No último State of Play, que ocorreu em 31 de Janeiro, fomos pegos de surpresa com a revelação de Silent Hill: The Short Message, um jogo grátis exclusivo de PlayStation 5 disponibilizado logo após o evento. Seria uma demo? Uma nova versão do P.T.? Não, é um jogo completo mesmo, ainda que curto. Dura entre 1 hora e meia ou mais, dependendo do jogador. E a experiência proposta neste game não é para qualquer um: é genuinamente assustador, abordando temas pesados como abandono de incapaz, bullying, depressão, automutilação e suicídio.
A franquia Silent Hill está renascendo e mais sombria do que nunca. Ignorando o flop que foi Silent Hill: Ascension, temos aqui um gostinho do que vem pela frente. Isso sem considerar o hype com o remake de Silent Hill 2, embora o novo trailer tenha deixado todo mundo preocupado de bobeira, apresentando uma build antiga e claramente sem polimento.
O que é Silent Hill: The Short Message?
Co-desenvolvido pela Konami e HexaDrive, Silent Hill: The Short Message é um jogo com visão em primeira pessoa, sem combate e focado na experiência da exploração. Trata-se de um projeto experimental para testar a expertise da atual equipe da Konami no desenvolvimento de jogos de horror. Silent Hill 4: The Room foi lançado há 20 anos, portanto existia a dúvida se eram capazes de fazer um novo jogo. A Konami viu na HexaDrive, que originalmente propôs uma demo para o remake de Silent Hill 2 (que ficou aos cuidados da Bloober Team), a oportunidade de fazer algo completamente novo juntos.
A história coloca o jogador na pele de Anita, uma jovem que está em busca de sua amiga desaparecida, Maya. Seguindo pistas e conferindo mensagens em seu celular, Anita explora um condomínio abandonado chamado A Vila. Todo o passado deste lugar amaldiçoado, localizado na Alemanha, é revelado conforme o jogador avança por suas ruínas e grafites. Um lugar cujo o telhado ficou conhecido como um ponto de suicídio, onde muitos jovens entregaram suas vidas.
A jogatina se desenrola por ambientes mal iluminados, com Anita utilizando a lanterna do seu celular para enxergar melhor. Lendo diários, jornais e outros documentos encontrados, incluindo pinturas, ela vai ganhando noção do que pode ter ocorrido com sua amiga. Em paralelo, ela mantém contato com outra amiga por mensagens no celular, chamada Amelie. Não demora para o jogador estranhar o comportamento da protagonista e outros eventos que ocorrem no prédio.
A troca de realidade para o mundo sombrio, marca registrada da franquia, ocorre em três momentos diferentes, sendo uma mais tensa que a outra. Quando isso ocorre, o jogador é inserido em um labirinto tendo que escapar de uma criatura tomada por flores de cerejeira. Caso seja alcançada, morre na hora e retorna como se estivesse em um pesadelo, impossibilitada de sair da Vila. Tal punição só acaba quando você “encontra”. O quê? Não darei spoilers. Quanto à criatura, trata-se de uma manifestação criada à partir de um trauma – outra característica marcante da franquia.
Escuridão e perseguição
No começo, você se sente seguro ao perambular pelos ambientes da Vila. Mas, em pouco tempo, o mistério no ar dá lugar à acontecimentos estranhos e memórias de Maya vindo à tona, com cenas gravadas em live action. A tensão aumenta com a eficaz trilha sonora de Akira Yamaoka, que definiu desde o primeiro Silent Hill o tom tenebroso que viraria parte do DNA dos jogos. E quando a primeira perseguição ocorre, minha nossa senhora… A dopamina do jogador vai às alturas. Eu me peguei erguendo os pés enquanto sentado no sofá, de tanta tensão.
Por outro lado, essas perseguições me trouxeram o gosto amargo de Shattered Memories e Downpour, dois games ocidentais que se esforçaram mas não chegaram aos pés dos games japoneses. Falhar várias vezes, o que ocorreu comigo na última perseguição do game, me trouxe tamanha frustração que me fez parar de jogar pra voltar outro dia. E ver uma porta fechada por correntes, igualzinho em Silent Hill 4: The Room, também me trouxe desdém. Entendi que é uma homenagem, mas precisava? Nestes aspectos, senti falta de criatividade.
Agora uma coisa não posso negar: eu tive bastante medo jogando Silent Hill: The Short Message. Claro, estar em primeira pessoa ajuda bastante na imersão, mas acredito que a escuridão de algumas áreas – potencializado pelo HDR ligado – deu uma zoada no meu psicológico. Os temas do game já trazem uma certa agonia, mas não esperava ter medo assim. Última vez que senti medo pra valer foi em Resident Evil 7. Dito isso, a Konami está levando a névoa para a direção certa.
Um alerta para os jovens
Silent Hill: The Short Message foi desenvolvido com a nobre finalidade de levar uma mensagem importante para quem jogar: se você (ou alguém que conheça) está se sentindo sozinho, excluído, sofrendo com um trauma passado, enfrentando bullying, com problemas em casa, tendo pensamentos suicidas, dentre outras situações delicadas, procure ajuda! Ligue para 188 ou entre no site do CVV – Centro de Valorização da Vida. Você pode conversar, à qualquer momento, com um voluntário e receber ajuda.
O propósito do game vem de encontro com a crescente taxa de suicídio entre os jovens no Japão, que se intensificou durante a pandemia da Covid-19. Com as redes sociais e a busca por popularidade e aceitação, os jovens sofrem constantemente com a ansiedade e desenvolvem transtornos mentais, como a depressão. E isso tudo está no game, personificado como protagonista. Se identificar com Anita é a deixa para buscar ajuda. E ver nela uma pessoa que conheça, independente do sexo, é um sinal de que algo precisa ser feito. Como alertado em Silent Hill: The Short Message, “um passo corajoso pode salvar vidas.”