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Você se lembra do seu primeiro contato com um computador? Eu tinha 5 anos de idade quando, em meados dos anos 2000, tive o meu primeiro contato com o que representava o auge tecnológico da época. De início ele veio com um jogo, o FIFA 2002, e diversos outros programas em seu sistema operacional. Explorar todos os recursos e softwares disponíveis se tornou rapidamente o meu passatempo favorito, onde dediquei horas e horas da minha vida. Esse sentimento de nostalgia está presente em Commander ’85, um jogo que te coloca para explorar um computador inspirado nos antigos Commodore Amiga.

A ideia pode parecer simples, mas existe toda uma história envolvente por trás desse computador. Ambientado durante a Guerra Fria, há todo um clima de mistério que ronda as ações do personagem utilizando a sua máquina recém adquirida. Juntando mistério, curiosidade e uma mãe preocupada com os estudos do seu filho, Commander ’85 colocará o protagonista em uma posição que nenhum adolescente tem maturidade o suficiente para lidar.

Obrigação primeiro, diversão depois

Quem nunca brigou com a mãe por passar algumas horinhas a mais na frente do computador, certo? Em Commander ’85 isso é representado de uma forma fiel e cômica. Contando com uma barra que remete ao valor de paciência, a sua mãe estará preocupada com o tempo gasto na frente da telinha e irá pedir para você realizar tarefas adicionais. É bom não contrariar as ordens dela, caso contrario pode dizer adeus ao computador.

Desde levar o lixo pra fora até checar o seu dever de casa, a sua mãe aparecerá nos momentos mais inconvenientes do mundo. Ela não saberá diferenciar, por exemplo, um jogo de uma tentativa de salvar o mundo, mandando você ir pra cama quando chegar uma certa hora independente da tarefa que esteja realizando.

Pra que tanto drama, mãe?

Tá, mas espera um pouco, salvar o mundo? Um adolescente? Pois é isso mesmo que você leu. Imagine falar para a sua mãe que você não pode dormir agora pois está hackeando o sistema de mísseis dos Estados Unidos e evitando uma possível terceira guerra mundial. Nenhuma pessoa normal acreditaria nessa história, por mais verdadeira que ela seja na narrativa do jogo.

A mágica do primeiro computador

O meu relato contado no primeiro parágrafo desse review serve para dar uma dimensão da magia do primeiro computador. Com o equipamento em mãos, um mundo de possibilidades se abre para o protagonista que passa a dedicar boa parte do seu tempo interagindo com a máquina. Contudo, por se tratar de um computador um tanto quanto diferente, essas interações se mostrarão bem diferentes do padrão da época.

Ignorando essas diferenças, toda a interface do computador lembra bastante os modelos da década de 1980. O usuário deverá controlar o mesmo utilizando linhas de comandos sem o auxílio de um mouse, contando apenas com o teclado. Se você já mexeu em computadores antigos (digo, antigos de verdade) sabe que isso é bem real e retrata como que era a interação entre humano e computador na época.

A interface lembra bastante os computadores da franquia Fallout.

Conectar com os números telefônicos usando o modelo de conexão discada da época foi o principio da internet com conhecemos hoje, ação que é representada com fidelidade em Commander ’85. Utilizando disquetes para instalar aplicativos, uma das atividades principais no computador são os jogos. Existem vários disquetes contendo jogos e aplicativos diferentes, todos utilizáveis e jogáveis dentro do PC. Entretanto, não deixem essas atividades te distraírem, pois tempo é dinheiro e há muito o que ser descoberto dentro do jogo.

Before I learned to love the bomb

O grande diferencial do jogo é a sua história um tanto quanto diferente. No auge do conflito entre a União Soviética e os Estados Unidos, um adolescente tem em suas mãos uma arma extremamente poderosa e desconhecida: um computador com uma inteligência artificial misteriosa. Essa IA irá te guiar pelo jogo, auxiliando em algumas tarefas e contendo uma personalidade própria.

Mas o que um computador pode influenciar nesse conflito? Bom, se eu falar será um spoiler, então deixarei para que você descubra dentro do jogo, mas aqui vai uma dica: a internet foi desenvolvida com o objetivo de proteger informações sigilosas do governo na iminência de um ataque nuclear. Ver os desdobramentos das suas ações culminando em 1 dos 3 finais possíveis é bem interessante.

Manual é para os fracos, certo? Acho que não…

A ideia de interatividade empolga, mas não há muito o que se fazer no computador fora os jogos e disquetes. É possível navegar no protótipo de internet de 1985, mas não há muita profundidade. Obviamente isso pode ser explicado por razões histórias: não havia muito o que se fazer na internet há 35 anos. Existem objetos interativos espalhados pelo quarto, mas, tirando a TV que possui um videocassete, eles não acrescentam em quase nada.

Commander ’85 é uma tentativa de reviver a nostalgia da computação na década de 1980. Utilizando uma história investigativa como plano de fundo, as interações disponíveis no computador agradam, mas só até certo ponto. Trata-se de uma experiência bastante agradável, contando com uma trilha sonora da época e uma boa ambientação, mas falha em manter o jogador entretido durante um longo período de tempo. Se você gosta da história da computação, Guerra Fria e curte um bom mistério, então esse jogo irá te satisfazer.