Uma coisa que tenho notado neste pouco tempo que levo nesta indústria vital é que quase todo mundo na imprensa especializada está tão metido nesse “mundo virtual” que não consegue separar a paixão da razão. Mesmo alguns dos mais conceituados jornalistas brasileiros de games assumem inconscientemente seu lado fanboy quando escrevem.
Não estou dizendo que isso seja ruim, muito pelo contrário. Se você não coloca paixão em seu texto, ele fica frio e sem vida. Não precisamos de press-release, mas sim de textos que tenham vida, que tenham euforia, decepção, raiva e alegria. Apenas temos que saber balancear isso – coisa que muito “profissional” não faz.
Outra coisa que noto: o jornalismo de games brasileiro se centra muito no formato editorial padrão. Isso é ruim? Claro que isso é ruim! Supõe-se que nós, jornalistas, sabemos mais sobre o meio do que o nosso público. No entanto, o que nós fazemos são reviews e notícias requentadas sobre os mesmos videogames e jogos. Querem um exemplo? O Independent Games Festival, exposição de jogos independentes, aconteceu simultaneamente ao Game Developers Conference. Os sites brasileiros de games fizeram uma cobertura supostamente “exaustiva” da GDC, mas não escreveram nem uma palavra sequer sobre o IGF. E isso que games que depois são festejados, como World of Goo, Castle Crashers, Braid, Audiosurf… Todos eles foram premiados ali.
Pra não ser injusto, o PC World colocou uma notícia sobre o IGF. Mas não é um site de games, certo?
E digo que a cobertura do GDC pelos sites brasileiros foi “exaustiva” entre aspas porque todos eles noticiaram as mesmas coisas: keynote do Iwata, keynote do Kojima, Zeebo, OnLive… Alguém falou uma palavra que fosse sobre a palestra com Goichi Suda (No More Heroes, Killer 7), Fumito Ueda (ICO, Shadow of The Colossus) e Emil Pagliarulo (Fallout 3)? São apenas os designers de alguns dos melhores e mais inovativos jogos dos últimos anos. Mas melhor a gente ficar falando do Kojima e seu keynote sobre “os desafios do desenvolvimento”…
Nosso objetivo principal deve ser desviar um pouco desse caminho. Não digo que seja ruim ficar festejando a penúltima entrega de Resident Evil ou de Guitar Hero. Mas a gente precisa evitar que o jornalismo de games no Brasil caia na mesmice.
Alguém tem de apontar o dedo para os designers preguiçosos que abusam de Quick Time Events (sim, God of War e MadWorld, estou falando com vocês!), para o abuso de coisas que não aportam nada (sequências, vídeos, visual pelo visual…), para a repetição, para os jogos que não trazem absolutamente nada novo ao gênero além de um motor gráfico “NUNCA VISTO ANTES!” (Killzone 2, alguém?).
Alguém precisa ter um pouco de espírito independente no mainstream. Alguém precisa celebrar e reconhecer o mérito daquele garoto que faz um jogo genial em XNA, em Flash ou mesmo em Game Maker. Alguém precisa ter culhões pra dizer que Final Fantasy 7 é tosco; que Metal Gear Solid 4, como game, é um filme bem mais ou menos; e que Little Big Planet é um fantástico editor de fases, mas como jogo não traz nada de novo. E é para isso que estou aqui, para ser realista e falar a verdade sem dó. Espero que muitos me sigam nesta jornada, e que fanboys abram suas cabeças para aceitar críticas. Games é diversão, mas também é assunto sério!