Review – Trails in the Sky 1st Chapter

Após décadas de pedidos dos fãs, Trails in the Sky 1st Chapter finalmente chegou como um remake completo e um marco gigantesco na história da Nihon Falcom. Este não é apenas uma simples remasterização, mas uma reconstrução total do clássico original de 2004, utilizando a engine Daybreak dos jogos mais atuais. O resultado é uma obra que consegue manter a essência nostálgica do original enquanto apresenta uma experiência visual e jogável totalmente renovada.

A série Trails, conhecida no Japão como Kiseki, representa uma das mais ambiciosas narrativas já criadas nos videogames. Desenvolvida pela Nihon Falcom como parte da franquia The Legend of Heroes, a série está definida no continente fictício de Zemuria e apresenta arcos narrativos interconectados que se estendem através de diferentes nações. O que começou em 2004 com Trails in the Sky evoluiu para uma saga épica de 13 jogos principais que venderam mais de 8 milhões de cópias até 2025. A importância dessa franquia é tanta que Toshihiro Kondo, presidente da Falcom, considera a série Trails como “sua obra de vida”, em uma declaração que reflete a ambição extraordinária do projeto de criar a narrativa mais audaciosa já vista nos jogos eletrônicos.

De Bracers júniores à heróis de Liberl

Trails in the Sky 1st Chapter nos apresenta Estelle Bright, uma jovem determinada e otimista que nunca desiste, e Joshua, seu irmão adotivo misterioso. A história começa quando os dois embarcam em sua jornada para se tornarem Bracers iniciantes, membros de uma prestigiosa guilda de manutenção da paz. O que inicialmente parece uma missão simples para provar seu valor rapidamente evolui para uma aventura repleta de intriga e perigo, quando descobrem uma conspiração que ameaça o coração de sua terra natal, o Reino de Liberl.

A narrativa se desenrola através do desaparecimento misterioso de Cassius Bright, pai de Estelle e renomado Bracer, forçando os protagonistas a embarcarem em uma jornada pelo reino que os levará muito além de suas expectativas iniciais, conseguindo oferecer uma força narrativa que reside em sua abordagem meticulosa na maneira como apresenta e desenvolve seus personagens e construção de mundo.

Estelle Bright se destaca como uma protagonista feminina excepcionalmente bem construída, caracterizada por sua humanidade autêntica e, diferentemente de muitas protagonistas estereotipadas em outros JRPGs, Estelle é apresentada com falhas genuínas. Essa imperfeição é precisamente o que torna a personagem principal cativante e humana, com hobbies como pescar e sua natureza extrovertida, combinados à lenta consciência sobre seus sentimentos por Joshua, criam um arco de desenvolvimento orgânico e envolvente que ressoa com os jogadores em um nível profundamente humano.

Sobre o mundinho de Trails in the Sky 1st Chapter, o Reino de Liberl é uma das menores nações de Zemuria, situada estrategicamente entre os superpoderes Império de Erebonia e República de Calvard, que ganham grande importância em jogos como Trails to Azure, Trails into Reverie e Trails through Daybreak. Apesar de seu tamanho modesto, Liberl consegue manter sua independência através de sua poderosa Guarda Real e sua inovação tecnológica revolucionária com aeronaves, que mudaram completamente o rumo do conflito contra Erebonia. Isso sem contar ser também o lar da Guilda Bracer, uma organização internacional de manutenção da paz independente de laços governamentais.

Uma verdadeira revolução em Trails

O remake de 2025 representa o primeiro lançamento mundial simultâneo na história nesses 44 anos da Falcom, demonstrando a importância estratégica deste projeto. A reconstrução completa em 3D totalmente realizado transforma Liberl de sprites 2D para um mundo tridimensional vibrante e imersivo. A transição entre cidades e as várias estradas que as conectam agora é completamente sem interrupções, com a possibilidade de caminhar da Casa da Família Bright, através da Estrada Elize, até chegar em Rolent sem nenhuma tela de carregamento ou transição. Esta fluidez técnica, combinada com a direção artística refinada, cria uma experiência de imersão sem precedentes na série.

Trails in the Sky 1st Chapter também trouxe minimapa e viagem rápida, modernizando a experiência sem comprometer a sensação de exploração que define a série, além de dublagem completa em inglês e japonês, trazendo os personagens icônicos à vida de uma forma nunca antes experimentada. A direção cinematográfica foi completamente reformulada, com câmeras dinâmicas, animações expressivas e sequências que fazem os jogadores se sentirem genuinamente parte dos momentos emocionais.

As mudanças entre o original e o remake foram cuidadosamente implementadas, com o sistema de combate completamente reformulado, mantendo a essência estratégica do original enquanto incorpora elementos modernos. O remake elimina o sistema de grade do combate original, permitindo movimento livre dentro de uma arena circular, criando possibilidades táticas mais dinâmicas, além de atualizar para as novas gerações.

Um sistema híbrido de combate que combina elementos de ação em tempo real com estratégia baseada em turnos, em que os jogadores podem abordar a maioria dos encontros atacando inimigos para escolher entre Quick Battles dinâmicas ou Command Battles estratégicas. No modo Action, os jogadores podem executar ataques básicos pressionando círculo, ataques poderosos com triângulo, e esquivas que permitem contra-ataques devastadores, que podem atordoar oponentes, quando executadas no tempo correto.

Falando de mecânicas, o sistema de Orbment permanece como o coração da customização de personagens, funcionando similarmente ao sistema de Materia de Final Fantasy VII, em que os jogadores coletam Sep de praticamente todos os encontros, que podem ser transformados em Quartz nas fábricas Orbal, permitindo a criação de Arts, as magias elementais, e o aprimoramento de estatísticas. O sistema de Bracer Points (BP) governa o progresso através de missões únicas espalhadas pelo Reino de Liberl, com limites de tempo rigorosos vinculados a marcos específicos da história, exigindo planejamento estratégico para maximizar recompensas e alcançar o status de Senior Bracer.

A nova direção de arte de Trails in the Sky 1st Chapter conseguiu atingir novos patamares para os padrões da Falcom, trazendo o seu estilo cel-shaded atual com visuais brilhantes e coloridos, que parecem incríveis e numa estética que honra o charme pitoresco do original enquanto abraça a modernidade. A transição dos sprites 2D originais para modelos tridimensionais totalmente animados foi executada com muita fidelidade, mantendo a personalidade visual distintiva de cada personagem. As animações de ataque regulares, Crafts, S-Crafts e sequências cinematográficas demonstram um nível de polimento visual que coloca este remake acima até mesmo de Trails through Daybreak.

O que era bom ficou ainda melhor

A trilha sonora de Trails in the Sky 1st Chapter, composta pela renomada Falcom Sound Team JDK, permanece como um dos elementos mais celebrados da experiência, com remix das composições clássicas utilizando samples modernos para os sintetizadores enquanto preserva a essência melódica que define a identidade sonora da série. Para os mais vidrados, esse remake oferece três arranjos diferentes da trilha sonora com composições clássicas, arranjos Evolution e versões customizadas.

Trails in the Sky 1st Chapter estabelece o novo padrão ouro para remakes de JRPGs, conseguindo a rara conquista de honrar completamente o legado original enquanto justifica plenamente sua existência. Este não é meramente um projeto nostálgico, mas uma reimaginação cuidadosa e respeitosa que demonstra por que a série Trails continua sendo considerada uma das narrativas mais ambiciosas dos videogames.

A Nihon Falcom provou que remakes podem ser mais que simples atualizações visuais, sendo tratados como celebrações definitivas de obras-primas que merecem ser experimentadas por novas gerações. Trails in the Sky 1st Chapter não é apenas um remake, mas sim uma carta de amor e um convite irresistível para embarcar na jornada épica que define Zemuria.