Eu sempre estou procurando coisas para escrever matérias. Normalmente, se alguém perceber um padrão, eu gosto de pegar um tema espinhudo para culpar os jogadores e inocentar a indústria – nem tanto inocentar, mas mais algo como “eles simplesmente dão o que os jogadores pedem”.
Bem, eu finalmente encontrei o tema desta semana, cortesia do Brainy Gamer. Um vídeo promocional de Modern Warfare 2 mostra Cole Hamels, pitcher do time de beisebol Philadelphia Phillies, fazendo uma campanha para que os jogadores evitem jogar granadas aleatoriamente. Ele diz “they’re for pussies” e o vídeo é patrocinado por uma associação chamada Fight Against Grenade Spam. Para quem não notou, a sigla dessa “associação” forma a palavra “FAGS”. Em português, “fags” e “pussies” seriam bem traduzidas por palavras como “bichas” e “viados”. Em outras palavras, são gírias ofensivas para homossexual.
A Infinity Ward tentou rapidamente tirar o corpo fora, falando que essa campanha era coisa da Activision. O pior é que Robert Bowling, gerente de relações públicas da empresa, havia dito que “não apenas conhecemos o jogo, mas também o jogador; nós sabemos o que esperar deles, e o que eles esperam da gente; então isso nos ajuda a direcionar as decisões não só de design do jogo mas todas elas, incluindo relações públicas”.
O pior? Acho que ele acertou na mosca, porque o vídeo foi mesmo feito de acordo com o jogador médio. Gosto de acreditar que quem lê este site tem um nível cultural um pouco mais elevado do que a norma (apesar de continuar lendo minhas colunas…). Mas quando a gente vê o pessoal que frequenta os fóruns e Orkuts da vida, ou joga umas partidas online com desconhecidos na Live, não tem como não pensar que o estereótipo do gamer molecão e sem nada na cabeça é válido.
E a Infinity Ward/Activision não foi a única a pensar isso, obviamente. Só tem que lembrar a infame e simplesmente ridícula campanha Sin To Win, feita pela EA na Comic Con de San Diego neste ano, para promover Dante’s Inferno: os visitantes que mandassem fotos feitas com as atendentes dos stands poderiam ser sorteados para ganhar um jantar e “uma noite cheia de pecado” com duas garotas. Note-se que não existia a opção de passar uma noite com dois garotos…
Ou mesmo a Platinum Games, que soltou o (já comentado por aqui) absolutamente vergonhoso e sexista Bayonetta, incluindo uma ridícula campanha intitulada “Você pode ser Bayonetta?” em conjunto com a revista Maxim, em que se pedia fotos de cosplayers da Bayonetta que capturassem a “essência, personalidade, estilo e sexualidade” da personagem.
Em nenhum dos casos ninguém foi obrigado a participar. E existem muitas coisas muito piores por aí. Mas vamos pensar: e se, em vez de anúncios e promoções de videogames, nós estivéssemos falando da promoção de um carro, um sorvete ou uma televisão? As companhias REALMENTE iriam soltar campanhas falando que sair correndo pelas estradas era coisa de bichas, que quem mandasse fotos com as atendentes do supermercado que oferecessem o sorvete ia ganhar uma noite com duas prostitutas, ou fazer uma campanha para que mulheres mandassem fotos em que pudessem mostrar toda a “sexualidade” do novo modelo de televisão?
Se existem essas campanhas, é porque existe o sentimento de que o jogador é alguém irrelevante, de segunda classe, cheio de preconceitos, machista, sexista e incapaz de pensar no sentimento dos outros. Por isso não existe o medo do escândalo nacional com campanhas chocantes, e assim são feitas campanhas que miram exatamente um público com essas características.
O problema é que estas campanhas fazem com que, aos olhos dos não-jogadores, todos os jogadores que não são assim (e são muitos) também acabam sendo vistos como um monte de baratas, mesmo que sejam pessoas civilizadas. E, francamente, isso me deixa puto. Já fiz muita coisa ruim na vida, mas ainda ter que aguentar comentários sobre coisas que eu não fiz e nunca farei simplesmente porque alguns fazem isso é duro de engolir.
A gente pode argumentar que é um preconceito? Claro, mas assim é a vida. Todo mundo tem algum tipo de preconceito – lembrando que um preconceito não tem que necessariamente ser negativo (muita gente acha que os EUA são superiores em tudo, por exemplo). Então o melhor a fazer é realmente dar o bom exemplo. E punir quando necessário, obviamente.