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Em 2017 eu tive a oportunidade de fazer o review de Serial Cleaner, que para minha grata surpresa recebeu sequência agora em setembro pelas mãos da Draw Distance. Se o primeiro jogo tinha muito de Dexter e Breaking Bad, Serial Cleaners chega pela 505 Games para mostrar que evoluiu e construiu sua própria identidade para o visual e gameplay.

De uma experiência boa temos a crescente para uma ótima jornada ainda maior e mais pretensiosa em sua proposta, que entrega com excelência a experiência de sermos não apenas um faxineiro do crime, mas sim quatro personalidades do submundo.

Avante Vingad… Cleaners!

Não à toa Serial Cleaners ganhou um “S” em sua continuação, pois anteriormente acompanhamos apenas a jornada de Bob C. Leaner (pegou a piada?). Agora temos a hacker Vip3r Erin Reed, uma artista chamada Lati Latisha Thomas, e por fim, Hal, também conhecido como Psycho Haldor Boen, um maníaco sedento por sangue. E como saímos de um para quatro personagens?

Serial Cleaners
Tudo começa numa reunião inesperada de quatro faxineiros da máfia

A narrativa construída para esta sequência resgata diversos momentos da vida do Sr. Leaner, mostrando acontecimentos da década de 70, 80 e 90, com continuações de passagens do primeiro jogo. O principal motivo desse resgate são dois: construir uma missão maior e mais importante, em que todos da equipe de faxineiros compartilham seus principais momentos de vida e que os trouxeram até este momento.

O jogo possui uma estrutura dividida em cinco atos em que temos uma lembrança para cada um, acontecimentos atuais envolvendo Bob e sua equipe, além de breves lembranças do protagonista, sua mãe, negócio de família e um um misterioso “chefe”. 

Serial Cleaners
Agora você terá Vip3r (de longe a minha preferida), Lati e Hal para jogar e conhecer a história

Não acredito que esta história reserve momentos reveladores ou plot twists geniais, mas se preocupa em criar várias pequenas histórias agradáveis que montam algo mais importante.

Uma obra noir que deve ser apreciada

Mesmo com uma narrativa boa ao mesmo tempo que se apresenta de maneira simples, o grande trunfo de Serial Cleaners fica por conta da trilha sonora agradabilíssima e um excelente trabalho na direção de arte. Enquanto a música cria uma ambientação com toques noir, ao mesmo tempo em que cria remix com a personalidade de cada personagem, cada fase é um deleite para os ouvidos.

Serial Cleaners
A direção de arte com certeza é um dos pontos mais fortes desse jogo

Vip3r ganha uma trilha mais eletrônica, Lati algo mais urbano, Hal com toques de suspense à la Hitchcock para, por fim, trazer a base mais melancólica com saxofone, piano e um trompete lamuriante, dando o tom à jornada de Bob. Entre um capítulo e outro a música sobe para agraciar aqueles breves momentos de jogabilidade mais tensos em busca dos objetivos de cada fase.

Se o som é algo brilhantemente trabalhado para acompanhar cada personagem e acontecimento, a direção de arte consegue ser ainda melhor e impressionante. Todas as fases possuem filtros que criam um estilo para cada personagem, indo do tech de Vip3r ao gore de Hal, passando pelo grafite de Lati. Seja pela simples caixa de diálogo até os elementos na HUD, os desenvolvedores souberam como criar a atmosfera de cada capítulo.

Serial Cleaners
Vip3r cria as melhores opções de jogabilidade e reforçam o estilo stealth

Como se não bastasse, o estilo de cada personagem também dita o cenário de cada fase: Vip3r em escritórios e fliperamas, Lati na periferia e lojinhas, Hal em bares e estabelecimentos, chegando à Bob, resgatando suas memórias através de gravações em VHS ou até mesmo sob efeito do álcool. Sempre com elementos que engrandecem ainda mais a narrativa e pontuam cada acontecimento.

O marcante visual vetorial do primeiro jogo sai de cena para uma visão isométrica 3D, muito bem detalhada e cheia de estilo, com colagem de imagens e ilustrações numa busca (mesmo que ainda distante) por referenciar o estilo de Homem-Aranha no Aranhaverso.

Mecânicas de dar inveja à Trupe Fantasma

Referenciar Hunter x Hunter, obra de Yoshihiro Togashi, com a Phantom Troupe não é algo gratuito, já que Serial Cleaners herda a mecânica base do seu primeiro jogo. Continuamos utilizando um aspirador de pó para limpar o sangue das cenas de crime que visitamos a cada fase. No lugar de Shizuku Murasaki aqui temos os quatro personagens utilizando esta mecânica como objetivo obrigatório em toda fase, inclusive nas memórias de Bob, sempre escapando dos policiais.

Serial Cleaners
Bob C. Leaner ainda mantém o básico e as fases mais complexas

Fazendo jus ao estilo “stealth” do jogo, precisamos realizar diversas missões sem deixar que a polícia prenda ou mate nossos personagens, dando uma colher de chá de até três “visualizadas”, fazendo com que a agressividade dos inimigos aumente a cada insígnia policial acesa no topo da HUD.

Além de nos esgueirarmos e aspirarmos o sangue, ainda precisamos buscar por provas e desovar os corpos que estão jogados pelo cenário. A diferença é que agora temos provas principais, que exigem ser descartadas em locais indicados, além da possibilidade de arrastar ou carregar os corpos.

No entanto, dependendo do personagem, você poderá embrulhar o morto, para evitar que o sangue continue pingando e atraindo a atenção dos policiais, ou até mesmo cortar em pedaços com a serra elétrica de Hal.

Serial Cleaners
Jogar com Hal é na porradaria e loucura, desmembrando corpos para usar como arma

Enquanto Bob possui o basicão, embrulha, carrega e descarta o corpo, Lati não possui a opção de embrulhar, mas consegue carregar, abusando de sua mobilidade e agilidade, enquanto Vip3r é lenta e consegue apenas arrastar o morto (embrulhado).

Já Hal, além de carregar, tem uma mecânica principal assim como todos os demais. Ele pode desmembrar os mortos para usar seus pedaços como arma ao arremessar contra os policiais, deixando-os desacordados e abrindo possibilidade de serem “descartados” também. Detalhe importante: a brutalidade de Hal (censurada de maneira bem contextualizada) faz com que os policiais desmaiem ao presenciar as cenas de gore gratuitas.

Serial Cleaners
Lati oferece as fases mais breves por conta da sua mobilidade para atravessar objetos e níveis

Outras opções para cumprir os objetivos ficam com Vip3r podendo hackear sistemas para criar distrações e Lati abusa do parkour pela fase, além de distrair os policiais com grafites de “fuck the police”. Ou seja, existe um estilo de jogabilidade para cada personagem, exigindo que você aprenda e conheça como resolver cada cena de crime com este grupo de quatro mecânicas diferentes.

Apenas um corpinho bonito

Tudo parece perfeito em Serial Cleaners, porém a Draw Distance não conseguiu resolver o problema que persiste desde o jogo anterior: a repetição. O looping de chegarmos em uma cena do crime para limpá-la, roubando as principais provas, sumindo com os corpos e limpando todo o sangue, existe da mesma maneira em toda fase.

Serial Cleaners
Conhecemos um pouco mais da história de Bob através das suas lembranças

Infelizmente esta sequência faz com que o que era repetitivo acaba sendo quatro vezes mais repetitivo, afinal temos personagens para desenvolver os cinco capítulos, com ao menos quatro histórias, todas elas com os mesmos objetivos e missões. 

Também acredito que o stealth do jogo precise de refinamento, seja pelo intervalo muito grande que o policial pode ver seu personagem ou até mesmo a IA burra de quem percebe que um corpo sumiu ou foi enrolado, mas não aumenta a agressividade em busca do faxineiro que está atuando na limpeza local.

Ao longo das quase 10 horas de jogo, fica cada vez mais fácil perceber que muito pode ser realizado ainda no começo de cada fase, enquanto os policiais estão chegando e se posicionando. O mesmo vale para as corridas com Lati, as fugas pela ventilação com Vip3r, ou até um braço decepado arremessado pelo Hal. Tudo fica muito fácil para escapar dos policiais, além de que basta alguns segundos escondido para o nível de dificuldade voltar ao normal.

Serial Cleaners
Será que veremos um terceiro jogo dessa franquia? Espero que sim!

Embora entregue um trabalho primoroso no visual, trilha e também na variedade de mecânicas, Serial Cleaners chega repetindo alguns erros. Mesmo acreditando que não são pontos que impactarão a experiência principal proposta pelos desenvolvedores, elas podem limitar a diversão para os jogadores mais exigentes. Quem sabe futuras atualizações possam trazer novos modos de jogo ou níveis de dificuldade para agradar ainda mais quem apostar neste lançamento.