Quem aí teve um Super Nintendo? E mesmo quem não teve, aposto que todo mundo pelo menos já deu uma olhadinha num dos maiores clássicos de plataforma 2D (ou seria 2,5D) de todos os tempos. Acertou quem lembrou de Donkey Kong Country e foi exatamente a primeira coisa que me passou na cabeça quando iniciei minha jornada em Jet Kave Adventure.
O jogo, como já citado, é de plataforma 2,5D com cenários e personagens em 3D mas com movimentação e comandos totalmente 2D. Desenvolvido e publicado pelo estúdio polonês 7Levels, Jet Kave Adventure chega ao Nintendo Switch para preencher uma lacuna de quem estava sentindo falta dessa pegada. É notório que o mercado de jogos indies de plataforma está repleto de bons títulos mas, talvez pela simplicidade e custo, a grande maioria aposta num visual pixel art 8 bits. Os poloneses deram um passo além dessa vez, apostaram num 3D muito bonitinho, bem colorido e cativante, ainda que simples.
O jogador assume o papel de Kave, que era até então líder de sua tribo mas é banido do grupo. Em sua jornada solitária por um mundo pré histórico, Kave encontra um jetpack, sim isso mesmo, e é aí que a jornada fica mais divertida. Com mecânicas de pulos duplos, planadas e dashs, o jogo te coloca obstáculos cada vez mais desafiadores pelo caminho.
Alienígenas, jetpacks, dinossauros e um homem das cavernas
A comparação inicial com Donkey Kong Country é inegável, seja pelos cenários bem tropicais, com muitas cachoeiras e vegetações, seja pelo visual 3D/2D, como também pelas animações de Kave que, por ser um homem primitivo, se movimenta de forma bem bestial, quase igual ao nosso amado gorilão da Nintendo. E, nesse gênero, a jogabilidade precisa ser refinada para não causar no jogador a frustração de falhar por um erro que nem sempre é dele. Assim, Donkey Kong é referência, entregando para o jogador exatamente os comandos que ele fez no controle. Mais um acerto de Jet Kave Adventure.
O jogo te apresenta opções de melhorar o equipamento do nosso herói, comprando tacapes mais potentes, mochilas maiores e até, veja só, um compartimento maior de combustível para seu jetpack. Não que isso seja um grande diferencial, mas o jogo até conta com uma historinha que vai se desenrolando durante as suas 36 fases, uma história que parecia ser somente uma busca por redenção e acaba virando uma jornada para salvar o mundo. Kave não é lá muito carismático, mas tem seu charme primitivo e vai te instigar a completar o game e retornar pra sua tribo.
As fases tem uma certa variação, mas não muita. As texturas e cenários se parecem bastante uns com os outros mas, durante a ação frenética, não dá pra ficar reparando muito nisso. As fases tem sempre passagens secretas onde você recolhe itens e o legal é que, ao final de cada fase, você pode ver o que coletou e o que faltou pra você “platinar” aquele estágio.
Desafios num mundo 2.5D super bem feito
A trilha sonora é outro fator que novamente parece inspirado nos clássicos tropicais da Nintendo, em que sons bem primitivos e com jeitão tribal dão o tom da trilha do jogo. Já os efeitos sonoros, esses são um pouco genéricos e até enjoativos. O som de quebrar pedras ou matar insetos gigantes vai ficando cada vez mais sem personalidade conforme você joga, pois ele pouco ou nada muda. Não chega exatamente a atrapalhar a experiência, mas também em nada acrescenta.
O gráfico é bem polido e o visual 2,5D tira até um pouco da cara de indie que estamos acostumados a ver. Não chega a ter a beleza de um Donkey Kong Tropical Freeze, mas ele não deixa muito a desejar não, outro ponto para os desenvolvedores que conseguiram extrair belos gráficos, em um jogo em que o estilo frenético não permite quedas de FPS. Não tive problemas nem no modo portátil nem jogando na TV.
Aquela boa sensação de fazer algo incrível
Voltando a falar da jogabilidade, Jet Kave Adventure tem uma curva de aprendizado extremamente amigável, com novos movimentos sendo ensinados a cada uma das fases iniciais. Nesse comecinho, o jogo segura sua mão e te diz o que fazer e qual manobra é melhor para cada obstáculo. Entretanto, chega um momento em que você deve voar sozinho, e é aí que o jogo brilha. Sabe aquela sensação de falhar, falhar e falhar … pra aí então realizar aquele combo de manobras perfeitas, se pendurando em galhos e dando dashs precisos numa parede ingrime enquanto atira pedras em pterodátilos selvagens? É isso, vencer um obstáculo no jogo te dá uma bela sensação de recompensa. Bem semelhante ao que o jogo Celeste proporciona: é difícil mas não é impossível.
Pra não dizer que são tudo flores, eu senti falta de um modo multiplayer em Jet Kave Adventure. Nada muito complexo, mas seria uma adição muito interessante ao game.
Os fãs mais nostálgicos vão certamente curtir muito Jet Kave Adventure, pois ele traz o que de melhor esse gênero pode trazer: desafio. Tudo isso com uma premissa pra lá de original, afinal, quem imaginaria um homem das cavernas pilotando um jetpack e derrotando vilões que querem destruir o mundo? Aos jogadores mais novos, sem tanto saudosismo, eu ainda acho que vale uma chance, pois o jogo está muito bem acabado e sem aquela coisa de ser difícil só por ser difícil, é desafio com recompensa imediata!