Em um gênero reinado pelo encanador bigodudo da Nintendo e sua turma, só um popular ser animalesco é capaz de competir pelo pódio. Bom, há o Crash, então dois. Sonic, o veloz ouriço azul, já fez suas muitas passagens pelos games de corrida com karts, da última vez tomando todos de surpresa com Sonic All Stars Racing Transformed. Agora, ele volta com Team Sonic Racing.
Novamente pelas mãos da mesma desenvolvedora de Transformed, a Sumo Digital, o universo de Sonic agora ganha um game de corrida com foco maior no trabalho em equipe e estratégia. Os sistemas implementados nesta edição acrescentam novos temperos ao beabá do karting que devem, inclusive, agradar novos fãs. Mas será que tudo funciona?
Necessidade de velocidade
Os jogadores vão a um título como Team Sonic Racing com a mesma expectativa com que se direcionam a qualquer jogo estrelado pelo ouriço: a sensação de velocidade. Para providenciar isso, a Sumo, que foi responsável também pelo recente Crackdown 3, priorizou a entrega de uma experiência fluida de corrida, mirando na taxa de quadros de 60 fps.
Por mais que essa taxa caia com alguma frequência dependendo da pista, a sensação não chega a ser tão comprometida, e os detalhes espalhados pelos percursos são sempre uma graça. Há sete mundos diferentes, cada um com três pistas distintas, e todos contam com um detalhamento de impressionar até mesmo algumas das pistas de Mario Kart 8.
A disposição destas pistas no modo Team Adventure, a dita campanha, às vezes não escapa de uma certa repetitividade, já que há muitos eventos para se cumprir. Mas é sempre estimulante essa sensação de querer ver um novo percurso e aprender suas dinâmicas específicas, mesmo que esse aprendizado exija muita prática – e, portanto, muitas falhas – e que a história ligando cada um deles seja tão dispensável.
Alguns mapas são melhores que outros, ainda assim. Sky Road, Boo’s House e Clockwork Pyramid são algumas das mais divertidas pistas justamente por contarem com tantos corta-caminhos e obstáculos dinâmicos nos cenários. A maior consistência entre todas as pistas, no caso, é a qualidade das músicas que as acompanham, sempre muito específicas e cativantes – Lost Palace é pessoalmente minha favorita.
O diferencial de Team Sonic Racing em relação aos precursores está, como dito antes, no trabalho em equipe. Indo muito além do que se viu em um Mario Kart: Double Dash, o sucesso e desempenho do time vêm sempre em primeiro lugar, mesmo quando se está correndo sem parar. Às vezes, terminar uma corrida em primeiro lugar não será o bastante se seus companheiros obtiverem colocações ruins.
Unidos, jamais serão vencidos
Entram uma série de sistemas por conta dessa prioridade. As principais estão relacionadas com o que se conhece em outros games de corrida como “drafting”, ou seja, os carros deixam uma trilha de corrente de ar que pode ser aproveitada para ganhar velocidade. Aqui, essa corrente vale apenas entre os membros de uma mesma equipe, e o jogador deve sempre fazer drifts e outros truques para manter a velocidade e ajudar os amigos a manterem boas posições.
Dentre as mecânicas novas, esta é facilmente a mais funcional e divertida. Manter-se na trilha de ar deixada por um companheiro de equipe permite não só que se ganhe aceleração, como também o uso de um efeito estilingue que cresce conforme a diferença de velocidade entre um membro e outro, atirando-o para a frente. Realizar um drift ao lado de um colega lento também o impulsiona para a frente.
De forma menos inédita, os itens ofensivos e defensivos coletados ao longo da corrida, chamados de Wisps, podem então ser trocados entre os membros do time. Você pode tanto oferecer quanto receber em horas oportunas, e além disso, os itens coletados são armazenados ao invés de substituídos, então não há problema em aceitar quantas wisps quiser.
Todas as ações feitas em equipe contribuem para uma espécie de medidor especial, que quando preenchido dá acesso ao Team Ultimate, tornando seu trio de corredores hipervelozes e invencíveis por um intervalo curto de tempo – algo muito, mas muito útil próximo ao término da corrida. É uma pena que, entre os diferentes times, o efeito deste Ultimate não seja distinto, variando apenas na faixa musical que o acompanha.
Uma mecânica que incentiva o replay e a experimentação está na existência de três classes diferentes de corredores: speed (velocidade), force (força) e technique (técnica). Cada uma delas tem vantagens e desvantagens, como despistar projéteis, quebrar obstáculos e andar sobre solo mais áspero, assim como podem coletar alguns wisps específicos. Porém não senti uma diferença marcante entre elas em um nível mais orgânico e imediato.
Por conta do foco em times, Team Sonic Racing deve ser um título mais divisivo aos fãs de karting tradicional. Aqueles que procuram por uma experiência mais direto ao ponto, sem exigências extras durante o modo campanha, ficarão decepcionados com o fato da história ser exclusivamente jogável com equipes – não é multiplayer, que fique claro. Corridas comuns podem ser jogadas apenas no local play, que permite 1 a 4 jogadores, mas sem uma progressão cativante.
Ouriço no volante…
Os controles, por sua vez, deviam estar à altura do que o modo principal de jogo exige e, de fato, são extremamente responsivos, já que a dinâmica veloz das corridas demanda não só um preparo para o próximo drift em uma curva apertada, como técnicas e peripécias diversas para ganhar boost, desviar de itens inimigos – sinalizados pela HUD na traseira de seu carro – e obstáculos e, por fim, ainda administrar o sucesso de sua equipe com as mecânicas mencionadas acima.
Não há do que reclamar quanto aos controles, porém prevalecem aspectos antiquados dos games de kart que seguram a experiência para baixo. O pior deles é a presença do rubber-banding, ou seja, seus oponentes te alcançam independente de quão veloz você seja. Como a IA já é agressiva o suficiente no uso de wisps contra o jogador, essa técnica não se mostra necessária, sendo apenas uma maneira artificial e injusta de tornar o game mais “desafiador”. Isso irrita principalmente nos Grand Prix.
A dificuldade, inclusive, é extremamente inconsistente entre as diversas atividades que o game oferece. Os modos Team Race e Eggpawn Assault, este que consiste em derrubar um número de bots, por exemplo, parecem muito bem equilibrados e oferecem justamente o que deviam sem exagerar nos desafios. As corridas Daredevil, por outro lado, são absurdamente exigentes, com um limite de tempo que faz até a medalha de prata ser uma meta enlouquecedora, principalmente quando bloqueiam novas pistas.
Outro problema está na funcionalidade dos modos multiplayer, ou melhor, o que consegui testar. Neste momento, consegui apenas entrar em partidas de corridas comuns ranqueadas, mas em nenhuma baseada em equipes, sejam casuais ou ranqueadas. Isso aponta não só o saudosismo dos jogadores com os tempos mais simples como também me faz questionar se a progressão do game tem sido o bastante para segurá-los até o fim da campanha.
Como um aditivo bacana, Team Sonic Racing pelo menos oferece opções de customização variadas para cada veículo, e isso garante um bom motivo a mais para continuar jogando, mesmo que nem todas façam um efeito radical sobre o desempenho nas corridas. Mas até isso conta com um empecilho que, embora não seja o fim do mundo – e nem exija micro-transações reais -, incomoda: a abertura de – muitas – loot boxes. Sério, qual o ponto disso? Ah, vale dizer também que não há localização em PT-BR.
Team Sonic Racing ainda assim é um bom pacote para os fãs de karting, especialmente para aqueles que não contam com um console Nintendo para jogar os títulos Mario Kart. O jogo da Sumo consegue apresentar algo novo ao modelo, enquanto respeita algumas de suas melhores – e piores – tradições. Não diria que é pra correr até as lojas, mas é uma aposta confiável, principalmente considerando seu custo-benefício e variedade de conteúdo.