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Atenção! Esta coluna reflete apenas a opinião do autor e não necessariamente a dos outros membros do Gamerview.

Por que todo executivo em posição de liderença nessa indústria é arrogante? Na época do NES, a Nintendo fazia o que queria. As thirds tinham que vender os jogos como a Nintendo definia. Tinham que incluir os chips de proteção e pagar o imposto revolucionário que a Nintendo impunha. Terminava dando um bom serviço, mas manejava o mercado como uma tirana. No entanto, parece que a época do N64 ensinou uma lição de humildade à Nintendo. Não inteligência, porque ainda tomam algumas decisões que fazem parecer que eles não entendem o mercado em que estão há mais de 30 anos, mas pelo menos sabem que devem ouvir o cliente de vez em quando. Agora, a posição de arrogante é da Sony. E com a mesma postura de ditadores de república bananeira.

Já entrou para a história o Ken Kusaragi, no lançamento do PS3, dizendo que os fãs estariam dispostos a trabalhar mais horas para comprar o console de 600 dólares. E nos últimos dias tivemos mais dois exemplos. O primeiro veio na semana passada, em uma entrevista para a Time, onde perguntaram a Jim Ryan (chefe da divisão global de vendas da Sony) sobre a retrocompatibilidade de seu rival direto, o Xbox One da Microsoft e o mesmo respondeu:

Sem me aprofundar muito sobre esse tema, posso dizer que é uma dessas coisas que todo mundo pede, mas pouca gente usa. Além disso, eu estive num evento de Gran Turismo recentemente, e havia jogos de PS1, PS2, PS3 e PS4, e os jogos para PS1 e PS2 pareciam velharias, quero dizer, por que alguém vai jogar isso?

Uma resposta interessante, ainda mais considerando que a Sony cobra – e cobra bem, de U$6,00 a U$10,00 por um jogo PS1 e de U$15,00 a U$20,00 por um jogo PS2 – para que alguém possa jogar um jogo de PS1 e PS2 no PS4. A Microsoft pelo menos não cobra de novo do “otário” que quer jogar a sua “velharia” no Xbox One. De fato, a Sony não vende nenhum dos Gran Turismo de PS1 e PS2 na PS Store. Vai ver, ele queria dizer que são só esses jogos que parecem “velharias”, os outros jogos de PS1 e PS2 são super-top.

O segundo exemplo veio nesta semana, quando  a Microsoft anunciou que Minecraft terá um update em breve que permitirá o jogo cross-platform entre todas as versões do jogo… Todas, menos PS4. A Psyonix, desenvolvedora de Rocket League, também anunciou a versão de seu jogo para Nintendo Switch e disse que liberará o jogo cross-platform entre todas as versões do jogo… Todas, menos PS4. Quando perguntado sobre o tema ontem em uma entrevista à Eurogamer, Ryan se saiu com essa:

Não é que tenhamos uma posição contra isso. Já fizemos isso no passado e sempre estamos dispostos a falar com outros desenvolvedores ou publishers sobre isso. Infelizmente, essa é uma discussão comercial entre nós e outras empresas, então não vou entrar em mais detalhes sobre isso.

O repórter insistiu, dizendo que é algo que seus próprios consumidores estão pedindo e o argumento mudou, mas só um pouquinho, quase não deu pra notar:

Nós devemos ter sempre em conta a responsabilidade que temos com nossos clientes. Você sabe tão bem quanto eu que Minecraft é um jogo censura livre, mas o público principal é muito jovem. Nós temos um contrato com as pessoas que jogam online no Playstation, dizendo que eles estão no universo Playstation e que temos obrigação de tomar conta deles e desse universo. Temos que ter muito cuidado se deixamos nossos jogadores, que em muitos casos são crianças, expostos na rede a influências externas que não podemos controlar.

A partir daí, já vou traduzir literalmente o próximo trecho da entrevista, porque não haveria como melhorar as seguintes perguntas do repórter Wesley Yin-Poole:

WYPoole: Isso não parece ser um problema para a Nintendo, que talvez seja a companhia mais preocupada com a proteção de seus usuários menores de idade.

JR: Sim, é verdade. Todo mundo deve tomar suas próprias decisões. Nós tomamos as nossas. Como disse, não somos contra crossplay em absoluto.

WYP: A decisão é final? Ou vocês estão deixando a porta aberta para uma mudança de posição no futuro?

JR: Não acho que possamos nunca falar em decisões finais. Normalmente, quem tem posições dogmáticas sobre algo é um tolo. No entanto, não há discussões sobre isso no momento.

Realmente, como diz Jim Ryan, eles não têm nenhum problema com crossplay, já que tal recurso existe entre PS4 e Vita. Street Fighter V e Final Fantasy XIV também possuem crossplay. Só omitiu um pequeno detalhe: em consoles, esses dois jogos são exclusivos da Sony. O crossplay nesses dois casos existe apenas com PCs. Rocket League no PS4 também tem crossplay, mas também é apenas com PC; a Psyonix já disse que está pronta para abrir tal recurso entre PS4 e Xbox One, se não o fez, é porque a Sony não deixa. E aí a posição de Ryan fica clara: Retrocompatibilidade é muito bom, desde que seja pagando para a gente. Crossplay é muito bom, menos se for com nossos concorrentes. Permitir crossplay com Xbox One e Switch significa aumentar as opções de nossos consumidores? Pois que se danem, para o inimigo, nem água.

E não estou dizendo que os outros são irmãzinhas de caridade. Provavelmente tomariam decisões parecidas. A única coisa que sei é que, nos últimos anos, quando Microsoft e Nintendo tomaram decisões prejudiciais a seus consumidores, foi menos por maldade e mais por burrice. A Sony, não. A arrogância de ser líder de mercado faz com que ela ignore seus consumidores de propósito. Porque, afinal de contas, se a gente não der retrocompatibilidade para eles, o que eles vão fazer? Comprar um Xbox One e não jogar com os amigos, que têm todos PS4?

A Microsoft e a Nintendo costumam ser patéticas. A Sony é maligna. E eu, francamente, prefiro ser patético a ser maligno.