Se tem algo de que os gamers e o público nerd/geek não conseguem mais fugir são os vazamentos. Os maiores jogos e filmes do ano geram um hype excessivo, alguém com acesso prévio ao material vê ali uma chance de se promover na internet e redes sociais e o estrago está feito. Antes de você sequer ter a chance de colocar as mãos para checar por si mesmo, há inúmeras informações daquela mídia online. Até onde isso nos afeta?
Death Stranding lançou no dia 08 de novembro e está gerando diversas críticas mistas. A verdade é uma só: ele chegou para mudar um pouco a estagnada indústria dos games e, gostando ou não, nisso tem obtido sucesso. Porém, no dia 23 de outubro, já corriam vários detalhes principais da história, do percurso que Sam Bridges atravessaria para salvar a humanidade da catástrofe e até das personalidades que não foram anunciadas, mas que apareciam no jogo.
Pokémon Sword e Pokémon Shield estão a menos de uma semana de lançar e não podia ter acontecido diferente. Os dataminers já compartilharam tudo que havia ali sobre os novos monstrinhos, os antigos que foram cortados, as novas formas, lendários entre outros. A Game Freak tentou ao máximo conter as informações e, hoje, você nem precisa ir muito longe para ver os memes e as inúmeras imagens que circulam nas redes sociais.
Diferenças de vazamento
Um dia antes do lançamento mundial de God of War, um conhecido meu já tinha me soltado um detalhe muito importante sobre Atreus. Na semana anterior de Mortal Kombat 11 chegar, as pessoas comentavam os desdobramentos do fim arquitetado pelos personagens. Kingdom Hearts III? Tive de me desconectar completamente para não ver qual seria o fim da jornada de Sora ao lado de Pateta e Donald. E, não sem cabimento, já estavam rolando até vídeos da derradeira batalha.
Uma coisa são anúncios e informações privilegiadas que saem antes do esperado. Por exemplo, o vazamento dos banners e da existência de Overwatch 2. Isso não estraga a experiência dos jogadores, muito pelo contrário, gera ainda mais hype para quando chegar o material oficial. Ouso dizer que algumas empresas até fazem isso de forma proposital, para conferir a reação do público antes de se pronunciar diretamente com todos.
Outra é você estar ansioso para um game já anunciado e cuja publicidade não te revela as partes importantes, esperando que chegasse em determinados pontos para assim descobrir o que acontece ali. Nisso, vem alguém nas redes sociais ou de algum site e te fala claramente “fulano morre”, “ciclano trai o grupo” ou coisas piores. Talvez não seja o seu caso, mas pense em quantas pessoas têm sua motivação totalmente encerrada a partir disso.
Em termos mais claros, você não gostaria de saber esse tipo de coisas quando mexem com a sua vontade de ter aquilo para sua experiência. Imagine que depois de todos os trailers mostrando os vilões de Marvel’s Spider-Man e as aventuras do herói por Nova Iorque, cai na sua visão que Peter Parker morre no confronto contra um certo vilão, é substituído pela Gwen Stacy de outra realidade e ela que enfrenta a batalha final.
Calma, não é isso que realmente acontece. Porém, pensa conosco, de que adiantaria passar mais de 50h como o fotógrafo sabendo que a jornada não terminaria com ele, mas sim com outro personagem totalmente aleatório até onde sua informação vai? Mesmo que o jogo construa algo nessa direção, você nem teve a chance de experimentar. Ainda faltando dias para lançar e, agora que sabe do fim, dá para perder esse tempo com várias outras coisas. Entendeu ou quer que desenhe?
A culpa é de quem?
Aí você vem nos vociferar, talvez com um “isso é culpa dos leakers” ou com um “é essa galera do Youtube e dos sites de games que têm acesso privilegiado e querem aparecer”. Não, infelizmente não é culpa deles. É nossa. Leakers, youtubers, sites vivem de acesso. De pessoas entrando e lendo tudo isso. Quanto mais gente busca aquilo por lá, mais eles liberam informações porque aquilo está alimentando os acessos.
Se eu estou falando que a culpa é minha e sua? Com certeza. Nós que fazemos parte daqueles milhares de compartilhamentos daquele meme que mostra aquele Pokémon lendário novo que nem a Nintendo chegou a anunciar. Nós que falamos para o amigo que aquele jogo, baseado em metade de uma informação, não vale a pena porque o herói morre no fim. Nós que vemos as pessoas ansiosas e buscamos acabar com esse sentimento porque também acabaram com o nosso. Pesado, não é? Porém, é o real e sabemos disso.
Como eu disse acima, isso não é válido apenas para os jogos. Quantos filmes da Marvel você sabia da cena pós-crédito ou do desenrolar da história antes mesmo de ele chegar? Quantos amigos estão assistindo determinado anime e vocês quiseram aparecer por ter lido o mangá, falando coisas que aconteceriam após duas temporadas ou mais? Quantos livros você já leu online antes dele chegar nas livrarias de forma oficial?
O ser humano é uma forma de vida curiosa, disso não dá pra negar. Não conseguimos ver uma ponta de algo sem puxar para ver o que há escondido ali. Isso se intensifica em várias formas com a internet e redes sociais. Porém, não se trata do quanto você aguenta segurar essa curiosidade toda, mas sim do quanto você compartilha isso apenas para ganhar likes, acessos ou visibilidade.
Não adianta puxarmos para o lado psicológico da coisa. Pode ser síndrome de várias falhas, carência, ansiedade, dê o nome que for. Porém, pare de estragar o momento dos seus amigos e das pessoas que conhece só para se divertir nas custas do hype destruído. Sério, conheço pessoas que contam rindo, sabendo que você já não quer saber daquilo e achando lindo e maravilhoso. E também sei que eles não são os únicos, basta abrir quaisquer comentários de grupos ou páginas de Facebook.
Vale a pena mudarmos esse hábito
Quando pararmos de consumir esses conteúdos, esse mercado vai recuar. Não é estranho vivermos numa época que está valorizando mais o “ouvi falar” do que experimentarem elas mesmas? A vida está aí para todos, tudo de multimídia como livros, filmes, games e o que quer que venha em sua mente está ali também. Algumas delas até de forma gratuita. Aproveitem seu espaço, respeitando o dos seus amigos e conhecidos.
No ano que vem teremos verdadeiras pérolas dessa geração, como Cyberpunk 2077, The Last of Us Part.II, Final Fantasy VII Remake, Halo Infinite entre vários outros títulos que com certeza passarão pelo mesmo processo. Vamos ser um pouco mais compreensíveis, aproveitá-los e deixarmos cada um ter a sua própria experiência dentro desse universo. Vamos nos conter mais e dar menos espaço para esse tipo de toxicidade dentro da internet. Acredite: é o jogo certo para todos ganharmos.