Eu finalmente participei da gravação de um Gamerspeak. Foi legal, e a gente discutiu os melhores do ano. E isso me deixou cheio de vontade de discutir mais alguns melhores do ano. Então eu resolvi gastar um tempo e discutir uma nova categoria: “as melhores frases idiotas que saíram da boca de alguns dos imbecis que fazem parte dessa indústria”.
Se eu fosse procurar, ia encontrar tanta frase que ia dar pra escrever um livro. Então eu peguei as duas primeiras que encontrei, e vou tripudiar em cima delas. Porque, vocês sabem, tripudiar é divertido pra burro.
Então vou começar pelo analista-de-porcaria-nenhuma, Michael Patcher. Na sexta-feira, a Reuters soltou uma matéria sobre a queda nas vendas dos jogos musicais. Patcher, respeitado apesar de nunca falar coisa com coisa, soltou a seguinte pérola:
Os publishers fizeram uma besteira dando pra gente muito pelo nosso dinheiro com esses jogos. Você simplesmente tem muito conteúdo. A base instalada tem muita música, e realmente não precisa de mais. É como comprar muitos livros quando você tem uma estante cheia de livros que você ainda não leu. Você simplesmente não compra mais.
Não sei, acho que sou um cara meio antiquado, mas eu sempre achei que, para as empresas, o melhor sempre era deixar o consumidor feliz – e que, para o consumidor, era receber mais (qualidade, quantidade) pelo mesmo dinheiro, e ter mais opções. No entanto, de acordo com Patcher, o melhor para as empresas é vender a menor quantidade possível por vez. Provavelmente Patcher tenha acesso a pesquisas que provam que o consumidor é um idiota irreversível que ficará mais feliz comprando por 200 o que poderia comprar por 60. Devem ser aquelas teorias doidas de “percepção do valor”.
Partindo para o nosso segundo concorrente: John Riccitiello, CEO da EA. Riccitiello, em uma declaração para a Games Industry, expressou sua “frustração” com as baixas vendas de seu software para Wii, e propôs uma solução. Ele resolveu que iria contratar alguns cientistas para criar uma máquina do tempo e ir buscar Torquemada e a Inquisição espanhola pra dar uma prensa nos seus empregados por fazerem jogos tão ruins (porque, vocês sabem, NINGUÉM espera a Inquisição Espanhola).
Não, na verdade ele não fez isso. Isso é o que qualquer empregador inteligente faria – bem, pelo menos a parte da prensa nos seus empregados. O que Riccitiello fez foi culpar a Nintendo. “Francamente, eu acho que [a Nintendo] precisa de mais títulos first-party do que fez este ano – para ser possível para o software para a plataforma Wii ter um desempenho tão bom quanto gostaríamos. Estamos fazendo os produtos que eu entendo serem os melhores da plataforma e, neste ponto, gerando o maior lucro de todas as third-parties.”
Vamos ver: antes, o problema do Wii era que apenas os jogos first-parties vendiam. A Nintendo, para atrair as thirds, lança menos jogos, para deixar o caminho menos congestionado para elas. Aí elas lançam porcarias, as porcarias não vendem, e a culpa é da Nintendo por ter lançado menos first-parties e “diminuído o momento” do console. Realmente é uma lógica impecável. Preciso aprender como fazer isso, pra poder tirar o meu traseiro da reta quando eu faço besteira.
Talvez basicamente o problema seja de percepção. Tanto Patcher como Riccitiello não são observadores o suficiente para entender que existe uma lei fundamental no negócio. E não, não é “o lucro em primeiro”. É “o consumidor em primeiro” (com o acréscimo de seu corolário: “se for enganar o consumidor, engane BEM, porque se ele perceber você está ferrado”). O problema dos jogos musicais não foi o “exagero no valor incluído”, foi o alto investimento que é necessário para um jogo desses (guitarra, bateria, microfone…) e a saturação do mercado (sim, Activision, estou olhando pra você e seus vários Heroes em um ano). E o problema da EA no Wii é que os jogos da EA para o Wii são ruins. Você não pode entupir o mercado com cretinices como MySims e SimAnimals, ou versões de segunda categoria (ou que pelo menos aparentam ser de segunda) como Dead Space Extraction, e esperar que vendam. Aprendam com Boom Blox, um jogo original e bom e que vendeu. E não me venham dizer que não vendeu, pois pode não ter sido um mega-sucesso mas vendeu bem (se tivesse vendido pouco não teriam feito uma continuação).
Mas sei lá, enquanto esses caras ganham rios de dinheiro para falar essas besteiras eu estou aqui, falando sobre as besteiras deles. Talvez o que eu precise seja fazer um MBA, pra poder entender essas besteiras – e melhor ainda, falar algumas e ganhar dinheiro com isso.