O campo de batalha está caótico. Acabaram de destruir meu último monstro aliado, enquanto vejo os outros generais sendo acuados também. Nos esforçamos bastante, mas dessa vez o inimigo está levando a melhor. De repente, uma luz de esperança surge e talvez possamos levar a Brigandine deles para a comandante. O robô Umimaru usou seu raio, causando um dano crítico no líder inimigo e agora cabe a mim dar o último golpe.
Porém, mesmo conseguindo o item, ele é apenas um dos cinco espalhados por todo o mapa. Enquanto invadimos essa terra, os inimigos também tentam nos invadir. Soldados caem, monstros morrem e todos desejam apenas o poder. Um golpe errado e o nosso território será perdido. Enquanto tudo isso percorre minha mente, a estratégia é o que definirá se estarei vivo para mais um combate ou se meu tempo acaba aqui.
Cada passo conta
Brigandine: The Legend of Runersia é um RPG tático de muita intensidade quando você entende realmente a sua proposta. Confesso que eu tentei jogá-lo pela primeira vez e o odiei. Muitos diálogos, muita enrolação para organizar, eu vi todos os fatores e mesmo sendo um apaixonado no gênero me irritei e quis ir logo para o combate. Porém, eu não podia estar mais errado. Enquanto minha equipe era dizimada, eu entendi a razão de tanta preparação prévia.
Para fazer certo, reiniciei meu save e recomecei o jogo. E eu admito que caí de amores por tudo que achei desnecessário e vi o quanto eram elementos importantes. Se você pegar nele e cair nesse mesmo erro que eu, dê uma chance, de verdade. Ele se divide em apenas três momentos e isso é essencial para você entender a mecânica de como este universo funciona. O quanto antes você compreender e agir corretamente em cada um, mais chances terá de vencer.
Primeiramente você tem a fase de preparação. Nela você pode mover tropas, invocar monstros, trocar de equipamentos e tudo que você normalmente faria numa simples tela de pausa. Mas não aqui. Também é onde você pode visualizar o mapa e ver quais territórios decidirá invadir. Quando dá o ok e passa para a fase de combate, nada disso pode ser mexido mais. Você só escolherá onde sua tropa atacará. E você tem de escolher bem, já que onde você está ficará livre para outro batalhão poder atacar. E o combate propriamente falando, que já entra em outro detalhe.
O que quero ilustrar com isso é que cada mínima decisão e atitude que toma terá um impacto no seu desempenho. Ele não te deixará relaxar a mente nem por um segundo. Escolha mover suas tropas para outro lugar, mas não se descuide de deixar suas fronteiras abertas aos oponentes. Ataque algum lugar e deixe um batalhão para trás, vendo ele ser esmagado em combate por uma verdadeira tropa inimiga. Se seus personagens importantes caem em combate, mova uma equipe para suprir esse espaço enquanto ele está fora. Qualquer descuido significa derrota.
Com isso em mente, assumo que a Happinet, estúdio responsável pelo lançamento, teve bastante coragem em tomar essa decisão. Brigandine: The Legend of Runersia não é um game para todos. A história é rasa, beirando o esquecível. A estratégia te força a estar 100% no game, não sendo daqueles que você para pra pegar no celular ou assistir algo enquanto joga. Um personagem caído já representa um grande risco ao seu jogo. Para mim nada disso foi um problema, muito pelo contrário. Mas conheço muita gente que não se adequaria muito bem à essa pressão.
Em busca da Brigandine
Já que citei o enredo acima, vou explicar um pouco a proposta dele. Você pode jogar com uma das seis nações do continente, controlando o líder dela enquanto invade outros territórios para unificar as Brigandines. Dependendo do seu modo de jogo, o tempo para realizar seu objetivo muda. Easy te deixa livre para dominar tudo no seu ritmo. No Normal te dão 120 rodadas e, no Hard, 60. Enquanto domina tudo, alguns flashes mostram um pouco da interação do personagem que escolheu com sua equipe e alguns trechos do seu passado. Mas nada que aprofunde tanto.
Como todo fã sabe, um RPG, mesmo sendo tático, sem uma história que faça você se apegar aos personagens e desenvolver uma ligação é um ponto fraquíssimo. Eles te ganham no que citei da questão estratégica, de você se sentir desafiado e em planejar cada movimento como se estivesse num jogo de xadrez. É nisso que o jogo brilha e te deixa intrigado em organizar seus próximos passos. Porém, insira uma razão genérica para todos saírem em busca dos itens sagrados e este é o plot principal.
Já no combate propriamente falando, não foge muito do que conhecemos do gênero. Você leva sua tropa para o ataque e tem as divisões de habilidades e magias, dependendo do soldado ou monstro que utiliza. O único diferencial é que nenhum dos seus comandantes morre de fato. Caso seja derrotado, eles fogem enquanto a nação inimiga domina sua área. Apenas os monstros têm morte permanente. E eles morrem direto, são poucos os combates que você não perderá ao menos um deles. Alguns você treina desde o início do jogo, outros você acabou de invocar.
A parte legal é que, quando você vence o combate, os comandantes inimigos também fogem e muitas vezes eles deixam os monstros deles para trás. Em algumas vezes são bichos fortes, então é um prêmio que vale a pena quando você perde completamente seus sentimentos e percebe que todos morrerão mais cedo ou mais tarde. Triste, mas sendo sincero, não se apegue a nada não em Brigandine: The Legend of Runersia. Digo isso depois de perder um esquadrão inteiro de monstros no combate de hoje. E sim, tinha favoritos. Não me julgue.
Um clássico renovado
Para quem não sabe, este jogo faz parte de uma franquia que foi iniciada no primeiro PlayStation, ganhou algumas versões diferentes na mesma plataforma e depois sumiu do mapa. Não que tenha feito muito barulho na época, porém conquistou uma boa legião de fãs e até hoje continua aclamado entre seu público. Essa sequência não só traz uma nova abordagem nessa geração quanto faz jus ao modelo qual foi inspirado do passado. Todas as mecânicas continuam lá, mesmo vinte anos depois. Porém, soa tão renovado quanto clássico.
A mixagem de som contém algumas falhas, porém nada que afete seu jogo. As vozes japonesas que dublam estão ótimas, porém vai te irritar os sons genéricos que os monstros fazem enquanto batem, apanham e sobem de nível. Juro que me constrangi com o grito de uma sereia quando minha mãe entrou no quarto pedindo pra eu assistir o que quer que estava vendo num volume mais baixo. Sim, ela e meu irmão ouviam um som bem sugestivo vindo da cozinha e saía diretamente de uma criatura do game. Estamos em pleno Século XXI e em plataformas que suportam muito mais do que as empresas tiveram colocando, vamos ser sinceros que deixar isso assim é desleixo.
Brigandine: The Legend of Runersia é um RPG tático digno de você ter em sua coleção, trazendo um game tão desafiador quanto Fire Emblem: Three Houses, por exemplo. Apesar de não ter o mesmo peso de enredo e de importância dos personagens, eles compensam com bastante combates e formas de se explorar a sua dominação continental em busca dos itens que dão nome ao jogo.
Altamente recomendável para os apaixonados pelo gênero, deixo a ressalva que caso seja a sua estreia por aqui talvez esse não se aplique tanto aos gamers casuais e que não tem tanto conhecimento no estilo. Esse desafio todo é um convite para quem tem experiência e deseja ser testado num ambiente onde cada movimento importará, seja antes, durante ou depois do confronto.