Há pouco mais de um ano meu irmão veio com a ideia de me fazer jogar o beta de um FPS competitivo. Virei a cara na hora. Minha visão de FPS competitivo sempre foi aquela de Call of Duty e Halo que, sinceramente, sempre achei chato e inacessível. Portanto, ignorei a sugestão dele naquele momento. Após algumas semanas, com o jogo lançado e devidamente instalado no Xbox One que dividíamos na época, resolvi dar uma chance aos argumentos do meu irmão mais velho e testar o jogo. Essa chance tem durado bastante. 384 horas de jogo distribuídas entre 1214 partidas durante um ano, para ser mais exato.
Aproveitando o aniversário de um ano de Overwatch neste mês, escrevo este texto expondo todos os preconceitos que tinha contra o jogo antes de jogá-lo, na mais baixa e gratuita intenção de converter novos membros para a comunidade de Overwatch HUE BR. Se você ainda está na dúvida sobre jogar Overwatch, vem comigo!
“FPS é tudo igual. Você nasce leva um tiro e morre na hora. Que graça tem?”
De fato. Esta ainda é minha opinião sobre a maioria dos jogos de tiro em primeira pessoa no mercado, pois este gênero não é nada inclusivo. A minha sensação ao entrar, por exemplo, em uma sessão multiplayer de Call of Duty é de pura frustração. Não há tempo de adaptação, jogadores mais experientes possuem clara vantagem em tudo, os mapas são confusos e o objetivo é simplesmente matar geral -se você conseguir -, pelo menos nos modos mais populares. Claro que quanto mais tempo investimos em um jogo como esse, melhores ficam nossas habilidades e maiores nossas chances de sucesso. O problema é que eu nunca consigo passar dessas primeiras horas. No momento em que dou meus primeiros passos apenas para ter minha cabeça explodida por outro jogador que já conhece o cenário e possui uma arma melhor do que a minha, a diversão acaba. Talvez tenha sido essa minha frustração com o gênero FPS competitivo que fez com que eu me apaixonasse por Overwatch logo nos primeiros momentos de jogatina, pois Overwatch vai na extrema contramão dos seus “competidores”. E uso a palavra competidores entre aspas porque realmente não consigo pensar que Overwatch esteja na mesma categoria que os jogos citados, mesmo que a primeira vista ele parece só mais um FPS.
Atribuo esse sentimento de não pertencimento ao gênero FPS pelo simples motivo de que Overwatch é acessível e inclusivo, atributos que jogos em geral estão cada vez mais distantes de alcançar. Essa façanha do jogo, no entanto, foi projetada. O time criativo por trás de Overwatch queria criar um jogo que alcançasse um maior número de jogadoras ao mesmo tempo que satisfizesse a galera mais hardcore também. O design de personagens como D.va e Mei, com mecânicas mais digeríveis que exigem menos precisão e que possuem maior vida útil aumenta muito a curva de interesse pelo jogo, diminuindo drasticamente o sentimento de frustração tão comum no gênero. Outros personagens, como Macree e Hanzo exigem maior precisão e estratégias mais adequadas a veteranos no gênero, pelo menos de início. É praticamente impossível não achar pelo menos um personagem cuja jogabilidade não seja adequada ao seu nível de habilidade ou estilo de jogo.
Outra característica que distancia Overwatch do resto é o elemento que jogos competitivos bons conseguem criar: viradas de jogo! Não é só possível como talvez bem comum vermos partidas de Overwatch que viram do nada. Em um momento um time está com 99% de vantagem quando eu uma combinação de golpes especiais o time adversário consegue virar a mesa, capturar o objetivo e ganhar a partida. É o mesmo sentimento que temos jogando Mario Kart, por exemplo. Por mais que você esteja perdendo, há sempre a possibilidade do primeiro colocado bater, levar um casco na bunda ou bater em outro competidor fazendo com que você saia da lanterninha para a liderança. Essa característica é chamada de “close calls” pelos teóricos e faz com que o interesse do jogador seja mantido até o final das partidas. Jogos como Gears of War, que eu já gostei mais, tentam incluir cada vez mais esse elemento de virada em suas mecânicas – como o novo modo Dodge Ball -, mas é difícil conseguir alcançar um nível adequado de diversão quando esse elemento surpresa não está no cerne do jogo, como em Overwatch e Mario Kart, por exemplo.
Além disso, o level design também influencia muito nessa questão da acessibilidade do jogo, trazendo cenários relativamente pequenos sem muitos túneis e caminhos secretos que exigem um esforço de memória exagerado do jogador. O desafio das partidas não está em ser o melhor atirador ou em decorar o mapa, mas sim em criar um time equilibrado e trabalhar bem em equipe com foco no objetivo. E por falar em objetivo, talvez esse seja o ponto que realmente distancie Overwatch dos demais jogos de tiro, pois aqui o objetivo final nos modos principais do jogo não é apenas matar e, embora matar inimigos faça parte da jogatina, essa mudança de foco no objetivo faz toda a diferença. Não há aqui ranking dos jogadores que mais mataram ou pontuaram em cada time. Sendo assim, morrer perde o peso negativo tão comum a jogos do gênero, pois o que importa é manter o objetivo em cheque pelo bem do time. Isso faz com que a performance coletiva seja mais importante que a performance individual. E esse detalhe ajuda muito na motivação dos jogadores, sejam eles casuais ou hardcore. E não pense que Overwatch é um jogo simplório ou de baixo valor estratégico. Na verdade, a real é que quanto mais concisas as mecânicas e sistemas de um jogo competitivo, mais espaço sobra em nossos cérebros para pensar. É só uma questão de saber usar esse espaço de forma inteligente.
“Overwatch é igual Team Fortress 2. E eu não engajei em Team Fortress 2”
Outra verdade. Overwatch possui várias similaridades com Team Fortress 2, um jogo que achei interessante a princípio, mas não me motivou a continuar jogando. Então porque Overwatch me deu esse barato todo, mesmo sendo tão similar em estrutura a Team Fortress 2?
O primeiro motivo já foi listado acima: acessibilidade. No entanto, algo que logo me chamou a atenção em Overwatch foi a personalidade e design de cada herói. Além de terem mecânicas completamente distintas acompanhadas de um visual bem diverso, eles também apresentam um tom de voz, diálogos e princípios completamente diferentes. Hanzo é carrancudo e pragmático. Mei é brincalhona e otimista. E Bastion é puro <3 mesmo fazendo só aqueles barulhinhos estilo Wall-e. Mais ainda, a personalidade de cada um dos heróis é elevada à décima potência por conta do impressionante trabalho de localização feito pelo time da Blizzard no Brasil. A primeira vez que ouvi Torbjorn cantando “Eu volteeeeeeiiii” – trecho do refrão de O Portão de ROberto Carlos -, eu me transformei no cara mais empolgado na frente de um videogame ever! Lógico que o trabalho de voz em inglês – e eu imagino que em outras línguas – também é primoroso, mas ouvir um trava-língua como “Faça como a Pharah faria” faz a gente querer louvar de pé essa fofurice toda.
São nesses pequenos diálogos e interações entre cada personagem que outro ponto acaba destacando Overwatch dos demais jogos, principalmente Team Fortress 2: sua Lore. É certo que Overwatch é um jogo de papo reto, o foco aqui são as partidas online rápidas e frenéticas. No entanto, o jogo não é superficial em se tratando do desenvolvimento dos seus personagens. O universo de Overwatch é riquíssimo, podendo ser apreciado nos pequenos curta-metragens lançados pela Blizzard como também pelos quadrinhos oficiais. Para jogadores mais interessados, Overwatch oferece não só a coerência de um universo bem pensado, mas também a inclusão de temas importantes para a comunidade gamer como um todo. Desde seu lançamento já descobrimos que Tracer – a garota propaganda que estampa a capa do jogo-, é homossexual. Soubemos também que Symetra é autista. Eu me sinto muito mais motivado em jogar Overwatch sabendo que inclusão é um conceito importante dentro do jogo e que nada do que me é apresentado foi colocado ali de forma superficial ou mal pensada. São os pequenos detalhes de acabamento como estes que fazem Overwatch diferente de qualquer outro jogo do tipo no mercado e que, na minha opinião, motivam o sucesso do produto. Conteúdo importa!
Tem como não amar???
Além disso, Overwatch foge do senso comum de jogos atuais em representar o nosso planeta em decadência ou pós apocalíptico. O futuro traçado em Overwatch é mais otimista, criando um planeta Terra onde vale a pena viver. Um exemplo disso está no mapa, Oasis, situado no Iraque. Neste novo mapa, o time de designers evitou o óbvio caminho de representação do Iraque: ruas empoeiradas, prédios bombardeados, etc. O futuro do Iraque em Overwatch é o de um país avançado tecnologicamente e próspero. Essa visão mais alegre e otimista, tanto em sua lore quanto em sua arte e design de personagens, é também um dos fortes motivos que fazem do jogo tão amigável e acessível. Overwatch recebe os jogadores com um sorriso no rosto ao invés de uma arma na mão. Tá. Essa foi péssima. Próximo!
“Não tem single Player? Isso daí vai flopar na segunda semana. Não vai ter ninguém jogando”
Ta. Nesse eu errei feio mesmo, mas em minha defesa eu imaginava que para um grande lançamento multiplataforma de preço cheio, só a promessa de modos multiplayer não iria ser suficiente para manter a comunidade engajada. Tudo bem que era da Blizzard, e muita gente baba ovo para a Blizzard, mas a exemplo de Titanfall – que recebeu críticas sobre a falta de singleplayer e teve um engajamento mediano -, eu imaginava o mesmo destino para Overwatch. Eu não poderia estar mais errado O.o
Mês passado, a conta oficial do jogo no Twitter divulgou que mais de 30 milhões de jogadores já jogaram Overwatch e que esse número só tende a subir:
More than 30 million players have charged into Overwatch!
Thanks for grouping up with us, heroes. We couldn’t ask for a better team. ? pic.twitter.com/j2lRsUtpnd
— Overwatch (@PlayOverwatch) 28 de abril de 2017
Como todo jogo multiplayer, o engajamento da comunidade é essencial para seu sucesso. Se eu entro num lobby e não acho ninguém para jogar, isso é um grande problema. No entanto, o engajamento dos fãs de Overwatch vai além do simples fato de jogar todos os dias. A criação de conteúdo em vídeo e transmissões ao vivo hoje são um forte indicativo do sucesso de um jogo e Overwatch não está fazendo feio para um jogo com apenas um ano de vida. No Youtube, ao buscar por Overwatch já podem ser encontrados mais de 17 milhões de resultados. No Twitch o jogo está sempre entre os mais assistidos com vários streamers ao mesmo tempo. A galera cosplayer pira! Esse engajamento positivo acaba criando um círculo vicioso pois quanto mais pessoas jogam, maior é o investimento da Blizzard para criar novos conteúdos com o objetivo de manter essa galera engajada e também angariar novos fãs. Isso faz com que o fato de começar agora a jogar Overwatch não significa que você estará iniciando um jogo já sem fôlego. Muito pelo contrário. Overwatch não mostra sinal nenhum de cansaço e sempre tem jogadores novos para jogar ao seu lado. Encontrar partidas é fácil fácil 😉
É pique, é pique, é hora, é hora, é hora…
Neste primeiro ano de vida de Overwatch, a Blizzard provou mais uma vez sua fama de saber projetar diversão, criando um jogo inclusivo que recebe constantes melhorias e novos conteúdos, sempre gratuitos. Provou também o respeito pelos fãs do jogo ao mudar aspectos que não tem necessariamente relação com suas mecânicas, mas sim com sua lore e com a sociedade. Um exemplo disso foi a polêmica sobre a cintura fina da Mei em um traje chinês, que foi corrigida para a cintura mais cheinha original da personagem, ou quando removeram uma pose sensual de Tracer ainda na versão Beta, por conta de uma reclamação de um dos jogadores sobre a total falta de cabimento daquela pose com a história da personagem – observação justíssima, inclusive. A própria carta que o Jeff Kaplan escreveu para um dos fãs do jogo que tem um irmão autista – que também joga Overwatch – reconhecendo o valor da Symetra como uma personagem autista importante para o elenco de heróis do jogo, mostra que a Blizzard reconhece a importância social que os videogames possuem em nossa cultura.
Overwatch é um jogo simples, focado e amigável. Portanto jovem, se mesmo com este textão lindo que parece mais um merchandising (I wish!) do que redação você ainda não esteja convencido de que Overwatch vale a pena, eu ainda tenho uma última carta na manga. Entre os dias 26 e 29 de maio, a Blizzard irá disponibilizar o jogo na íntegra e na faixa. Além disso, o evento especial de aniversário, com caixa de itens, mapas e roupinhas especiais fica no ar até dia 12 de junho. Não custa nada testar, literalmente! Eu mesmo irei baixar a versão de PS4 e PC para jogar com amigos que não possuem a versão do Xbox One 😉