação, óbvio, é que a Sony está jogando o preço lá em cima, maximizando seus lucros (já que o PSPGo, basicamente, é um PSP sem drive de UMD e com alguma memória flash interna) e deixando os lojistas fora da festa.

Esta semana, tivemos o anúncio da rede holandesa Nedgame de que ela simplesmente não vai vender o PSPGo. Um rumor similar foi noticiado pela Eurogames, indicando que redes muito importantes estão pensando na possibilidade de não vender o console na Espanha. Numa terceira matéria, eles nomeiam claramente a rede de lojas MediaMarkt, uma das mais importantes da Europa, dizendo que as filiais espanhola e italiana estão proibidas de vender o PSPGo. Também indicam que a loja online ShopTo, apesar de não se juntar ao boicote, trata o novo aparelho como “quase morto antes mesmo de chegar”.

Dá pra entender o ponto deles. Ninguém tem lucro com a venda de consoles. Eles são vendidos pelos fabricantes a preço de custo e dão uma margem baixíssima aos lojistas – a exceção é a Nintendo, que consegue tirar dinheiro do Nintendo DS e do Wii. Mesmo os jogos novos dão uma margem baixa. Não é por outro motivo que as redes especializadas como GameStop tiram quase todo o seu lucro da compra e venda dos jogos usados.

Michael Patcher, o analista de games que não entende nada nem de games nem de merda nenhuma, disse que os lojistas estão sendo “bobos” e diz que a situação é “ridícula”. Ele diz que “lojas de eletrodomésticos vendem geladeiras mas não comida, todo mundo vende iPods mas não a música”. Claro que ele convenientemente “esquece” que as lojas e fabricantes de eletrodomésticos não vendem as geladeiras a preço de custo esperando tirar o lucro da comida que venderiam, já que as geladeiras não são compatíveis apenas com a comida licenciada pelo fabricante da geladeira…

Todo mundo diz que a venda de jogos online é o futuro. Claro, isso é o melhor para os fabricantes, para os desenvolvedores e para os distribuidores. O problema é que é uma merda para todo o resto dos envolvidos.

A inexistência dos jogos físicos tira a comida da boca dos lojistas. Os consoles, como disse acima, são vendidos a preço de custo, com margens baixíssimas para todo mundo. Isso é feito para aumentar de maneira “artificial” a base instalada para forçar o consumidor a comprar os jogos. Nos jogos sim que está o lucro. Mesmo assim, as margens não são tão grandes, e as cadeias especializadas em games têm que entrar no mercado de jogos usados e de aluguel de jogos para conseguir fechar o mês. A inexistência dos jogos físicos vai ser a morte para esses lojistas, porque a Sony apenas vê o seu lado – aumenta a sua margem mas não a dos lojistas, que continuam com margens baixíssimas para vender o PSPGo.

Para os consumidores, isso também é terrível. Pelo mesmo preço que você está pagando hoje por algo físico, com manual, caixinha, tudo bonitinho, você vai comprar daqui a pouco algo que vai estar no seu HD, que você não vai poder usar do jeito que quiser, já que o número de downloads é limitado e não vai poder levar para a casa de um amigo para jogar ali, que vai ter um manual eletrônico difícil de consultar, e que você não vai poder vender depois. O sonho dos desenvolvedores cretinos que acham que quem compra jogos usados é igual a um pirata – porque, fora de qualquer realidade, acham que alguém que baixa um jogo ou mesmo que paga 20 dólares por um jogo usado é por ser um mau-caráter e, se fosse bonzinho, pagaria com um sorriso 60 dólares pelo jogo novo, mesmo que ele seja uma merda. Na boa, parece que esse pessoal não aprendeu com o que as lojas de música online penaram. Mesmo o iTunes da Apple, que antes vendia música com DRM (para evitar a cópia livre), acabou migrando para a venda de música DRM-free, depois de muita briga do Steve Jobs com as gravadoras.

Claro, as distribuições eletrônicas são ótimas para os desenvolvedores menores. Nunca que Jonathan Blow conseguiria lançar Braid como um jogo retail. Mesmo alguns projetos interessantes de grandes estúdios como Shadow Complex não seriam rentáveis sem ser por download. Se eu compro um jogo pequeno, descompromissado, não vejo problema com o download. Mas tentar passar um jogo a preço “completo” e me capar funcionalidades? Depois ainda reclamam quando a gente começa a piratear e comprar usado.