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O mítico e violento universo de Conan – sim, aquele bárbaro dos quadrinhos interpretado por Arnold Schwarzenegger em uma série de filmes – serve de inspiração para um novo jogo de sobrevivência dos noruegueses da Funcom, os mesmos que já haviam lançado o MMORPG Age of Conan lá para os idos de 2008 (que, por sinal, está online até hoje). E por “jogo de sobrevivência” entenda algo como um parente pobre, feio e pouco funcional de Ark: Survival Evolved.

Basicamente, trata-se de um mundo aberto que pode ser jogado em multiplayer (mas ainda com personagens controlados pela inteligência artificial) ou single-player, em que o objetivo é basicamente sobreviver. Recolher recursos, caçar animais, pegar plantas, tomar água para não morrer de sede, enfrentar monstros e criaturas diversas (e também outros jogadores num PvP) é o que aguarda o jogador que resolver desembolsar R$ 59 na versão básica do jogo. Como em alguns MMORPGs, dá para jogar em primeira ou terceira pessoa, e os comandos e menus de inventário lembram bastante qualquer RPG ocidental dos últimos anos.

Não se iluda, chapa. Esses músculos não são nada sem conteúdo…

Monte seu próprio Conan bugado

Em Conan Exiles, você não joga exatamente com o famoso bárbaro, mas sim com um Conan genérico, que inclusive pode ser do sexo feminino. As opções de edição de personagem são legais e vão desde as clássicas alternativas de aparência do rosto e características físicas até religião e cor da pele. Nada muito diferente do que já vemos por aí em outros jogos, e, para quem já está cansado da personalização, a opção de apertar um botão para criar um personagem aleatoriamente é muito bem-vinda.

É também nesse modo que aparece uma das maiores polêmicas do game – e a mais explorada pela mídia: a nudez frontal. Sim, aquilo que todo mundo sabe que existe mas ninguém quer mostrar, está totalmente de fora em Conan: Exiles. É uma opção pelo lado do servidor: se o dono do server não quiser, não precisa ter nudez. Mas pra quê esconder, né?

Bonito na screenshot, não tão bonito assim no gameplay
Bonito na screenshot, não tão bonito assim no gameplay

Conan Exiles se parece com um jogo antigo, cujo visual empacou lá pelo ano de 2011, e roda como tal. Não é difícil fazer o game rodar a 1080p e com boa parte dos efeitos ligados em uma máquina relativamente atual. Aliás, dá para dizer que qualquer coisa acima de uma Geforce GTX 750 TI vai fazer o game funcionar bem. Os problemas que foram reportados pelos jogadores durante o acesso antecipado, pelo menos até agora, são bem pontuais. No geral, dá para dizer que é um game leve.

Agora, o que o jogo tem de leve ele tem de bugado, e as falhas estão literalmente por toda parte. Em certos momentos, algum personagem inimigo irá andar em sua direção sem mexer as pernas, como se estivesse deslizando no gramado de algum FIFA do fim dos anos 90. Não existe a mecânica de agarrar em quinas para subir em plataformas mais altas (e isso, especificamente, não é uma crítica), mas em certos momentos, dependendo da superfície onde o personagem estiver, o botão de pulo simplesmente não funciona. Jogando online, o lag faz os problemas técnicos se multiplicarem, faz monstros terrestres voarem por toda parte, acaba com a já pouca precisão no combate (você tenta acertar, mas seu oponente some antes de levar o golpe) e atrapalha uma simples caminhada do ponto A ao ponto B. Isso jogando em um servidor nacional.

A ambientação e a sensação de desamparo nesse mundo são pontos positivos
A ambientação e a sensação de desamparo são pontos positivos

“Suma daqui, sua criatura imunda!”

Relevando um pouco os problemas técnicos, Conan Exiles tem boas ideias. O jogo se passa em algum lugar na Hibória (a terra fictícia de Conan, o Bárbaro), um mundo perigoso e hostil, cheio de criaturas sedentas por matar qualquer coisa, canibais, monstros alados e um sol escaldante no período diurno. Tudo ali é feito para o seu personagem não sobreviver, e é justamente disso que vêm as melhores qualidades de Conan Exiles.

A ambientação geral é muito boa, feita para o jogador se sentir solitário e sempre achando que algum perigo está à espreita. O cenário realmente não é muito detalhado, mas ninguém esperava construções muito apuradas num universo desses. A sensação é de que o vazio é praticamente infinito, que tudo é longe, e que morrer de sede é, literalmente, questão de tempo.

As criaturas do game não dão sossego, seja de dia ou noite

O ciclo entre dia e noite é meio bizarro. Sim, é legal que a produtora colocou opções de estender ou diminuir os ciclos (a cargo sempre do dono do servidor), mas quando escurece parece que o jogo simplesmente diminuiu o gamma da tela. Você não vê absolutamente nada, nem um palmo. Se um inimigo brotar na sua frente por causa do lag, é melhor deixar o personagem morrer do que passar raiva.

A sede é um dos marcadores na parte superior da tela, junto com fôlego, fome e energia. No menu de inventário, você pode conferir os itens já resgatados no ambiente e ver o que já sabe fazer com eles. No começo, dá para fazer uma roupa tosca e uma arma feita com um pedaço de madeira e um osso. Como em qualquer jogo de sobrevivência que se preze, o ganho de experiência é contínuo e independe do personagem, mas a confusão começa na hora de distribuir os pontos de atributos.

Conan Exiles não faz questão de explicar nada ao jogador. Não tem tutorial: eu sou desses que reclama de jogos com tutoriais, mas me senti perdido neste game. É difícil saber por onde começar ou como são usados os pontos de atributo (ou mesmo para quê servem). Como em qualquer jogo de sobrevivência que se preze, o nível se experiência e os atributos se mantém para o seu personagem depois que ele morre, mas o jogo não perde nem dois minutos explicando isso ou qualquer coisa além. Ok, existe um público de jogos do gênero que não precisa aprender nada, mas não custava dar uma aulinha.

Mesmo cheio de bugs, o game vendeu bastante na primeira semana após o lançamento
O game vendeu $9 milhões na 1ª semana, mesmo sendo feio e bugado. Vai entender…

A resposta é: não

O fato de ser “acesso antecipado” já é o suficiente para colocar uma dúvida na cabeça do jogador. Sim, alguns jogos se deram bem como acesso antecipado (o próprio Ark é um bom exemplo), mas em Conan Exiles parece que ser liberado dessa forma é apenas uma desculpa para as inúmeras falhas que o jogo possui. Pagou R$ 59? Nem pense em reclamar, pois quem aceitou um jogo de acesso antecipado foi você, meu chapa.

As perspectivas até que não são das piores, pois o jogo recebeu pequenas atualizações nas duas primeiras semanas após o lançamento (nada que eu tenha percebido com relação à parte técnica). Mas no estágio atual, com falhas técnicas gritantes, netcode instável e sem algo que realmente atraia o jogador de volta após alguns níveis de experiência conquistados, fica difícil recomendar Conan Exiles. Melhor ficar com as HQs ou com os filmes do Schwarzenegger mesmo.