A SNK foi fundada no final da década de 70. Até o fim da década de 80, ela era uma softhouse de segunda categoria (apesar de alguns jogos bons, como Athena e Ikari Warriors). A história da empresa mudou quando ela resolveu lançar um sistema de arcades modular proprietário. Para os donos de arcades, isso era fantástico, já que não era possível trocar os jogos de uma máquina de arcade. Se você quisesse trocar o jogo de uma máquina, era preciso trocar a placa completa. O sistema lançado pela SNK em 1990, chamado NeoGeo MVS (Multi Video System), oferecia a possibilidade de se trocar o jogo simplesmente trocando o cartucho, como em um console de videogame doméstico. Isso, mais a possibilidade de se ter até um máximo de seis jogos na mesma máquina e o baixo custo por jogo (500 dólares, menos da metade de um jogo normal de arcade da época) fez com que o sistema fosse um sucesso comercial.
Para tentar entrar também no mercado doméstico, a SNK resolveu usar a força de seus jogos arcade e ofereceu simultaneamente a possibilidade de se jogar os mesmos jogos em casa. Para fazer isso, ela simplesmente fez uma versão doméstica de sua placa de arcade com apenas uma entrada para cartucho, chamou o aparelho de NeoGeo AES (Advanced Entertainment System) e colocou os cartuchos enormes do arcade em um formato ligeiramente diferente – mas ainda gigantesco. Para quem nunca viu um NeoGeo ao vivo, basta pensar que o cartucho do NeoGeo era do tamanho de um console Super Nintendo americano, apenas ligeiramente menos grosso.
O joystick fornecido era no estilo arcade, com a mesma distribuição de botões do MVS (quatro botões A-B-C-D, em linha). A alavanca fazia um clec-clec irritante, que fazia crer que o controle podia quebrar a qualquer momento, mas era bastante resistente e confiável.
Os cartuchos tinham que ser grandes, porque ocupavam muita memória. A especificação original permitia cartuchos de até 330 Mb (como referência, os maiores jogos lançados para Super Nintendo, Tales of Phantasia e Star Ocean, tinham apenas 48 Mb), mas posteriormente vários jogos utilizaram técnicas de mapeamento de memória e aumentaram esse total para 716 Mb (quase 90 MB).
Por conta de tudo isso, o console e seus jogos eram caríssimos. O preço de lançamento do console nos EUA foi de 650 dólares (com dois joysticks e um jogo), com os jogos sendo vendidos a 200 dólares ou mais. Com isso, obviamente foi um console de elite. A SNK até tentou reduzir os custos, fazendo uma versão CD em 1994 (famosa por seus tempos de loading bizarros), mas no final os NeoGeo de mesa tiveram sua produção interrompida em 1997. Mas o arcade sempre foi um sucesso, então a plataforma caseira seguiu viva, com lançamentos simultâneos para MVS e AES.
No início, os jogos tinham um visual excelente para a época, mas não se destacavam tanto da maioria. Nos primeiros dois anos de vida do console/arcade, talvez os melhores jogos sejam Baseball Stars Professional, uma versão de seu sucesso Baseball Stars, e The Super Spy, um curiosíssimo FPS.
No entanto, a história da SNK mudou em dezembro de 1991, quando ela lançou Fatal Fury. Era um jogo de luta no mesmo esquema do sucesso da Capcom, Street Fighter II, mas se destacava dos imitadores graças a suas inovações: um modo história que REALMENTE tinha uma história e os dois planos de luta. No ano seguinte, foi lançada a continuação Fatal Fury 2, que melhorou ainda mais a fórmula e consolidou a SNK como a grande concorrente da Capcom no gênero.
O NeoGeo, a partir daí, se consolidou como uma plataforma lucrativa, tanto para jogos de luta (ADK com seu World Heroes, Data East com Karnov’s Revenge, Sunsoft com Galaxy Fight: Universal Warriors e Waku Waku 7, a Technos com sua versão 1-on-1 de Double Dragon) como para outros estilos (o clássico Puzzle Bobble foi lançado pela Taito na plataforma; houve versões mais que competentes de Bomberman e Mr. Do!).
Mas quem realmente dominava o NeoGeo era a dona da bola. A SNK criou dezenas de clássicos atemporais para sua plataforma híbrida, criando dezenas de jogos de luta: Fatal Fury, Samurai Shodown, Art of Fighting, o imbatível King of Fighters, o tremendamente subestimado Savage Reign, The Last Blade… A lista é interminável. Além disso, não podemos deixar de citar o genial shooter de plataformas Metal Slug e a competentíssima série de jogos de futebol Super Sidekicks, com seus chutes com som de soco quebra-costelas.
No entanto, mesmo com todo esse sucesso, as tentativas da SNK de entrar no mercado doméstico, tanto com o NeoGeo AES como com o NeoGeo Pocket, acabaram sendo a sua ruína. Apenas quatro anos depois do fim da venda do NeoGeo AES, a SNK declarou falência. A Playmore, criada pelo fundador da SNK, comprou os copyrights da massa falida, mudou seu nome para SNK Playmore e continuou lançando jogos para o sistema, tanto para arcade como para AES, mas a um ritmo menor. O último lançamento foi Samurai Shodown V Special, em 2001.
Talvez o NeoGeo seja o único console do mundo em que a maioria dos seus usuários tiveram acesso aos jogos sem nunca terem tocado ou mesmo visto um console na vida. A qualidade da biblioteca de jogos da SNK foi a grande responsável por esse fenômeno. Com todos os clássicos atemporais criados pela empresa de Osaka, o NeoGeo ocupa na história dos videogames um lugar de honra. Mesmo tendo vendido pouco, e mesmo tendo sido um console de elite, ele é reconhecido como um dos maiores consoles de todos os tempos.