Ripton, uma cidade pequena do interior dos Estados Unidos, foi totalmente engolida pelas garras de Viktor Zuev, chefe do crime organizado da região. A comunidade sucumbiu e os líderes policiais se renderam aos desejos do criminoso. Seus tentáculos tomaram pela força ou influência todos os maiores negócios da cidade. Nada entra nem sai de Ripton sem o conhecimento dele.
Em Rebel Cops, fazemos parte da resistência. Sendo parte de um grupo rebelde de policiais – tá aí uma boa explicação para o nome do jogo – que busca se organizar e contar com o auxílio da comunidade para contra-atacar. A suave linha tríplice entre os salvadores da comunidade, um grupo de terroristas e uma milícia.
Quem vigia os vigilantes?
Desenvolvido pela Weappy Studios e publicado pela THQ Nordic, Rebel Cops é um spin-off da série This Is The Police – onde a segunda instância já teve review aqui no GamerView feito por este que vos fala, compartilhando o mesmo estilo narrativo e também a jogabilidade de combate estratégico por turno. Desta vez, o foco é menos na gerência e mais na guerrilha.
Ao contrário de This Is The Police, onde a narrativa foca na administração da delegacia e de seu pessoal, e as missões são basicamente um efeito colateral dos acontecimentos, em Rebel Cops, o foco é na paulada. Os momentos de gerência são basicamente para comprar novos equipamentos e distribuí-los entre os policiais, aprimorar as habilidades dos tiras e escolher a próxima missão – geralmente tem uma opção paralela e a da história principal.
Como um grupo de rebeldes, o contingente é consideravelmente limitado, nos obrigando a tomar decisões complicadas sobre o quanto exigir do nosso pessoal. Quem realmente necessita estar em cada missão – cada vez mais desgastado e correndo mais riscos – e quem pode ir descansar em casa, com os pés para cima, assistindo um notícias de jornais locais também comprados por Zuev e ignorando todos os crimes que ocorrem dia-a-dia em Ripton.
Nos preparando para a próxima intervenção, enquanto selecionamos o pessoal a ser disponibilizado e seu inventário, recebemos chamadas da população com os mais variados pedidos. Desde resgatar um parente sequestrado e mantido refém, a encontrar provas de crimes hediondos, até recuperar um relógio perdido em uma aposta com cartas marcadas.
Mas é claro que nem tudo gira em torno de trabalhos voluntários, afinal você não faz parte de uma ONG. E mesmo as ONGs precisam de financiamento, ajude uma ONG na sua cidade! Os pedidos da população podem ser aceitos ou negados, não se pode ter tudo nessa vida, ainda mais quando os inimigos são criminosos sem escrúpulos e muito bem equipados.
Aceitando os pedidos, temos a opção de auxiliar gratuitamente, de cobrar uma quantidade razoável, ou de cobrar o que alguns chamam de preço justo – nesse caso, quem está pagando chama de abusivo, mas aí é uma questão de perspectiva. Essa variação, considerando que você complete a missão, faz com que nosso crédito com a comunidade aumente, melhorando os valores que pagamos nos produtos e também no que recebemos ao vender o que encontramos pelas fases.
A justiça é cega, mas anda armada
É justamente nesse ponto que eu aproveito para entrar em um desvio e discutir um ponto que senti muito necessário: a já citada linha tênue entre ser um revolucionário lutando pela liberdade da comunidade e se tornar um poder paralelo cobrando para defender os interesses de sabe-se lá quem.
Claro que em uma situação onde o crime organizado dominou uma região e o Estado não mais atua buscando atender as necessidades da população, no primeiro momento qualquer ajuda parece bem vinda, desde que remova os criminosos do poder e reinstitua o mínimo de ordem, trazendo a comunidade de volta à sociedade.
De um piscar de olhos para outro, o grupo que antes era um símbolo de esperança mostra a outra face e age mais abertamente como uma milícia. Para enfrentar um grupo criminoso organizado, estando à parte do Estado, como uma força paramilitar, muitos crimes precisarão ser cometidos em nome do que se espera chamar de justiça. Então até onde somos justiceiros enfrentando um grupo criminoso e até onde somos só mais um grupo criminoso enfrentando outro.
Rebel Cops traz esse questionamento, algumas vezes mais veementemente, porém na maioria são nossas ações que mudam a visão da comunidade sobre nosso grupo e acabam por dificultar algumas coisas. Assim sendo, a Weappy Studio demonstra uma posição que considero minimamente razoável e corajosa ao tratar de um assunto delicado, mas sem medo de tomar um lado.
Voltando do desvio que fiz, a vida de enfrentar um sistema corrupto não é nada fácil. Rebel Cops deixa isso bem claro em sua jogabilidade. Os personagens são escassos, frágeis, e não muito hábeis. Quando não é o cansaço que os alcança, é a vicissitude da vida.
De modo a cumprir a sequência de pedidos para cada fase, mesmo sem considerar os pedidos à parte da comunidade, o jogo que se aparentava ser um combate estratégico por turno mostra sua verdadeira face: um puzzle. Claro que cada uma das fases pode ser enfrentada de diversas maneiras bem diferentes, porém, para alcançar todos os objetivos pedidos, eu sempre precisei ser muito metódico e usar e abusar de saves e loads. Tal qual um puzzle que se pode reiniciar até entender cada uma das engrenagens.
Essa situação acaba por ser consideravelmente frustrante para quem não estava esperando por isso ou não está particularmente encantado com o universo de Rebel Cops. Para quem está familiarizado com a série, o nível de exigência não é nenhuma surpresa, porém pode pegar algum desavisado e esmagá-lo facilmente.
Em resumo, Rebel Cops tem uma narrativa muito interessante e extremamente necessária no mundo em que estamos vivendo, onde cada vez mais a população se revolta contra governos corruptos, sem escrúpulos e, acima de tudo, estúpidos – fica a dica, Brasiiiiil. A dificuldade, no caso, é um problema para o público geral, mas não chega a ser um impeditivo. Para quem é fã de This Is The Police, mais do que recomendado. Para quem só bateu o olho e quer ajudar uns tiras rebeldes a derrubar um chefão do crime, vale a tentativa.