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Trabalhar com editorial de games sempre foi difícil e trabalhoso. E isso nunca mudou desde que entrei nesse mundo em 2004, escrevendo pro extinto Banana Games. Naquela época haviam menos de 10 sites de games consolidados no Brasil. Hoje tem quantos, incluindo influenciadores, youtubers e streamers? Uns 200 pra mais? A concorrência aumentou, mas sempre há espaço pra todo mundo. Porém no topo ficam apenas alguns nomes, cada um com seu devido mérito e números expressivos. Os demais sobrevivem como pode ou desistem.

Um site se sustenta com AdSense e posts patrocinados, basicamente. Isso sem deixar de fazer um bom SEO, atualizar o site com frequência e, principalmente, escrever bem. Jogar é fácil, mas expressar a experiência em forma de análise quase nunca é simples. Tem jogo que a gente tira de letra e outros que acabam com a nossa energia, tirando o prazer em jogar. E isso acontece muito quando envolve embargo: acesso antecipado pra jogar e escrever antes do lançamento, publicando em uma data e horário específico junto de todo o resto do mundo. Uma vantagem que ajuda, mas nem sempre é favorável. E sempre há uma pressão psicológica nessa corrida contra o tempo.

Ter site de games é um trabalho como qualquer outro: exige tempo, força de vontade, às vezes é legal, às vezes não é. Se você é jovem e tá com tempo livre, vai com tudo! No mínimo aprenderá muita coisa no processo e poderá conseguir seus primeiros games com assessorias, o que ajuda a economizar uma nota preta. É uma moeda de troca inicial, um incentivo. Mas saiba que viver disso é bem difícil. Ainda mais se seguir somente no formato tradicional de texto, sem ter o suporte de redes como YouTube, Tiktok e Instagram. E não há nada de humilhante em pedir ajuda pra sua comunidade, seja com financiamento coletivo, membros no YouTube, doações na Twitch. O que importa é tentar chegar em algum lugar.

Mudança de comportamento

Não quero generalizar, mas os números do Gamerview – e de outros sites parceiros – não mentem: o público lê cada vez menos. Em reviews, o comportamento mais comum é o visitante conferir a nota e ler só os prós e contras. Em uma sociedade cada vez mais ansiosa e grudada no celular, o normal virou consumir um monte de informações curtas, principalmente em vídeo. Ganha mais atenção quem abordar a polêmica do momento, quem fizer o melhor react, quem viralizar. O mundo virou isso, goste ou não. Para os sites, não só de games, virou um problemaço. E olha que muitos se adaptaram ao conteúdo encurtado das notícias diárias, mastigadas ao extremo, com títulos click bait pra tentar reter a atenção dos visitantes.

Falando em notícias diárias, eis a sina de quem tem site de games: ou você se mata pra cobrir as principais novidades todo santo dia ou você perde relevância pro Google perante à concorrência. O Gamerview era refém disso até 2024, quando encerramos o “hard news” pra focar no autoral. Sabíamos do perigo dessa decisão e, como resultado, perdemos mais de 80% do público e o apoio de algumas assessorias, deixando de receber jogos. Ao mesmo tempo que foi péssimo pra gente, foi libertador. Podíamos finalmente concentrar nossos esforços no autoral, naquilo que realmente gostamos de fazer. Mas quem lê? Segundo o Analytics (Março/2025), o Gamerview recebe 44,7% de acesso direto, que pode ser o nosso público fiel visitando o site com frequência. Ou só uma ilusão mesmo.

Quem é o Gamerview na fila do pão?

Embora não seja popular, o Gamerview tem bastante história. Começou 16 anos atrás, em Abril de 2009. Éramos cinco integrantes empolgados e dedicados. Tínhamos um certo tempo livre e fazíamos um pouco de tudo: notícias, reviews, previews, podcasts, cobertura de eventos, etc. Tivemos altos e baixos, dezenas de colaboradores passaram pelo site e, no auge, chegou a ter mais de 550.000 visitas por mês. Fizemos até parte do Portal Uai por um tempo. Não chegou a virar um negócio, uma empresa com pessoas empregadas, mas rolaram vários investimentos pra tentar viabilizar esse sonho.

Estando neste mercado há tanto tempo, e também graças ao Gamerview, conquistei vários trabalhos como cinegrafista e editor de vídeo freelancer, incluindo cobertura da Blizzcon e da extinta E3. Os contatos que fiz me garantiram trabalhos pra Blizzard, Microsoft (Xbox), Bandai Namco e Ubisoft, entre muitos outros. Do lado da equipe, vários editores ganharam muita experiência e conquistaram empregos em grandes sites de entretenimento, como Adrenaline e Canaltech. De um jeito ou de outro, todo mundo tirou proveito em sua passagem pelo Gamerview. E fico feliz em ter contribuído de alguma forma.

Também conquistamos nosso espaço em vários trailers e materiais de marketing dos jogos que cobrimos, com menção e/ou nota: Elden Ring Shadow Of The Erdtree, The Legend of Zelda Tears of the Kingdom, Starfield, Diablo IV, Metroid Prime Remastered, Hyrule Warriors: Age of Calamity, Teenage Mutant Ninja Turtles Splintered Fate, Death Stranding, Returnal, dentre muitos outros exemplos em que cravamos nossa presença.

Somos bastante respeitados pelas assessorias do mundo todo, algo que conquistamos com tempo e dedicação. Uma conquista que só foi possível com a equipe de colaboradores. Mas no cenário atual, isso tem algum valor? Alguém se importa de verdade? Até quando teremos relevância com um site editorial tradicional? Com os acessos caindo mês a mês, o que vai sobrar da gente?

No passado, tentei emplacar no YouTube com vídeos autorais. Eu fazia reviews apresentados, que depois mudou pro formato backstage (só locução, sem aparecer). Alguns deles foram bem sucedidos, mas o trabalho envolvido foi insano. Aí veio o algorítimo em sua fase inicial, injusto pra caramba, e atrapalhou tudo. Tentamos, em equipe, retornar este formato de locução, mas com tanto conteúdo de games no YouTube ficou difícil ter relevância. O que funcionou no canal foram os compilados de história, sem gameplay, que chamamos de “filme” pra facilitar. O vídeo de God of War Ragnarok é o mais visto até hoje, com 2,8 milhões de visualizações (até o momento). Tem algo de autoral nisso? De forma alguma, qualquer um pode fazer, apesar do trabalho de edição. É triste, mas é assim que as coisas funcionam no YouTube. Mas não desistimos… ainda.

A sua opinião importa

Se você leu até aqui, muito obrigado! Você é a exceção, o ponto fora da curva, alguém que realmente dá valor pro que fazemos. E peço desculpas pelo desabafo, pela sinceridade brutal. Muita gente romantiza os sites de games achando que é só alegria, quando a realidade é outra. Tememos entrar em hiato pela terceira vez e, talvez, nunca mais voltar. Pra continuarmos na ativa, precisamos entender o que o nosso público quer consumir para nos adaptarmos. Dê a sua opinião no formulário abaixo, é jogo rápido. E obrigado por se importar com a gente. 😉