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Neste tempo em que tantos jogos independentes são produzidos com o feedback contínuo de uma comunidade, em estratégias como o early access, UnderMine chega como mais um título que aparentemente foi formado através de dezenas de atualizações, cada uma completando uma faceta do jogo final. 

Finalmente deixando o early access, esse produto final agora chega não só ao Steam, como também às lojas da Microsoft, incluindo o acesso via Xbox Game Pass. Basicamente, UnderMine é uma verdadeira pechincha, mas é bom perceber como este título, diferentemente de tantos lançados a preços inflados em estado de demo, se mostra bastante completo.

Padrão ouro

Roguelite com todas as características que a definição envolve, o que mais diferencia UnderMine de seus contemporâneos é o seu foco na mineração, seja na maneira como contextualiza o elemento do permadeath em sua história e seu mundo, seja no loop de gameplay que mantém as coisas fluindo – e o jogador cativado, é claro. 

Imagem do jogo UnderMine
Esses malditos pilfers.

É interessante notar o quanto o design do jogo desenvolve o tema da mineração em cada aspecto que surge no gameplay. Veios de ouro são encontrados nas paredes das “masmorras” regularmente, mas o loop de UnderMine não se resume a coletar esse ouro com sua picareta e sair feliz com ele por aí, juntando-o pouco a pouco.

A coleta do ouro tem seus desafios, já que o game da Thorium apresenta uma série de peculiaridades. A primeira delas são os chamados Pilfers, gosmas que surgem assim que você remove o ouro de uma parede ou rocha e que tentam roubar suas preciosas pepitas. Já os familiares são criaturas que o acompanham e que podem ajudar de formas diferentes nestas situações. 

Há também o balanço comum de um roguelite, significando uma perda de ouro e itens assim que o jogador morrer em uma das rodadas. No entanto, aqui não perdemos todo o ouro, e sim uma proporção dele, assim nosso objetivo é procurar perder cada vez menos de nosso ouro. Como? Coletando mais ouro, ora bolas!

Imagem do jogo UnderMine
Dias de luta, dias de glória.

Porém enquanto essa razão entre ganhos e perdas incentiva aventuras cada vez mais longas pelas dungeons, o propósito desse ouro se encontra de volta na superfície, ou seja, é comum e até mesmo necessário morrer em sua jornada, principalmente se quiser adquirir novos upgrades, mercadorias e confeccionar novos itens. 

De resto, no geral, UnderMine é um roguelite tradicional, mas extremamente eficaz. Nem tudo precisa ser a reinvenção da roda no mundo dos indies, mas é sempre recomendável que um jogo seja ao menos competente naquilo que propõe. Não vai explodir as cabeças dos jogadores hardcore, mas possui o bastante para ter a atenção dedicada do nicho.

Algo especialmente merecedor dessa atenção é o cuidado com a geração “randômica” das salas e andares das masmorras, que se repetem muito pouco salvo pela estrutura geral: a cada quatro andares, um chefe surge. Claro que tudo muda mais radicalmente se o jogador derrotar tais chefes, permitindo que a história avance e a ambientação mude artisticamente.

Imagem do jogo UnderMine
Não estava preparado pra isso…

Os inimigos que evoluem tanto em aparência quanto em padrões de ataque e há novas disposições de armadilhas no cenário, mas além disso, cada jornada apresenta salas específicas com puzzles – às vezes demasiadamente – discretos, isso se o jogador não encontrar também um novo personagem em busca de ajuda – ou dinheiro.

Caçadores de tumbas

O que mais muda a dinâmica de cada rodada em UnderMine são os artefatos, itens que podem ser encontrados em certas salas e que garantem buffs específicos ao minerador que os encontrar. Estes artefatos variam no grau de interferência na jogabilidade, porém é sempre triste perdê-los ao final de uma rodada fracassada. 

Contudo, por mais que haja um esforço admirável de variedade para cada jogatina, o ritmo desse loop é muito mais engessado e pré-estabelecido, exigindo que os jogadores embarquem em horas de uma grind paciente. Como isso se encaixa tematicamente no jogo, não chega a incomodar, mas aqueles que esperam uma speedrun devem se preparar.

Imagem do jogo UnderMine
Um bestiário variado.

Para aqueles que preferem uma experiência roguelike clássica, sem qualquer raio de esperança, há o OtherMine, um modo paralelo de jogo que só pode ser acessado depois de bastante tempo na história. Esta é uma adição posterior de UnderMine, portanto não interfere na experiência principal e não é obrigatório. 

Visualmente, UnderMine pode apostar no “batido” pixel-art, mas encontra uma direção de arte tão charmosa e bem executada em movimento que a originalidade não se faz tão necessária assim. Além disso, o feedback visual e a reação aos comandos do jogador são ágeis e claros – mas com alguns probleminhas pontuais de precisão, como no arremesso da picareta.

Como não poderia faltar, o pacote é fechado por uma trilha sonora realmente legal de se escutar, algo crucial em um jogo ancorado em loops e repetição. A faixa usada para a exploração das masmorras inclusive remete um bocado às trilhas de Cris Velasco para Dead Cells, mas aqui isso surge intercalado com outros temas mais fofinhos – e grudentos.

Imagem do jogo UnderMine
Consciência de marca.

Uma breve olhada na página de UnderMine no Steam ou uma busca no YouTube mostram que o jogo já possui sua legião de seguidores, portanto a chegada de sua versão final ao Xbox Game Pass servirá apenas para expandir sua visibilidade. Com outras plataformas anunciadas, o título da Thorium tem tudo para iniciar uma pequena febre do ouro nos games.