ATENÇÃO: Este artigo é de opinião exclusiva do colunista Alexandre Taú.
O Gamerview não compartilha nem apóia necessariamente esta opinião.
OK, agora que falamos isso, podemos começar… Ao contrário do que muita gente é levado a pensar, pirataria não é um crime per se. De acordo com o Título III do Código Penal Brasileiro (Dos Crimes Contra a Propriedade Imaterial, artigo 184, que trata da violação dos direitos de autor e os que lhe são conexos), apenas a pirataria com ânimo de lucro direto ou indireto é crime. A pirataria “para uso pessoal” ou “entre amigos” não é crime, nem contravenção.
Agora, isso não significa que a pirataria seja uma coisa boa. Se ninguém paga pelos jogos, quem vai fazê-los? Por mais que eu goste de jogos em Flash, não dá pra jogar só isso… Os jogos de hoje em dia são caros para produzir, e alguém tem de pagar a conta – a menos que não queira jogar nada novo durante a sua vida.
Mas, francamente, isso não significa que tenhamos que pagar para que os produtores nos façam de palhaços. O exemplo que me vem na cabeça agora mesmo é a versão para WiiWare de Tales of Monkey Island. Eu tive a manha de ler todo o tópico no fórum da Telltale Games em que se fala sobre essa versão. A Telltale culpa a falta de potência do Wii (dizem textualmente que “o Wii é menos poderoso que o iPhone”) e a limitação de 40MB para os jogos do WiiWare.
Ok, não vou discutir esses argumentos. Discuto apenas uma coisa: eles por acaso não sabiam disso antes de começar a programar? Porque, OK, aceito que o jogo tenha uma qualidade de som pior por causa da limitação de tamanho. Mas uma queda no framerate para um jogo que é uma aventura Point and Click é algo inaceitável.
Na verdade, até imagino como teria sido o desenvolvimento: fizeram o jogo para PC e depois gastaram umas duas semanas adaptando mal e porcamente pro Wii – substitui as rotinas de acesso ao mouse pelas de acesso ao Wiimote, recompila, dá uma rodadinha e voilá! Aí, claro, ficou ruim e têm que dar desculpas e chamar o usuário do Wii de pouco menos que imbecil por haver comprado um console mais fraco que um celular…
Outro exemplo? Orange Box. Não a versão para Xbox 360, que é uma verdadeira pechincha – comprei o meu usado por 10 euros, teria pago o dobro só por Portal e ainda ia ficar com um sorriso de orelha a orelha. Mas a versão de PlayStation 3 (feita pela Electronic Arts) saiu toda mal-feita, cheia de bugs e queda de framerate. Claro, porque tinha que sair simultaneamente à de Xbox 360 e não tinha tempo pra testar. Então toca fazer os compradores de beta-testers e abrir um tópico no fórum da Valve perguntando quais são os problemas pra soltar um patch sabe lá Deus quando… E quem não liga o PS3 na internet pra baixar o patch, faz o quê?
A Valve também fez os usuários de palhaços com a versão original do Orange Box pra PC. Colocou no pacote dois jogos já lançados anteriormente (Half-Life 2 e HL2 Ep. 1) junto com três inéditos (HL2 Ep. 2, Team Fortress 2 e Portal) que não podiam ser comprados separadamente. Ou seja, quem já tinha os dois primeiros tinha de pagar de novo por eles se quisesse os jogos novos! Muuuito tempo depois, disponibilizou os jogos separadamente – mas claro, um monte de gente pagou por cinco jogos quando queria apenas três.
Além disso, tem os DLC’s. Sim, tem DLC’s muito legais (Rock Band), e atualizações que melhoram a experiência de jogo (Burnout Paradise). Mas tem também os DLC’s tipo os de Beautiful Katamari, que já estão disponíveis no disco. Ou seja, a Namco fez todo mundo pagar para poder jogar coisas que eles já tinham comprado (e que conste que eu tenho Beautiful Katamari original, mas só comprei porque achei novo por cinco euros no hipermercado.)
Sim, a pirataria é muito ruim para as softhouses, os fabricantes, os lojistas e todo mundo. Mas eu não tenho vocação pra trabalhar no circo. Se me tratam bem, com respeito e fazem jogos bons, eu compro, pago e saio da loja satisfeito. Se me tratam bem, com respeito, mas fazem jogos ruins (acontece nas melhores famílias), agradeço pela atenção e deixo o jogo na prateleira – mas volto quando saia algo melhor. Agora, se querem me fazer de palhaço, eu pirateio o jogo, recomendo pra todo mundo que pirateie, empresto a cópia e ainda cuspo na cara.