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Há um ano, fui convidado a participar da equipe do Gamerview pelo Vinícios Duarte. Já escrevia como um lobo solitário em meu blog há cerca de oito anos, mas me senti honrado em integrar um dos times mais afiados de críticos de jogos da web brasileira: foram mais de 200 análises em 2017, o que dá uma a cada dois dias, de grandes lançamentos da indústria a projetos independentes.

Para mim, a experiência não poderia ser melhor. Não somente pelo contato com tantos talentos, tão apaixonados por jogos eletrônicos quanto eu, mas também pela oportunidade de conhecer títulos que fugiam da minha zona de conforto. Testei gêneros aos quais normalmente não dou atenção, desenvolvedoras que passariam por baixo do meu radar, títulos que ousavam estender os limites da mídia. Quebrei a cara algumas vezes, mas em várias outras fui surpreendido de forma positiva por preciosidades que poderiam ter passado batido por mim. Listo agora três dessas pérolas ocultas que foram os meus melhores jogos de 2017.

Regalia: Of Mens and Monarchs

Cinquenta e uma horas marcadas no meu Steam são a constatação de dois fatos. O primeiro deles é que Regalia: Of Mens and Monarchs é um título cujos longos combates exigem tempo e dedicação. O segundo é que eu viciei totalmente no jogo e jogaria facilmente outras 51 horas se tempo tivesse. Não jogava um RPG tático com combate por turnos tão bom desde Fallout 2 e esse aqui supera em complexidade todos os outros.

Fora da arena, Regalia também cativa pelo carisma de seus personagens e de seu texto, que ora brinca com a fórmula dos JRPGs, ora abraça suas convenções, e nos brinda com um elenco inesquecível de companheiros, uma arte primorosa e uma trilha sonora que gruda.

High Hell


Salsichas, coxinhas de galinha, cachorros antropomórficos, batidão do baixo, uma única arma com munição infinita, insanidade, máscara de lucha libre e outras birutices que não cabem aqui são os ingredientes inesperados do meu FPS do ano. Por fora, High Hell parece um jogo de ação que não é para pensar: é meter o pé na porta, tacar o dedo no gatilho e tentar eliminar tudo que se move até pular de pára-quedas no final.

Mas, por dentro, o título do brasileiro Terri Vellmann (com o auxílio luxuoso de Doseone nas carrapetas) tem uma história para contar e um universo para mostrar, transmitidos através de pistas no cenário, em suas telas de carregamento e na arte sensacional.

Tacoma

Mas, sem sombras de dúvidas, Tacoma foi o meu jogo do ano, ocupando a primeira posição com louvor. Ironicamente, nunca experimentei Gone Home, o elogiado (e controverso) trabalho anterior de seus criadores, por puro preconceito: imaginava que um “walking simulator” não faria minha cabeça. Que graça haveria em explorar um cenário e investigar objetos que pertenceram a pessoas? Não podia estar mais enganado.

Tacoma pega o conceito de narrativa interativa e o subverte de uma forma que não julgava possível, colocando o jogador no controle total de como a história é desvendada, tornando-o, se não um agente da trama, um investigador, um meta-narrador, um arqueólogo digital de vidas. Tudo isso embalado em uma cenografia magistral de ficção-científica, em um enredo que angustia e prende, para surpreender minhas expectativas mais de uma vez.