Nostalgia é um negócio complicado. Como fã do Painkiller da People Can Fly, lançado em 2004, esperava um remake ou algo assim. Porém a Anshar Studios optou por ressuscitar a franquia como um jogo co-op com elementos de roguelike, obviamente mirando na fórmula de jogo como um serviço (com Passe de Temporada). Ou seja, não é um jogo que faça justiça ao título original, que oferece uma campanha solo memorável com chefões gigantescos. Logo, encarei essa reimaginação de mente aberta, sem muitas expectativas.
Pelo menos uma coisa foi mantida: o arsenal extremamente criativo do game original. Fora isso, é tudo diferente. Temos como história de fundo o purgatório, tomado por um exército de demônios liderado por Azazel, o anjo caído. Os Nefilins despertam e passam a conduzir este exército para destruir a Terra. Para impedí-los, uma equipe de campeões assume a missão sagrada de impedir Azazel.

De volta ao purgatório
O arcanjo Metatron instrui o jogador à um rápido tutorial para saber como o gameplay funciona, enquanto foge de uma prisão no purgatório. Você testar o tiro primário e secundário das armas, quebra paredes demarcadas para encontrar recompensas, salva aliados caídos, coleta frascos de suporte (vida, munição, etc), aciona áreas de rituais para obter mais recompensas, e enfrenta horda atrás de hora até concluir a incursão e chegar na hub do game. Painkiller começa bem promissor, mesmo que o tutorial seja com 3 bots te acompanhando.
Na hub você define no arsenal as duas armas que irá usar, faz upgrades nelas, escolhe um dos quatro personagens, acessa o códice para informações detalhadas e define as cartas que irá usar interagindo com a Mesa do Tarô. Tais cartas (44 ao total) ativam vantagens como redução de dano, aumento de vida máxima, tiro mais potente, dobro de ouro ao concluir incursão, etc. É aqui que entra o elemento roguelike, uma vez que você usa a loteria (gastando ouro) para abrir 3 cartas e escolher 1 entre elas, podendo equipar duas cartas para obter seus efeitos passivos. E ao final de cada incursão, seja concluindo ou morrendo, você perde estas cartas.

Os campeões possuem habilidades únicas para usar como vantagem tática. Ink possui restauração de energia em 20%, Roch tem 25 de vida extra, Void tem +10% de dano de arma, e Sol tem 50% de capacidade extra de munição. Tais vantagens ajudam a equilibrar as dificuldades mais altas, principalmente no modo Anjo Renegado – que traz 7 arenas aleatórias e é recomendada somente ao veteranos.
O início do fim
Embora as novas ideias e a execução sejam boas, isso sem perder a identidade de Painkiller (como o estilo gótico e o retorno de inimigos clássicos, por exemplo), o jogo cai no maior problema da atualidade: a concorrência pesada de jogos semelhantes e, sendo justo, melhores. No PC, versão que testei para este review, o número de jogadores online atingiu o pico de 871 no lançamento, segundo o SteamDB. Escrevendo este review, 10 dias depois, este número oscila entre 80 e 90 jogadores online por dia. E isso no mundo todo, heim! Resultado: você joga com bots a maior parte do tempo.

Eu ainda dei sorte, consegui jogar com jogadores reais várias vezes na semana passada, mas atualmente esquece. E por se tratar de um jogo essencialmente cooperativo, que exige estratégia a todo momento, pode ter certeza de que os bots não darão conta de tudo. Perdi a conta de quantas vezes eles me deixaram caído, sem me reviver. Não que a inteligência artificial seja uma porcaria, mas passa longe de ser perfeita. E, claro, não tem coisa mais sem graça do que jogar “sozinho” online.
Com este grande problema, todas as outras qualidades são ofuscadas. Eu definitivamente gostei do visual do jogo, especialmente dos cenários e animações das armas. Você percebe que ouve um certo carinho por parte da Anshar Studios, ainda que você encontre modelos e texturas em baixa qualidade aqui e ali se olhar bem de perto. Mas, de modo geral, a ambientação funciona e os inimigos estão bem feitos, criando uma certa tensão quando estão em grande quantidade e com chefes. E a trilha sonora ficou espetacular, bem ao estilo metal que tanto gostamos em Doom.

Potencial jogado no limbo
É triste ver um FPS tão querido virar algo assim, tão genérico e passageiro. Se tivessem apostado em uma campanha singleplayer, refazendo o game original e adicionando algumas coisas novas, como armas inéditas, eu tenho certeza de que teria agradado muito mais. Mas o que temos é um multiplayer com 3 capítulos (biomas), cada uma com 3 fases e nada mais. Pra piorar, você terá que carregar tanques de sangue inúmeras vezes pelas fases, necessários para abrir uma passagem. Você pega um tanque vazio, mata um monte de inimigos por perto pra enchê-lo de sangue e depois encaixa em um mecanismo. E faz isso de novo com outros tanques, até obter o número exigido. Um verdadeiro pé no saco!
No fim, a versão 2025 de Painkiller irá confundir a atual geração de jogadores, que ouviu de alguém (com seus mais de 30 anos) que Painkiller é muito bom. Só não sabiam que se tratava do jogo antigo, de 2004. O que, por ser antigo e bem datado para os padrões de hoje, também não terá mais apelo. Dito isso, que o desejo de um remake não morra com o tempo.
Prós:
🔺Gameplay com progressão e melhorias no estilo roguelike
🔺O arsenal se baseia no game original, mas traz muitas novidades
🔺Cenários muito bonitos e variados
🔺Excelente trilha sonora com metal
Contras:
🔻Faltou polimento nos detalhes visuais
🔻Enjoa mais rápido do que deveria
🔻Difiícil de encontrar jogadores online para o co-op
Ficha Técnica:
Lançamento: 21/10/25
Desenvolvedora: Anshar Studios
Distribuidora: 3D Realms
Plataformas: PS5, Xbox Series, PC
Testado no: PC


