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Desde a chegada de Digimon, em 1999, se discute as suas semelhanças com a franquia Pokémon. Não é para menos, a presença de monstros que batalham e evoluem criada pela Game Freak inspirou muitas outras, abrindo um verdadeiro leque no gênero RPG que é utilizado até hoje. Porém, devemos levar em consideração a verdadeira origem das criaturas digitais nesse processo: os Tamagotchi.

Se você não lembra deles ou não viveu nessa época, é compreensível. Eram aparelhos pequenos, semelhantes ao Digivice, que continham bichinhos necessitando de cuidados e constante atenção. Você devia dar banho, levar ao banheiro, dar alimentação, água e até remédios caso eles ficassem doentes. Qualquer semelhança com o primeiro Digimon World não é mera coincidência.

Desde a sua criação era essa a ideia inicial, aproximando da abordagem do avanço digital que a civilização experimenta até os dias atuais. Quem se recorda de Izzy, no desenho animado, conseguir ativar a digievolução através de seu notebook? Ou do famoso filme dos digiescolhidos contra Diaboromon, onde usam os emails para causar lag no vilão e poder derrotá-lo com Omnimon?

Digimon
Impossível não assimilar o Digivice com os Tamagotchi.

As diferenças desde sua criação

Apesar da animação ser bastante conhecida e o ponto mais forte da discussão entre ambas as franquias, Digimon e Pokémon são muito distantes também dentro do mundo dos games. A Bandai Namco, eterna detentora dos direitos dos monstros digitais, afastou-se ao máximo das semelhanças trazendo sua própria ideia por cima e que fosse livre das comparações. E sendo muito sincero, conseguiram atingir o seu objetivo.

Mesmo com lançamentos antes de World, foi no primeiro título de PS1 que os jogos da série se popularizaram. Conforme sua fama foi crescendo, o dedo apontado dos fãs para suas semelhanças com os monstros de bolso também seguiram. Vamos combinar, uma criança correndo por aí com seu monstro, se aventurando em um continente desconhecido e evoluindo eles era parecido mesmo.

Digimon World 2, no entanto, foi o primeiro ponto de mudança que o distanciou dessa pegada. Com uma trama mais focada em organizações militares, o protagonista ser um adolescente e a possibilidade de controlar três criaturas em combate simultaneamente atraíram a atenção dos fãs. Com a mecânica de Mystery Dungeon, foi uma surpresa que pegou muita gente de surpresa.

A partir de DW2 as batalhas seriam em trios.

A partir deste ponto, notamos uma sequência de padrões que seguem até hoje. Quase sempre você pode carregar nos games da franquia três monstrinhos, quais podem ser usados simultaneamente ou não, dependendo muito da abordagem de cada um. O herói raramente seria uma criança, além da trama não ser nada infantil. O universo digital não seria um lugar bonito de se viver e isso era lembrado a cada novo lançamento.

Isso também era ressaltado em suas mecânicas. Apesar de Pokémon e Digimon serem RPGs de turno em sua maioria, as criaturas tinham diferentes formas de evoluir. A Game Freak sempre ressaltou que, uma vez que sua criatura atinge um patamar superior, não há retorno. Enquanto isso, a Bandai Namco inovou, permitindo que os jogadores possam retornar sempre que quiserem, criando inclusive rotas alternativas de digievolução para os seus.

O fator se refletia em seu gameplay, já que podemos treinar de forma mais simples assim. Por exemplo, em um time de três onde a batalha é simultânea, posso reduzir um ao estágio inicial enquanto os outros dois mantém as forças até o terceiro chegar onde queremos. Isso abria um leque totalmente inédito de estratégias, sendo extremamente utilizado até os dias atuais.

Mesmo as capturas não funcionam no mesmo modo. Em Digimon, nos títulos mais recentes da série principalmente, conforme você enfrenta seus oponentes, vai conquistando os dados deles. Quando a porcentagem chega a 100%, você pode converter essa informação em um mesmo modelo que lutará ao seu lado. Ou seja, terá de confrontá-los algumas vezes se quiser um igual em seu time.

Digimon
Você pode evoluir ou voltar ao estágio inicial mais de uma vez.

Digimon na nova geração

Com tudo isso seguindo do primeiro PlayStation até as gerações atuais, foi no PS4 que se reforçou a principal diferença dos dois. O console da Sony recebeu três títulos principais da franquia, mostrando que ainda tem forças, tanto no mercado oriental quanto no ocidental e montou algo que nem mesmo os monstros de bolso podiam botar defeitos.

Digimon Story: Cyber Sleuth e sua sequência, Hacker’s Memory, traziam o melhor do mundo digital. No papel de usuários de um sistema online, você investigava e enfrentava o caos causado pelas criaturas em todo ambiente de rede. Inclusive um dos plots é a aproximação desta dimensão com o mundo real, contando com invasões e até mesmo um verdadeiro apocalipse.

Já Next Order seguiu um pouco a ideia inicial, que seria cuidar de seu monstrinho. Contando com personagens originais e até mesmo o protagonista original da linha World, ele não foi um sucesso de vendas, mas tinha uma boa performance e trouxe com louvores o sistema original para o console. Em todos estes não havia medo de usar o roteiro como algo mais sério quando devia ou uma boa dose de humor se fosse necessário. Até nossos heróis tinham uma personalidade. Sim Red, esse comentário foi direcionado para você.

Em Next Order você volta a cuidar das criaturas digitais.

Enquanto isso, os jogos Pokémon começaram a sofrer com as críticas públicas. Ainda no 3DS, para fugir disso, tentaram se aproximar dos Digimon com a ideia da MegaEvolução. Não vamos mentir, o recurso foi extremamente aclamado e os fãs amaldiçoam a Game Freak até os dias atuais por não terem dado continuidade nisso em Sword & Shield. Legends: Arceus e os remakes Brilliant Diamond & Shining Pearl também não mostraram nada sobre o assunto e o público já está reclamando antes de seus lançamentos.

Enquanto isso, não há um futuro certo para os jogos dos monstros digitais. Enquanto a animação sofreu um grande reboot, trazendo as aventuras de Tai e seus amigos em um mundo atualizado e com o avanço da tecnologia que tivemos, o setor de games se mantém em um grande mistério. Até o RPG de estratégia, Digimon Survive, anda constantemente adiado e ninguém sabe o status dessa produção ao certo. Diz a lenda que lança em 2022, porém vai saber…

Mesmo com as duas franquias sendo produtos dos anos 90, o tempo só os ajudou a se distanciarem ainda mais e se tornarem obras distintas. Com abordagens diferentes, público-alvo definido e muitos games lançados, não é justo afirmar que há uma cópia em andamento. Seria o mesmo que afirmar que Shadowverse copia Yu-Gi-Oh!, por exemplo. Porém, isso é uma outra discussão que deixamos para outro dia.