Hoje faz 35 anos que o mundo foi agraciado com o lançamento da mais influente obra de Katsuhiro Otomo. Em 20 de dezembro de 1982 estava sendo lançado no Japão o primeiro volume de Akira, o precursor do gênero Cyberpunk na terra do sol nascente, e não menos importante, uma das mais famosas histórias de ficção científica não só no Japão mas também no resto do mundo. Akira foi encerrado no sexto volume, lançado dia 25 de junho de 1990, e seu sucesso apenas triplicou com o lançamento do longa metragem em 1988, esse que também é considerado uma obra-prima da animação.
Mesmo sendo uma obra de ficção que em muitos momentos aparenta ser da mais viajada possível, Akira está repleto de críticas sociais e principalmente políticas. O abuso de poder, o descaso do homem com seu próximo, que coloca a ciência e suas descobertas acima dos direitos humanos, e principalmente o falso controle que o homem tem sobre tudo são alguns dos temas abordados, onde a obra deixa claro que todo esse controle do homem não passa de ilusão e até a pessoa mais poderosa do mundo é tão frágil quanto qualquer outra. A história não chega a ser tão profundamente filosófica quanto Ghost in the Shell, lançado anos depois, em 1989, e que também carrega a temática Cyberpunk de Akira, mas ainda assim tudo é retratado de uma maneira rústica, sutil e até mesmo complexa em certos aspectos.
O sucesso do mangá e da animação são inegáveis, e é claro que a indústria de games não deixaria passar essa chance de adaptar um estouro desses. No mesmo ano de lançamento do longa, em 1988, a Taito estava lançando um jogo de mesmo nome que o filme e o mangá para o Nintendinho e computadores. Não precisa ser fã para imaginar que Akira renderia um ótimo jogo de plataforma e ação, com fases envolvendo perseguições de motos, tiroteios e tudo mais. Infelizmente não foi isso que aconteceu, pois essa adaptação foi apenas um Adventure Visual Novel, aqueles famosos jogos de texto que foram bem populares nos anos 80.
Todas as cenas eram apenas representações dos momentos do filme em 8-bit, e os diálogos iam passando embaixo, onde em certos momentos o jogador deveria escolher alguma opção para decidir como o jogo iria proceder. Se esse Akira tivesse sido lançado hoje em dia, com certeza ele teria sido produzido pela Telltale. Obviamente, esse não era o jogo que todos esperavam, e além de ser entediante, ele ainda era muito curto, tendo pouco mais de 1 hora de gameplay. Por conta disso ele foi duramente criticado nas reviews, e acabou nem chegando ao ocidente, onde muitos anos depois foi lançada uma tradução dos textos feita por fãs, e que pode ser facilmente baixada e jogada em qualquer emulador.
Em 1994 outra adaptação de Akira foi lançada, um jogo britânico para o Commodore Amiga CD32 desenvolvido pela International Computer Entertainment, o que presumiram que seria um salto muito grande do jogo anterior para este, pois a tecnologia já era outra. O game é de ação e plataforma, mais um motivo que animou os fãs do anime, mas foi só nisso que ele acertou, pois o resto é simplesmente abominável. Ele até engana na introdução do início, que conta com algumas imagens do longa e com a trilha sonora do filme com um som de qualidade, mas assim que se inicia a primeira fase, tudo vai por água abaixo.
Escolheram as perseguições de moto como cenário inicial do jogo, onde controlamos Kaneda em sua icônica moto vermelha. Já se notava logo de cara que os efeitos sonoros eram bizarros, e ao invés de uma briga de gangues, tudo que temos de fazer é dirigir a moto e desviar de obstáculos, tudo isso em uma velocidade incrivelmente lenta e com uma fase que aparenta ser interminável. Em conjunto com os gráficos feios e sem vida, e com a trilha sonora nem um pouco empolgante, quem teve paciência de terminar a primeira fase já merecia uma conquista por tal feito. O restante do jogo não melhorava nem um pouco, onde em seguida você entrava em uma fase de plataforma em que controlamos Tetsuo na cena dos brinquedos, e além da jogabilidade ser medíocre, só essa fase seria facilmente metade do jogo, de tão longa que ela é. O restante seria apenas os momentos finais da história, no controle de Kaneda, e de uma forma resumida, também não é legal.
Em 2002, quando tudo nos indicava que Akira havia sido esquecido no mundo dos games, a Bandai estava lançando um novo jogo do anime, produzido pelo estúdio KAZe. Dessa vez o título era de PlayStation 2, então finalmente Akira iria ganhar o jogo que merece, afinal a tecnologia já estava melhor do que nunca, então o que poderia dar errado? Tudo, pois todo o potencial da marca foi mais uma vez desperdiçado, dessa vez em um jogo de Pinball. Akira Psycho Ball trazia quatro fases inspiradas em momentos do filme, onde sua recompensa em bater altas pontuações nelas era assistir a algumas cenas do longa. Você nem mesmo precisa de um PS2 pra jogar esse, qualquer pessoa pode jogar esse Akira caso tenha um PC com Windows XP.
Infelizmente, essa foi a última vez que vimos Akira nos games, e até hoje o mangá não teve um jogo que faz jus ao seu sucesso. Mas não era pra ser desse jeito, pois um outro game do anime estava sendo produzido pela THQ em 1994, mesmo ano de lançamento da adaptação do Amiga CD32, e este seria lançado para SNES, Sega Genesis, Game Gear, Game Boy e até mesmo Sega CD. O jogo seria de plataforma como a grande maioria dos jogos de Super Nintendo e Genesis, mas acabou sendo adiado e algum tempo depois cancelado sem mais nem menos.
Pouco se sabia sobre esse título até alguns anos atrás, quando o historiador de games Patrick Scott Patterson, na sua busca de encontrar e conservar jogos antigos, acabou mostrando ao mundo algumas screens, e posteriormente até um gameplay amador foi revelado, onde podemos notar que o jogo já tinha várias fases construídas, porém nada estava totalmente pronto. De longe já seriam os melhores gráficos de um jogo de Akira, a era 16-bit caiu como uma luva no estilo do anime, e ele aparentava ser um jogo de ação que, apesar de não ter nada de especial, seria bem divertido de se jogar. O gameplay, que é da versão de Sega Genesis, mostrava que o game contaria com cenas animadas e recriações dos momentos do anime dignas de um jogo 16-bit, além da variação das fases, que são fiéis ao filme e quase nunca se repetiam, possuindo até mesmo fases com aquela tridimensão ilusória, também usada em jogos como Toy Story e Jurassic Park do SNES.
Isso é tudo que temos desse que provavelmente seria o melhor jogo de Akira já feito, mas que acabou caindo no esquecimento, e hoje não é possível encontrar nem mesmo uma ROM do projeto inacabado. Akira é uma obra excelente tanto na leitura quanto nas telas, mas acabou que ficou devendo nos jogos, e é muito provável que não veremos um novo jogo de Akira para a geração atual, assim consagrando esse título como uma obra-prima muito mal aproveitada na indústria de jogos. Akira é o clássico que jamais recebeu o jogo que merecia.