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OK, eu havia dito que não ia meter a minha mão nessa cumbuca. Mas não deu pra agüentar… Num dos meus poucos momentos de vagabundagem no trabalho (tá bom, muitos), estava “zapeando” pela internet pra ver se encontrava algo interessante pra ler. Acabei caindo na Escapist Magazine, onde o Ben “Yahtzee” Croshaw coloca o genial Zero Punctuation. Encontrei ali a coluna Extra Punctuation (que eu não conhecia), onde ele “amplia” o que falou no videocast. Na última, ele responde a um comentário sobre a anterior, onde falou sobre Wii Sports Resort. O Yahtzee fala mais ou menos o seguinte:

“Hardcore” não significa “moleque de catorze anos pentelho, gorducho e cheio de espinhas jogador de Halo”. Os jogadores “hardcore” são os que estão dentro. Os jogadores que estavam aí desde que as 256 cores eram um sonho molhado e distante. Os jogadores que seguem todo o hype e que querem games com profundidade e inovação. Os jogadores que lêem websites como este e que no final se importam. Jogadores hardcore são os que querem os jogos de Mario e Zelda que a Nintendo não pode mais se importar porque está muito ocupada fazendo porcarias vazias como Wii Sports Resort para seus novos amigos “jogadores casuais”.

“Jogadores casuais são pessoas que compram um Wii porque a TV disse isso pra eles e jogam por uma hora antes de ir cortar a grama ou assistir Days Of Our Lives ou o que quer que pessoas normais façam com seu tempo. E puxar o saco desses insípidos merdas só vai servir pra Nintendo se foder quando o Nissan iFurby ou o que quer que seja a próxima moda tecnológica leve todos eles embora. Porque depois disso tudo que a Nintendo terá vai ser um treco que não funciona e os jogadores hardcore de sempre que eles traíram. Espero que isso valha a pena pra vocês, caras”.

Francamente, se ele tivesse escrito diretamente “eu sou um imbecil” não poderia ter sido mais claro. Nenhum problema quanto a isso, afinal de contas eu não sou exatamente um superdotado. Só que pelo menos eu tenho o bom senso de não chamar pessoas de “insípidos merdas”, como o Yahtzee fez aí – e como a maior parte dos imbecis que se dizem “hardcores com orgulho” fazem nos fóruns da vida quando dizem que “o Wii não tem jogo”, que “a Nintendo está traindo seus fãs”…

Vamos ver… A Nintendo não faz jogos pro Wii? O Wii não tem jogo? Então Super Mario Galaxy, Zelda Twilight Princess, Metroid Prime 3, Super Smash Bros. Brawl, Super Paper Mario nunca existiram, eu estava tomando LSD sem saber e imaginei todas as dezenas de horas que gastei jogando. E vendo as notas altas que todos receberam? E aquele Mario, Zelda e Metroid que foram anunciados na última E3 eram o quê?

Aliás, já pararam pra pensar que o último console Nintendo com mais do que um jogo do Mario (da série principal “plataformeira”, obviamente, não de spin-offs como Mario Party ou Paper Mario) foi o NES? O Wii já tem um, este ano vai ter outro e o ano que vem mais um. Mas a Nintendo não quer fazer jogos do Mario porque tem de fazer porcarias vazias para jogadores casuais!

A Nintendo está traindo seus fãs? E onde estavam esses cretinos quando a Nintendo fez o Nintendo 64 e o Gamecube? Jogando Playstation, provavelmente. Agora, o pior é quando o Yahtzee (e os babacas de fórum) diz que “quem compra o Wii não é um jogador de verdade” – e, principalmente, quando usa a palavra “casual” quase como sinônimo de “débil mental”.

Eu entro nessa definição de hardcore dele, e com perfeição. Só que eu não me considero um hardcore, porque se ele e os demais que falam como ele se auto-definem como hardcore eu não sou. Porque eu não admito ser classificado pelo mesmo nome que pessoas que não respeitam os outros simplesmente porque têm medo do que o Wii representa. Porque têm medo de que outras pessoas, que eles aparentemente consideram inferiores porque não têm os mesmos gostos que eles e não consideram os games como a segunda vinda de Cristo, possam um dia se considerar como jogadores. E aí o clubinho exclusivo vai pro saco.

Eu tenho um Xbox 360, que comprei faz pouco mais de um mês. Estou jogando Half-Life 2 e os episódios e estou adorando, e depois vou começar a jogar Dead Rising a sério. Mas também tenho um Wii. Reservei na loja perto de casa um mês antes do lançamento oficial, fui buscar no dia que chegou na loja e, quando estava tirando ele da caixa, tinha o coração batendo como quando eu era moleque e abria meus presentes no dia do meu aniversário. E continuo jogando e adorando.

E é isso que me faz um jogador, e mais do que esses idiotas de internet que ficam falando que o Wii é isso, que a Nintendo é aquilo. Porque eu não me considero parte de um clube exclusivo onde todo mundo tem os mesmos gostos que eu. Eu sou o que sou – alguém que ama videogames, que se diverte com eles como uma criança, e que gosta que outros amem e se divirtam com eles também, seja da maneira que for e com o jogo que for. Pode ser com PS3, com Wii, com Xbox 360, com PSP, com DS, com jogos em Flash, com um Vectrex, com Arcades, não importa.

Se a pessoa se divertiu com videogames alguma vez na vida, ela também é uma jogadora. Se ela é uma senhora de quase setenta anos e se diverte com Wii Sports – como minha mãe, que adora o boliche – ela também é uma jogadora. Não é menos do que eu porque não sabe nem segurar um joystick, quanto mais fazer seu personagem andar em uma direção e atirar em outra com um duplo stick analógico. Não é menos do que eu porque não fica lendo sites pra ler sobre o jogo que vai sair daqui a um ano. Não é menos do que eu porque não entra em fóruns pra dizer como seu console favorito é bom e os outros são umas porcarias.

São esses jogadores que a Nintendo está trazendo, gente que vai trazer novas idéias, novos sentimentos e novas maneiras de se divertir. E quem não gosta, quem quer que tudo continue igual… Bem, a porta da rua é serventia da casa.