Nioh é a prova de que o ditado “nada se cria, tudo se copia” pode falhar. A Team Ninja conseguiu desconstruir o estilo da série Souls, criada por Hidetaka Miyazaki, e transformar o que poderia ser um filme japonês em uma experiência interativa e desafiadora com visuais belíssimos e uma história interessante.
Prepare-se para um novo título obrigatório para quem deseja ir além do que os animês e doramas oferecem ao público ocidental, aproveitando mais sobre essa cultura tão rica, ou apenas gosta de um jogo desafiador e que vai testar sua paciência e habilidade.
Nasce um samurai hollywoodiano
Não foi à toa que Nioh nasceu de um antigo roteiro perdido para um filme de Akira Kurosawa, afinal é fácil perceber que de lá vieram as suas principais inspirações. O estilo chanbara do cineasta japonês constrói um estilo de samurai para o cinema. Com muitas lutas de espadas ferozes, além da violência e certo erotismo, busca na fotografia para suavizar a agressividade contrapondo às belas paisagens que surgem como belíssimas imagens prontas para serem emolduradas.
O visual do jogo consegue ser belo e aterrorizante ao mesmo tempo, numa dualidade que intriga o jogador a observar a paisagem ao mesmo tempo em que sente medo do que encontrará atrás de algumas pedras ou o que se esconde entre os bambuzais. Todo detalhe, do vestuário e armaduras à preocupação de representar cada Youkai e Oni de maneira particular, seja humano ou mitológico, está presente para enriquecer e fazer o que Kurosawa sabia fazer de melhor: trabalhar visualmente sentimentos com as nuances do preto, branco e iluminação.
As batalhas, em meio ao cenário, são um deleite a parte. Longe do frenesi criado pela ameaça dos inimigos comuns, a cada boss ou personalidade histórica que você enfrenta, tudo é recompensador ao final da batalha: o ambiente, as condições climáticas, o movimentar dos personagens, a interação com o jogador por meio de falas. Tudo de maneira muito cinematográfica e agradável, com uma excelente trilha sonora para acompanhar, tudo para conquistá-lo e manter a sua vontade de aprender como vencer cada um dos desafios, mesmo após morrer diversas vezes.
Uma sopa de letri… kanjis!
Por mais que a From Software tenha criado um novo gênero com Dark Souls, Nioh tem muitas características próprias e se aproveita do sucesso de outros jogos já consolidados no mercado para construir uma experiência única.
Claro que Dark Souls é sua principal inspiração, porém apenas quando pensamos em level design e o sistema de reaver ou perder o XP obtido em jogo ao retorno até o local em que você morreu anteriormente. No entanto Nioh consegue inovar em vários dos seus principais pontos positivos do jogo: combate com três opções (baixa, média e alta) ao segurar um dos cinco tipos de armas; árvore de habilidades para sua arma e personagem; sua energia espiritual (Ki) ao invés de stamina; Espíritos Guardiões como especial.
Nioh também busca em Diablo o loot aleatório de itens, retorna às origens da Team Ninja para usar Ninja Gaiden como sua principal referência para o combate frenético e consegue otimizar o estilo de Assassin’s Creed ao contar histórias baseadas em fatos reais.
Muitas referências, não é mesmo? Todas elas são apenas para ilustrar o quanto a Team Ninja trabalhou para se distanciar de Dark Souls, balanceando até mesmo a dificuldade entre explorar cenários e ao enfrentar inimigos comuns, chefões e personalidades históricas. Tudo com uma curva de aprendizado acessível a todos.
Aula de história interativa
Com praticamente toda a história de Nioh explicada no artigo que publicamos, pouco nos resta para comentar sem apelar para os spoilers. A nossa surpresa não foi ter acertado sobre os rumores da jornada de William Adams, um navegador inglês e um dos primeiros ocidentais a conseguir entrar no Japão, mas sim ver a mistura de mitologias para explicar a interferência na histórica Batalha de Sekigahara para o encerramento do período Sengoku e o início do período Edo.
A direção criativa de Nioh, encabeçada por Fumihiko Yasuda, concentrou na pedra mágica, conhecida como Amrita, para desenvolver a história e conseguiu buscar na lenda da Pedra Filosofal os meios para conectar a Inglaterra ao Japão. Criou o Homem Serpente, vilão e também conhecido como Edward Kelley, figura histórica famosa por seus estudos sobre ocultismo e magia, para ser o responsável por atravessar o mundo para se aproveitar da guerra civil japonesa e coletar o máximo de Amrita capaz de levar os britânicos à vitória contra a armada espanhola.
Durante o jogo visitamos as principais localidades japonesas defendidas pelos Daimyos que contribuíram diretamente para o resultado histórico já conhecido, nos dando a chance de enfrentar alguns dos principais samurais e conhecendo as localidades das grandes batalhas que se desenrolam desde a época de Oda Nobunaga.
A surpresa fica por conta da interferência da mitologia estrangeira para unir ocidente e o oriente, substituindo o real papel de Anjin como conselheiro do imperador pelo guerreiro de cabelos dourados capaz de enxergar os youkais e enfrentar os oni. Sem contar a oportunidade de interferirmos nos conflitos entre os clãs, dando a chance ao jogador de participar dessa guerra ao se filiar a um deles e enfrentar outros gamers no modo online, durante a exploração dos cenários.
買いましょうか。Vamos comprar?
Valeu a espera por mais de uma década para ter algo único e que proporciona conhecimento enquanto entretém os jogadores.
Mais do que um hack ‘n’ slash com um “quê” da série Souls, Nioh surge como uma das melhores opções desde Bloodborne para você enfrentar as mais de 70h de jogabilidade por toda a extensão do Japão feudal e curtir um jogo desafiador que nos recompensa a cada inimigo derrotado, seja online ou no modo história, e favorece o fator replay a cada cenário finalizado ou chefão derrotado.