Brut@l me fez reviver a infância, da época que jogava um boardgame chamado HeroQuest. Eu amava reunir a turminha da rua e desbravar as novas aventuras do mestre. E logo de cara o jogo já me cativou por isso, pois ele te força a utilizar cada elemento, arma ou ajuda possível dentro do jogo. Mas não por muito tempo.
O game claramente abusa em sua homenagem aos jogos antigos de RPG no estilo ASCII, principalmente no Rogue, que tem o estilo roguelikes, que criam os calabouços aleatoriamente em tempo real e com morte permanente. Morte que em muitos momentos te deixa inconformado com a maneira ocorrida. Imagine você estar em um ritmo rápido de exploração do calabouço e, ao abrir a porta, o chão a baixo desmorona e tudo o que você consegue fazer é olhar a tela de fim de jogo, totalmente frustrado – com raiva, não do jogo, mas de si mesmo pela displicência. E é nisso que o jogo te pune, e muito. Não adianta sair explorando a todo vapor, pois você cairá em armadilhas, será enganado ou encurralado.
Quebre tudo!
Tudo começa ao escolher uma das quatro classes disponíveis (Mago, Arqueiro, Amazona e Guerreiro), todas clássicas do gênero. Mas independente da sua escolha, chegando à metade do game (são 26 fases ao total) todas as classes ficarão praticamente iguais. A evolução de certas habilidades são mais rápidas para cada classe, mas todas compartilham as mesmas habilidades da árvore. Sendo assim, fica indiferente a sua escolha inicial.
No cenário, temos muitos objetos destrutíveis que lhe concedem XP. É comum perder muito tempo destruindo tudo que é possível até que consiga criar uma arma. Em todo calabouço encontramos um altar de oferenda, onde você obtêm proteção, HP, vida extra e muitos outros benefícios. Tudo que precisamos fazer é oferecer uma certa quantia em ouro aos Deuses. Mas cuidado, caso não seja uma quantia de agrado, o altar será destruído e você perderá o ouro à toa. Minha dica é: junte todo o ouro até explorar todo o calabouço, depois volte ao altar ofertando todo o ouro que possui.
Tudo em Brut@l é baseado na tabela ASCII. Até mesmo na criação de novas armas precisamos encontrar letras no calabouço que, juntando, temos os ingredientes para criá-las. Mas para isso será necessário encontrar o livro de receita para a fabricação. Existem algumas letras coloridas que servem para encantar a arma com os elementos de fogo, gelo e veneno. Também podemos criar poções para auxiliar com ganho de HP, dobro de XP, proteção, veneno e outras. O mais interessante é que você tem duas maneiras de descobrir o efeito após criá-las: bebendo ou jogando no inimigo. Como sou curioso eu sempre bebia, geralmente causando minha morte. As poções não têm seu efeito fixo, pois a cada novo jogo o efeito é alterado. Eu descobri isso quando tomei uma poção azul pela primeira vez, ganhando bônus de XP, e ao tomar em outro momento ( já prevendo o bônus anterior) eu fui envenenado. Morte ao meu Mago level 12 , com 2 horas de exploração… O jogo recomeça com personagem level 1 e sem armamento ou armaduras. Prometi que não voltaria a jogar, mas falhei miseravelmente na promessa.
Cadê a narrativa?
Como já dito, o jogo começa na escolha de quatro diferentes classes. Após isso, é mostrado comandos do jogo e batalha e caímos no calabouço para começarmos a exploração. Não tem narrativa, história ou nenhum direcionamento sobre o que diabos você faz ali. Ok, o jogo é direto em seu objetivo: sobreviva o quanto der e mate o chefe. Mas ao menos uma introdução no começo, algo simples, que contribuísse à batalha final – que eu amei, responsável por uma nota melhor ao jogo – seria muito mais agradável ou no mínimo descente do que apenas explorar e matar (ou, em muitos casos, FUJIR!).
Contudo ainda sim podemos utilizar nossa imaginação e criar nossa narrativa linear, nomeando o personagem, ao invés de Mago ou Guerreiro. No meu caso que joguei de Mago, imaginei jogando com o Gandalf e transformei a jogatina em belos momentos nostálgicos dos meus tempos de D&D e HeroQuest.
Desafiador, punitivo e brut@l
A jogabilidade e combate de Brut@l são bastante simples: aperte o botão até matar o inimigo, esquive ou bloqueie e continue a bater e, se precisar, use o golpe especial (eu raramente usava). Isso funciona quando há poucos inimigos. E é justamente quando temos muitos inimigos na tela que o problema do combate surge. Quando há muitos, o jogo não te deixa ter uma mira exata para qual monstro deseja matar. Muitas vezes somos obrigados a correr e atacar, enfrentando um por um, o que nem sempre funciona. Facilmente os monstros nos cercam e não tem como bloquear ou esquivar de todos os golpes, principalmente dos ataques a distância. Aliás, esquiva pode lhe render uma escorregada direto pro poço de lava ou veneno. Minha estratégia foi basicamente entrar na sala, chamar a atenção do inimigo e derrotá-lo. Funcionou, mas consumiu mais tempo e paciência do que eu desejava.
Para qualquer batalha de chefe, não há realmente o que falar. Certos inimigos são impermeáveis à maioria de seus ataques e derrubá-los vai exigir muita paciência. O gameplay geral pode não parecer excessivamente difícil, mas a mobilidade limitada e a câmera muitas vezes atrapalham.
O que mais gostei no gameplay foi a utilização dos elementos naturais. Precisamos utilizá-los de muitas maneiras, seja pra facilitar o combate, abrir baús ou portas. No começo do jogo temos à nossa disposição uma tocha apagada, e só entendemos a utilidade quando precisamos matar esqueletos com ela, pois são mortais ao fogo. E assim é o jogo todo, utilizando as armas certas em momentos certos. Depois que criamos armas melhores, o jogo passa a ser bem mais fácil. Você fica praticamente imortal, principalmente ao pegar a espada de duas mãos. É só girar e morte aos pobres coitados, ficando até em segundo plano a dificuldade do combate. O único desafio que lhe resta são os do cenário. O jogo não tem uma dificuldade progressiva, é linear. Quando notei isso, perdi um pouco do entusiasmo comparado ao começo, pois não era mais necessário a exploração ou a utilidade de outras armas para combater os inimigos.
Eu adoro ser desafiado. Se alguém me falar que não consigo algo, eu vou insistir e provar que eu posso. Esse jogo te dá um tapa na cara e fala que você não vai conseguir. Frustração é o principal sentimento ao jogar Brut@l, com mortes tão bestas e tão rápidas que vão fazer você querer desistir. Mas eu sempre voltava. Pra dizer a verdade, se não fosse a minha teimosia, não teria motivos para continuar jogando por tantas horas (fechei com umas 15 horas). Frustração à parte, eu queria me provar, algo que por si só já valeu toda a experiência. Agora se você não quer passar raiva, sugiro arrumar um parceiro para jogar em co-op. Pelo menos assim você terá alguém pra culpar pela sua morte.
Prós:
🔺 Bastante desafiador
🔺 Audiovisual encantador
🔺 Boa utilização dos elementos do jogo
🔺 Editor completo para criar calabouços
🔺 Final empolgante
Contras:
🔻 Ausência de narrativa
🔻 Combate problemático
🔻 Alguns bugs com inimigos
🔻 Classes sem diferenças impactantes
Ficha Técnica:
Lançamento: 09/08/16
Desenvolvedora: Stormcloud Games
Distribuidora: Stormcloud Games
Plataformas: PS4, PC
Testado no: PC