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Após quase oito meses de espera desde o anúncio oficial em outubro de 2016, o relançamento do Mega Drive finalmente chegou às lojas e às mãos dos compradores da pré-venda. Trata-se de uma reedição da clássica primeira versão do console lançado pela Tectoy no Brasil em setembro de 1990 – sim, o bom e velho 16-bits da Sega só apareceu por aqui um ano após a chegada do Genesis aos Estados Unidos e quase dois anos depois do lançamento do Mega Drive original no Japão.

Visualmente, a Tectoy fez um bom trabalho, oferecendo um console praticamente idêntico ao original, com exceção da remoção da entrada para Sega-CD, da adição da entrada para cartão micro-SD e pela saída de vídeo não ser mais aquela em um único cabo. A textura mudou um pouco: o novo Mega Drive parece ser feito de um material levemente mais áspero e fosco. Alguns saudosistas podem torcer o nariz, mas, na minha opinião, o console ficou muito elegante desse jeito. O acabamento também é decente, sem rebarbas visíveis ou falhas no encaixe das peças.

Já com relação ao controle, há algumas ressalvas. Sim, é basicamente uma recriação do controle original de três botões do Mega Drive (com a única mudança das inscrições dos botões A, B e C não estarem mais em vermelho), mas a carcaça do direcional parece não ficar muito bem presa no nicho, o que deixa ele “sambando”, causando uma certa imprecisão em alguns comandos. E também é meio borrachudo para apertar, talvez mais ainda que o direcional do controle original.

Os botões são muito firmes e bons de apertar, apesar do B ficar em altura ligeiramente abaixo dos demais. Isso tudo pode ser causado pelas margens aceitáveis (para a Tectoy) no processo de fabricação, mas para um controle que, quando vendido separadamente, custa R$ 100, eu esperava mais. De qualquer forma, seus antigos controles, inclusive os de 6 botões e aqueles clones (como os fabricados hoje em dia pela Hyperkin) funcionam perfeitamente no novo Mega Drive.

Houve muita polêmica nas redes sociais com relação ao hardware utilizado, principalmente pela saída de vídeo ser composta e não HDMI. A Tectoy alega que uma saída HDMI iria encarecer demais o produto sem trazer grandes melhorias, o que, de certa forma, faz sentido sim: para trazer algum benefício pela saída HDMI, a companhia teria de usar um hardware diferente, como um Allwinner R16, semelhante ao utilizado no NES Classic Mini, e isso exigira o desenvolvimento de um novo emulador por parte da Tectoy. Quer dizer, o custo não seria apenas de botar uma saída HDMI ali e demandaria todo um trabalho que levaria muito mais tempo e faria o console custar mais caro.

Possivelmente, este novo Mega Drive utiliza um SoC chinês parecido com os SoCs utilizados nos Genesis da atGames (e que, em teoria, são mais baratos que o Allwinner R16 do NES Classic). Isso permite que a engenharia da Tectoy, com base em um hardware que ela própria já conhece, faça apenas pequenas melhorias de performance sem comprometer tanto o custo final do produto. Sim, isso envolve lançar o console sem a saída HDMI, mas neste caso, acredito que o fim justificou o meio, pois dessa forma foi possível chegar ao preço de R$ 399 na pré-venda e R$ 449 após o lançamento – lembrando sempre que a carga tributária come boa parte desse valor e que a Tectoy ainda precisa tirar um lucro disso.

Sobre a performance, os jogos rodam bem, mas o som tem problemas. A maioria dos games testados (entre os que vêm no cartão micro-SD, além de cartuchos e de outras roms transferidas para o cartão) rodou bem, com velocidade praticamente indistinguível em relação ao Mega Drive original. Em comparação com o Mega Drive que eu tenho aqui (um Genesis CDX, aquele Mega com Sega-CD embutido), deu para perceber que as cores no geral estão um pouco mais fracas, mas o resultado final é bom sim. Sobre o som, o bicho pegou mesmo: sempre foi muito difícil emular o chip de som YM2612 da Yamaha utilizado no Mega Drive, e aqui não foi diferente. Comparando com vídeos de donos dos Genesis da AtGames e até com vídeos dos outros Mega Drive baseados em SoCs (como o Mega Drive 4 e o MD Play), parece que o som ficou melhorzinho aqui. Mas realmente algumas vozes e, principalmente, os sons agudos (como o de coletar argolas em Sonic, por exemplo) ficam distorcidos e estridentes demais. A Tectoy disse que fez o possível para fazer um bom trabalho com o som, e em alguns games que não têm muitos sons agudos o resultado é bem aceitável, até próximo do original.

A compatibilidade também foi um ponto muito comentado em redes sociais, principalmente pelo fato da Tectoy ter atualizado a lista de cartuchos compatíveis pouco antes do lançamento do console. Super Street Fighter II realmente não roda, nem pela rom inserida no cartão SD, enquanto que Virtua Racing não funciona por razões óbvias: o chip SVP dele precisa interagir diretamente com os componentes originais do Mega Drive e apenas uma emulação muito mais elaborada e em um hardware mais poderoso poderia resolver isso.

Nos jogos que funcionaram, o resultado é bem satisfatório, com velocidade boa, praticamente 100%, com o som sendo o único empecilho. Em alguns casos, como Aladdin e Castle of Illusion, o som até se sai bem, mas com Sonic the Hedgehog e Comix Zone fica mais difícil de engolir os agudos estridentes e os graves um tanto abafados.

Por R$ 449,00, o novo Mega Drive entrega o que custa, com destaque positivo para o design e pela construção, e também pela emulação realmente estar um passo à frente daqueles modelos da atGames. Vale lembrar que a Tectoy já prometeu o relançamento de pelo menos um cartucho, Turma da Mônica na Terra dos Monstros, que já está em pré-venda por R$ 99,00.