Hideki Kamiya, um nome pouco conhecido para alguns, é a personificação viva de S Rank Stylish tanto no seu dia-a-dia quanto em suas obras, incluindo Viewtiful Joe, Bayonetta e Devil May Cry. Jogos cujo visual e personagens marcaram a vida de muitos jogadores. Neste artigo vou falar sobre os dois mais recentes, que voltaram ao centro das atenções em versões remasterizadas.
De um lado temos o caçador de demônios e filho do lendário guerreiro demoníaco Sparda, dono da empresa Devil May Cry e um preguiçoso arrogante de carteirinha. Do outro temos a Femme Fatale dos jogos de Hack’n Slash, a bruxa de Umbra que invoca poderosas criaturas infernais e divinas com seus cabelos e poses. Claro que estou falando de Dante e Bayonetta! Um fez muito sucesso no passado e, aparentemente, ganhará uma sequência em breve. O outro também fez sucesso, mas logo caiu no esquecimento – até que a Nintendo comprasse a exclusividade, que rendeu a sequência de Wii U.
Por que um deles continua indo em frente enquanto o outro parece ter se perdido no meio do caminho? Bom, é sobre isso que vou falar aqui.
[miptheme_alert type=”warning” close=”false”]Atenção! O texto abaixo contem pequenos spoillers. Qualquer reclamação resultará em Hideaki do passado aparecendo em seu quarto durante a noite com um cano de ferro.[/miptheme_alert]
See the mirror. You’ll see a fool.
Originalmente criado para integrar a série Resident Evil, Devil May Cry acabou se tornando uma série própria pelo fato de divergir muito do famoso título de zumbis da Capcom. Devil May Cry acabou se tornando uma série própria, o que foi ótimo para a empresa. O três primeiros jogos garantiram o título de platina, criaram diversos guias, CDs de trilha sonora, um anime e até HQs. Só que os problemas de Dante começaram à partir daí… Bayonetta possui apenas dois títulos até o momento, mas foram suficientes para moldar a personagem, suas convicções e personalidade. Enquanto isso Dante pode ser descrito apenas como “enigmático”, já que a ordem da franquia é toda confusa – Devil May Cry 3, 1, 4 e 2 cronologicamente falando.
Eis que mais um balde de água fria foi lançado, com a chegada do quarto game. em DMC4 controlamos Nero, o filho de Vergil. O problema aqui é que Nero lembra demais o Dante de DMC 3, o que fez os fãs torcerem o nariz. É um jogo muito bom, sólido, com uma boa lore, mas Nero poderia ter sido muito melhor aproveitado se não fosse tratado como um Dante repaginado. Nesse tema é difícil fazer uma comparação à Bayonetta, porém conseguimos perceber que no segundo título a troca foi apenas de guarda roupa mesmo. A personagem conseguiu manter seus pontos fortes, estilo marcante e seu jeito sádico de lutar. Isso não quer dizer que mudar o protagonista seja algo ruim, quer dizer que é algo que tem de ser trabalhado para não confundir ainda mais a cabeça dos jogadores.
Agora se tem algo que Hideki consegue fazer de maneira magnifica é a parte artística da coisa toda. Como disse no review de Devil May Cry HD Collection, você consegue ver o quanto a parte musical dos jogos conseguem contrastar com o mundo que acerca os personagens. Enquanto em Devil May Cry acompanhamos Dante que aparenta ser um homem ríspido, arrogante e consciente da extensão de seu imenso poder mas ainda assim consegue ser desbocado e totalmente desleixado, a trilha consegue acompanhar tanto os momentos de calmaria quanto os de extrema ação com músicas agitadas e estridentes.
Bayonetta por sua vez é uma mulher que sabe usar e abusar de seu poder, cheia de classe, que com uma beleza misteriosa e intoxicante ela tortura tanto demônios quanto anjos noite a dentro, sem perder a pose. A mulher faz o que o Dante faz, só que de salto alto. Ou seja, a imagem é algo importante para ela. E quer estilo musical que combine mais com ela do que um bom Jazz com uma mistura de R&B e às vezes até uma pitadinha de J-pop? Um contraste perfeito ao estilo despojado de lutar e seus summons quase que reveladores.
Aposto que você quer o meu veredito de quem é melhor, não é? Então é melhor guardar esse fogo aí, embora Bayonetta esteja se saindo como uma franquia mais estável. O que empurrou Devil May Cry pra debaixo do tapete, infelizmente, foi a recepção do quarto game. A Capcom preferiu tentar manter o espírito “Edgy Dante” ao invés de abraçar um novo personagem, diferente de Dante (ou mais maduro que ele). Nero é um clone de Dante, nada mais. Eu pessoalmente detesto o spin-off (DmC: Devil May Cry), porém admito que a jogabilidade funciona de maneira fluída e divertida. Em contrapartida, todo esse trabalho de caracterização de personagem/mundo foi jogado pela janela ao criarem um Super Edgy Emo Dante.
Com o cancelamento de Scalebound, no ano passado, o jeito é torcer para Kamiya ressuscitar a série Devil May Cry com estilo ou nos surpreender com o terceiro game da bruxa mais safada dos games.