The Plucky Squire, o game de estreia da All Possible Futures, fundada em 2019 por dois veteranos da indústria, é de uma preciosidade sem tamanho. Um game que facilmente irá aquecer o coração dos jogadores com sua história e visual charmoso. Mas antes de descrever minha experiência com essa prévia descolada pela nossa queridíssima Devolver Digital, quero refletir sobre um fato importante…
Já parou pra pensar o quão difícil é escolher um jogo infantil pra jogar acompanhando de crianças nos tempos atuais? Jogos que são acessíveis para menores de 8 anos são raridade há muito tempo, especialmente se tratando de gameplay. Tenha você priminhos, sobrinhos ou é pai/mãe, certamente já passou pela dificuldade da escolha. Exceto pelo mar de opções mobile, muitos deles de qualidade duvidosa e criados apenas pra passar propagandas incessantemente (em troca de sua gratuidade), está realmente difícil de ver bons jogos saindo para o público infantil. Co-op local para 4 jogadores então, nem se fala.
Eu tenho uma filha de 7 anos com quem joguei Sackboy: A Big Adventure no ano passado, quando ela era ainda mais nova. Ela foi super bem e terminamos o game juntos. Depois tentamos outros jogos em co-op e NENHUM funcionou bem com ela até agora. Fall Guys? Ela vive caindo no buraco e mal passa da primeira prova. Rocket League? Adora, mas quem disse que ela consegue fazer gols? Os jogos da franquia LEGO? É tanta coisa acontecendo na tela que ela se perde toda hora nas missões. Até os jogos do Sonic e Mario exigem bastante das crianças. Foi aí que passei o controle pra ela jogar sozinha o Kirby and the Forgotten Land. Uma experiência só pra ela, tendo a minha interferência apenas nos quebra-cabeças que ela não conseguia resolver, e a jogatina está fluindo super bem até o momento.
The Plucky Squire é perfeito para pais e filhos
Por que diabos estou contando tudo isso? Pois bem… The Plucky Squire (“O Escudeiro Valente” no Brasil) é um game para um jogador, que minha filha certamente consegue jogar. Porém em meu teste eu assumi o controle e narrei em voz alta todos os diálogos em texto, como um pai contando história para os filhos. Eu tenho também um filho de 4 anos e ele ficou encantado com o jogo, mesmo sem botar as mãos no controle. Eis que, para eles, ver eu jogando e narrando (com entonações diferentes pra cada personagem) foi uma experiência completamente diferente de ver um desenho animado na tv. Não só pelos traços belíssimos de arte, mas por trazer a mistura dos mundos 2D e 3D de um jeito bastante eficaz no gameplay.
Essa ideia de transitar entre o mundo do livro (2D) e o real (3D) certamente veio de The Legend of Zelda: A Link Between Worlds, do Nintendo 3DS. A inspiração é tão forte que vemos as habilidades do Link replicadas para o herói da história, chamado Pontinho. Você carrega o golpe e gira a espada, pega lâmpadas no lugar de rúpias, possui um coração como medidor de vida, compra upgrades em uma lojinha, etc. Tem semelhanças pra todo lado e, ainda assim, o jogo traz um monte de características únicas. A começar pelo fato de você e todos os habitantes do Reino de Mana viverem em um livro com visão em 2D, com áreas para se movimentar em qualquer direção e outras no estilo plataforma.
Tudo muda quando o Enfezaldo, vilão do game, arruma um jeito de modificar o rumo da história – que sempre termina do mesmo jeito, com a vitória de Pontinho. Uma magia desencadeia portais pelo livro, capaz de fazer Pontinho sair pro mundo real, o quarto de Sam (o criador dessa história toda). É divertido demais explorar o mundo 3D para resolver um quebra-cabeça no mundo 2D, por exemplo. E ainda mais legal navegar por superfícies planas, como papéis, para alcançar áreas impossíveis pela física (ou lógica) do mundo 3D. As possibilidades são imensas!
Vira essa página!
The Plucky Squire irá te surpreender a todo momento, por mais simples que suas mudanças no gameplay possam parecer. Se por um lado temos uma história tranquila, com diálogos leves e bem humorados, por outro lado temos desafios que o farão pensar. Coisas como trocar palavras de frases para modificar o sentido, levar um item do mundo 2D pro 3D e depois voltar, e por aí vai. Inclusive, jogo faz uma homenagem à Punch-Out!! e também flerta com a cultura pop, fazendo referência à Rambo e trazendo um combate por turnos contra uma carta de Magic.
Além de surpreender com a criatividade da transição entre os mundos 2D e 3D, o jogo introduz outro recurso bem interessante de manipulação da história. Pontinho recebe manoplas que permitem virar as páginas do livro quando está fora dele, no mundo 3D. Em determinado momento foi preciso voltar páginas para resolver um quebra-cabeça e assim abrir passagem na página atual. Para um adulto estes desafios não serão problema, mas para as crianças os desafios estarão na medida certa.
Pontinho conta com a ajuda dos seus companheiros Batera e Violeta, que influenciam a história em momentos específicos e também participam do gameplay. O mago descolado Barbaluar dá aquela força como mentor e você interage com muitos outros NPCs cujo os nomes foram devidamente traduzidos para a nossa língua, como Marcoelho e Peixoto. Sim, um coelho e um peixe. Melhor ainda é a dublagem do narrador da história, que rouba a atenção nos momentos importantes da trama.
The Plucky Squire já ganhou minha atenção e falta pouco pra conferir o game completo, que chega em 17 de setembro para PC, PlayStation 5, Nintendo Switch e Xbox Series. Este sim merece demais estar no radar daqueles que amam jogos indies. Ainda mais se você, assim como eu, tiver crianças para acompanhar essa aventura, seja jogando ou só assistindo à uma boa história.