Enquanto muitos jogos possuem gráficos realistas cheios de detalhes que ocupam um espaço enorme nos HDs dos videogames, o estúdio brasileiro Joymasher nos presenteia com Blazing Chrome, um jogo que resgata a era dos jogos arcade de 16-bit trazendo gráficos em pixel art cheios de detalhes incríveis. Produzido com fortes inspirações em grandes sucessos como Contra e Metal Slug, esse jogo é uma homenagem a este tempo que para muitos é considerado a era de ouro dos videogames.
Blazing Chrome é um jogo de ação e plataforma ao melhor estilo run and gun, onde suas armas não tem descanso e você jamais fica parado, já que os inimigos não param de surgir e o tiroteio é constante. Para acompanhar esse clima agitado e desafiador, as fases possuem músicas excelentes que deixam a experiência extremamente viciante, daquelas que você passa horas jogando sem ao menos perceber.
Enfrentando um exército de máquinas
As máquinas comandadas pela inteligência artificial dominaram o mundo, exterminando muitos humanos. Os poucos que restaram mantêm-se escondidos na esperança de que um dia poderão voltar a viver em paz, depositando sua fé na resistência que tenta deter essas máquinas. Mavra e Doyle (um robô convertido) sobrevivem durante uma missão suicida, onde muitos membros padecem. Agora a dupla encara a responsabilidade de ser a última esperança da humanidade. Para aquecer os jogadores antes do lançamento, a Joymasher divulgou uma HQ que dá uma prévia de como Mavra e Doyle chegam ao início do jogo. Esse conteúdo transmídia é muito interessante, pois além de incentivar os jogadores a conhecerem outros meios de diversão, expandem as possibilidades de haver novos conteúdos para a história.
O game conta com três modos sendo que, para desbloquear dois deles, será necessário finalizar as fases em qualquer uma das dificuldades. No modo Arcade temos apenas 6 missões para cumprir e, embora as fases tenham um nível de dificuldade elevado e o jogo tenha sido criado à moda antiga (quando TUDO era curto mesmo) pode ser que dure muito pouco, pois na dificuldade Normal é possível concluir o game em menos de 4 horas se você for um jogador mediano. Proposital ou não, poderiam haver mais fases.
Por mais que sejam poucas fases, felizmente todas elas são divertidas e bastante desafiadoras do início ao fim. O level design tenta trapacear o jogador ressuscitando inimigos em cantos inesperados, fazendo você perder vidas de bobeira. Mas calma, isso não é ruim, pois te obriga a conhecer a fase e praticar seu combate para se tornar um verdadeiro exterminador. E mesmo que você memorize de onde estão vindo os inimigos, sempre haverá alguns que você não vai lembrar devido a extensão das fases.
O gameplay de Blazing Chrome funciona redondinho mantendo o aspecto antigo. Desta forma as movimentações podem parecer pouco intuitiva, mas é assim que elas devem ser e funcionam bem. A única exceção fica por conta de um trecho à lá Space Harrier que não explica a possibilidade de travar a mira. E quando se descobre isso, basta mirar no meio e só se preocupar em desviar das coisas até chegar no chefe. É o trecho mais fácel de todo o game, infelizmente. Talvez funcionaria melhor se o protagonista corresse pelo túnel e tivesse a mira livre, como em Wild Guns.
Você encontrará também diversas armas pelo cenário, todas elas identificadas com a primeira letra e bem variadas, incluindo um drone de tiro que te acompanha. Algumas fases também possuem veículos, onde pulamos buracos e barreiras como em Battletoads e usamos robôs para eliminar monstrengos, como em Metal Slug. Com utilidades e velocidades diferentes, ambos proporcionam diversão e nostalgia sem limites.
Expandindo a resistência de Blazing Chrome
As fases podem ser extremamente desafiadoras, mas todas elas possuem trechos de checkpoint e uma hora você gloriosamente chegará ao final com aquele gostinho de quero mais. Após a primeira conclusão você desbloqueia dois modos extras. Mirror apresenta as fases da campanha no sentido contrário, da direita para a esquerda. Pode parecer simples, mas é o suficiente para fazer os jogadores esquecerem de onde surgem os inimigos, proporcionando um novo desafio. Já o Boss Rush coloca você contra todos os chefões e o cronômetro, com checkpoint entre eles caso perder todas as vidas (e você irá, pode acreditar). E aí, vai encarar?
Os desbloqueáveis também reservam Raijin e Suhaila, dois novos personagens que mudam completamente a forma de jogar. Ambos possuem equipamentos diferentes, onde um carrega uma espada e a outra um braço cibernético. Esses equipamentos proporcionam combate um pouco mais corporal do que tiroteios, além de possuírem habilidades que aumentam sua velocidade.
Na campanha, quando você termina uma fase, não poderá rejogá-la. As fases concluídas ficam com um X marcado no mapa, mantendo sua pontuação em cada uma. O fato de não poder refazê-las é uma decisão de design para manter a pontuação total e criar uma competição de placar entre os jogadores online. Ainda assim, poderia haver uma opção de free run das fases liberadas, no menu principal, para treinar sem se preocupar com pontuação.
Jogar sozinho é interessante, pois você curte o jogo, domina a fase, estuda os chefões e se concentra no combate. Agora jogar cooperativo é ainda melhor, com situações imprevisíveis rolando a todo momento. Você até pode tentar combinar ataques para concluir a fase com aquela maestria, mas não tem jeito: uma hora você ou seu amigo podem falhar e esses serão momentos de muita euforia, raiva e risadas vendo os motivos bobos de suas mortes ou uma genuína comemoração quando ambos conseguem destroçar um chefão.
Além de proporcionar todo esse misto de raiva e alegria, assim como nos jogos antigos, Blazing Chrome também faz referências e easter eggs em vários trechos das fases: tem alienígenas semelhantes às fases finais de Metal Slug 2; cartazes com o rosto do Tcheco, personagem de um game brasileiro; um robô afogado na areia que remete ao Cyrax atolado no deserto da Jade em Mortal Kombat 3, entre muitas outras representações sutis que requerem maior atenção.
Toda essa aventura e seu visual retrô com o belo parallax, cheios de camadas ao fundo, é acompanhada de uma trilha sonora maravilhosa do início ao fim. As músicas foram produzidas para acompanhar o estilo do game e é como se realmente estivéssemos torrando fichas em um lançamento de fliperama ou alugando um novo cartucho do SNES ou Mega Drive.
Durante a análise ocorreram alguns pequenos bugs, os quais prontamente reportamos para a Joymasher. Felizmente, nenhum deles influenciou diretamente na dificuldade ou estragou a experiência.
Blazing Chrome é um indie brasileiro que, além de prestar homenagem à franquia Contra e os outros jogos antigos, também homenageia os jogadores que viveram essa época de ouro dos videogames. Os que curtiram tais games nos emuladores também contam, é claro. Jogar esta obra é como viajar no tempo e curtir o melhor do gênero, criado cirurgicamente para agradar tanto os jogadores mais experientes como os casuais. Só ter um pouquinho de paciência com a dificuldade.