Para nós, que escrevemos para meios de comunicação relacionados a videogames, sempre é muito difícil fazer reviews. Sim, é verdade, não fiquem com esse sorrisinho no canto da boca. Porque nem tudo que nós jogamos é do nosso agrado. E, principalmente, porque é muito complicado avaliar um jogo.
Se você faz um review “técnico”, fica fácil. O jogo tem som limpo e cristalino, em Dolby 5.1 surround? Os gráficos são corretos, sem slowdown? A detecção de colisão está correta? O jogo não têm bugs bizarros como cenários sendo desenhados on-screen, personagens mortos flutuando ou meio “enterrados” no chão? Perguntas simples com respostas simples: “sim” ou “não”. Responda todas, conte os pontos e publique a nota. Agora, quando você tem de avaliar a qualidade do game como um todo, complicou. O que você tem de avaliar?
Pouco antes do Gamerview entrar no ar, tive uma conversa com o Vinícios Duarte e ele disse (ainda que não com essas palavras) que “jogo bom é jogo divertido”. Essa é uma afirmação temerária. Xadrez é com certeza o melhor jogo da história, mas eu não acho que possa ser considerado um jogo “divertido”. Você pode dizer que quem joga xadrez pode tirar daí algum tipo de satisfação pessoal, mas diversão eu acho difícil.
Nesse momento, lá no fundo, levantam aquele otaku de Final Fantasy e de Metal Gear Solid e gritam em uníssono: “JOGO BOM É AQUELE QUE CONTA A MELHOR HISTÓRIA!”. Sim, claro. Afinal de contas, a história épica dos blocos caindo por um poço contada em Tetris foi o que fez dele um dos melhores videogames de todos os tempos. Se o jogo tem a intenção de contar uma história, obviamente ela tem de ser bem contada. Mas claro, essa história mal contada pode ser uma sátira e por isso ser estranha e bagunçada, por que não? Ou pode ser apenas um apêndice sem importância, como nos fighting games, ou simplesmente ser inexistente, como no já mencionado Tetris.
A diversão também pode ser “medida”, apesar de ser algo totalmente pessoal. Mas claro, isso também é algo que sai da mente do autor do jogo. Os autores de art-games como Gray e Today I Die não devem pensar em “divertir” o usuário em nenhum momento, e ainda assim esses jogos são algumas das melhores coisas que saíram para o meio nos últimos anos.
O que o “reviewer” deve intuir é qual era a intenção do autor com essa obra. Complicado sem perguntar para ele, claro. Mas o que separa o bom jornalista de games do moleque que fica fazendo papel de palhaço nos fóruns da vida é a experiência para poder entender o que, por exemplo, o Suda51 quis fazer com No More Heroes. Assim, ele entende que a cidade de Santa Destroy nunca foi feita para ser uma Liberty City, e sim apenas um “menu 3D” para ir de uma opção a outra. Por isso a cidade é feia e mal-feita, porque o Suda51 nunca quis que ela fosse interessante; o que importa de verdade (as missões de assassinato) é interessante e bem-feito.
Claro que simplesmente avaliar a intenção do autor e ver se ele cumpriu essa intenção não basta, afinal de contas significaria que os filmes do Uwe Boll, que têm o objetivo de “lavar dinheiro da máfia alemã”, merecem nota 10. Mas, sabendo sua intenção, você pode avaliar se ele a cumpriu e se ela faz um jogo satisfatório ou não.
Além disso, na minha opinião, a originalidade de um jogo é o que separa as obras-primas daqueles jogos que são apenas ótimos. Para dar um exemplo prático, e com a permissão do companheiro de site Heitor De Paola: Punch-Out!! (Wii) não é um jogo de cinco estrelas de maneira nenhuma. É excelente, divertidíssimo, muito bem executado tecnicamente, adoro esse jogo. Mas é um remake do original que tem mais de vinte anos! Não tem como dar para ele a mesma nota perfeita de jogos que criaram gêneros e definiram estilos como Tetris, Super Mario Bros., Doom ou Half-Life. Afinal de contas, se o nosso sistema de pontuação vai de um a cinco, significa que cinco é igual a “perfeição”. Qualquer falha, por menor que seja (e a nossa obrigação como reviewer é buscar essas falhas), tem que tirar uma estrela.
Agora o mais importante sem dúvida: um reviewer tem de ser objetivo. Deixar de lado paixonites e fanboyzices para avaliar o jogo como o que é. E pensar que o serviço ao leitor é o objetivo final. Que não importa o que o público quer, e sim o que ele precisa – saber se os jogos que ele está pensando em comprar valem ou não seu rico dinheirinho.