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Quando falamos de adaptações de jogos de anime, não é novidade para ninguém que a Bandai Namco domina o mercado. Possuindo sob as suas asas as maiores franquias da Shonen Jump como Naruto, Dragon Ball, Black Clover, entre vários outros, a empresa tem o total controle do mercado japonês e traz bastante conteúdo sobre o nicho para os gamers no geral.

Porém, temos de concordar que todo esse conteúdo se perdeu em uma maré de repetições e na famosa fórmula “caça-níquel”. Basta colocar alguns personagens em um modelo genérico de batalha, semelhante à franquia Naruto Ultimate Ninja Storm, alterar os cenários e trazer inúmeros DLCs e Season Pass. My Hero Academia e One Punch Man não me deixam mentir.

O grande fiasco de Jump Force expôs todas as fraquezas da generalização, que permitia uma infinidade de jogos semelhantes em menos de um ano de produção e nenhuma inovação no cenário. Aqueles que desejavam ver Deku e seus amigos em um cenário de mundo aberto, semelhante a Marvel’s Spider-Man ou até mesmo o Jump Super Stars, copiado de Super Smash Bros, de volta acabaram ficando na mão do mesmo sistema. Apesar disso, as coisas estão mudando um pouco.

A linha Ultimate Ninja Storm é copiada até hoje com desgaste.

A “fórmula” Bandai Namco

A Bandai Namco hoje detém os direitos de muitas marcas distintas e, assim como nos cinemas, precisa trabalhar algo com elas para mantê-las em seu repertório. Para fins comparativos, entenda como algo parecido com o que a Fox passou com o último filme do Quarteto Fantástico. Ou eles faziam um longa-metragem da equipe ou eles perdiam os direitos da franquia. O resultado já sabemos como saiu.

Após o aclamado Dragon Ball Xenoverse e Naruto Shippuden: Ultimate Ninja Storm 4, entramos em um período extremamente fértil para este tipo de coisas acontecer. Eu diria que até Dragon Ball FighterZ tivemos uma certa vontade de mudanças, mas depois dele só foi ladeira abaixo. Alguém se recorda de Black Clover: Quartet Knights? Ou tem em Captain Tsubasa: Rise of the New Champions o seu jogo favorito? Por mais que “dê para o gasto”, eles não passam nem perto de um sucesso.

Quem se favoreceu disso foi a Koei Tecmo, que apesar dos pesares, conseguiu criar um bom RPG de Fairy Tail por exemplo e um jogo de ação com Attack on Titan que empolgasse os fãs. Também não foram algo de nível de excelência, mas vamos combinar que os esforços ao menos valeram a pena. O que é da vida senão uma sequência de acertos e erros?

A Koei Tecmo não produz obras-primas, mas está tentando.

O grande problema da Bandai Namco é que não vemos eles ao menos tentarem com estas franquias que têm em mãos. Vamos ser sinceros, estamos falando da mesma empresa que produz clássicos como Dark Souls, RPGs como a série Tales Of, se aventura com Little Nightmares e até em games de terror como a saga The Dark Pictures Anthology. Mesmo que sejam estilos distintos, não veria problemas em tentar adaptá-los para encaixar em suas demais obras.

Quer um exemplo para ficar mais fácil? Imagine um Death Note com um sistema de escolhas, onde você participa ativamente do jogo de “gato e rato” entre Kira e L. Ou um jogo de aventura semelhante a Scarlet Nexus com os personagens de Bleach, abrangendo desde o início da jornada de Ichigo contra os Hollows em Karakura até o derradeiro confronto contra Aizen.

Bandai Namco
Kira merecia mais do que uma ponta em grandes crossovers.

Nem tudo está perdido

Devemos dar o braço a torcer de que a Bandai Namco está tentando? Claro que sim, afinal de contas temos vindo aí Digimon Survive, um RPG tático que promete revitalizar a franquia. E aí que está a coragem, não é difícil de vir. Em outra comparação à Marvel, seus filmes começaram a mudar a crítica pública a partir do momento que deixaram de ser apenas “filmes de super-heróis”. Capitão América e o Soldado Invernal, Guardiões da Galáxia, Homem-Formiga tem gêneros bem-definidos que fogem da fórmula básica.

E é exatamente isso que falta para a empresa poder chamar a atenção com uma mídia que está cada dia mais forte. Pegar um título que se encaixe bem em certos gêneros e adaptar de forma respeitosa aquele material. Imaginem as possibilidades. A SEGA, por exemplo, já fez isso com Bleach 3rd Phantom na época do Nintendo DS. Assim como a Konami acertou em cheio em Yu-Gi-Oh! Forbidden Memories no primeiro PlayStation e em Legacy of the Duelist atualmente.

São exemplos simples de que não foi reinventada a roda, mas sim criado algo de bom usando os mesmos conceitos. Seria uma excelente saída e mostraria que este mercado ainda tem forças para seguir em frente. O caminho que a Bandai Namco segue hoje em relação a estes jogos é aterrador a ponto de nem mesmo as empresas rivais fugirem dessa fórmula. Ou você jura que Demon Slayer: The Hinokami Chronicles, da SEGA e da CyberConnect2 será diferente de algum modo?

Bandai Namco
Digimon Survive será um RPG tático, digivolvendo a franquia.

Não seria estranho a própria produtora rever seus erros e tentar mudar isso. Na verdade, eles até criaram coisas novas e que foram extremamente interessantes como Code Vein e o já citado acima Scarlet Nexus. Ambos não vieram de animação alguma, mas que enriqueceram o cenário com uma aventura inédita e funcionalidades distintas. Volto a repetir, não reinventou a roda, mas deram um ar diferente para algo que estava batido, acertando justamente os fãs que pediam por algo do tipo.

Basta ver como a NetherRealm Studios escapou das adaptações cinematográficas para criar Injustice e a Insomniac Games que trouxe o Homem-Aranha de volta em grande estilo para a nova geração. Podem reparar, nada de novo foi feito. Porém, foram coisas pequenas que saíram muito bem-feitas e trouxeram um fator diferenciado às suas obras. Nem preciso dizer a hype que os fãs estão em relação ao Marvel’s Wolverine que anunciaram durante a semana ou ao Midnight Suns, da Firaxis.

O que falta à Bandai Namco é um estúdio que queira se arriscar e trazer uma abordagem diferente ao cenário. Chega de sempre vermos jogos de luta 3D em arenas genéricas. Está na hora de buscarmos o “Plus Ultra” do gênero e fazer valer o nível de excelência que temos de mangás e animes antigos ou atuais. Espaço é o que não falta, público tem de monte e as oportunidades estão aí. Isso sem falar na tecnologia, pois a geração PlayStation 5 e Xbox Series permite explorar ainda mais tudo isso. Cadê a vontade agora?